Secretário Humberto Viana: não se faz defesa civil somente com ações de operadores e de técnicos (Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr)
Da Redação
Publicado em 25 de maio de 2011 às 15h35.
Brasília – Minimizar os estragos e prejuízos causados por desastres naturais só é possível com a ajuda da população. Sabendo disso – e da tendência da população de esperar que os desastres aconteçam para, então, se mobilizar – a Secretaria Nacional de Defesa Civil iniciará, na manhã do próximo sábado (28), uma simulação de como as pessoas devem agir em caso de tragédias naturais. As simulações serão feitas em localidades onde é comum a ocorrência desses eventos.
A primeira delas ocorrerá nas comunidades de Vale do Reginaldo, em Maceió (AL); Sargento, em Recife (PE); e no Loteamento Bosque Real, em Salvador (BA). Mas a Defesa Civil não pretende limitar as ações às localidades de risco.
“Com o fenômeno da mudança climática e, consequentemente a isso, com os episódios climáticos que vão acontecer, o melhor caminho é nos prepararmos para enfrentá-los em qualquer lugar do país. Num primeiro momento vamos centrar nossos esforços nas localidades onde esses eventos são recorrentes. Mas como se trata de fenômenos que nem sempre avisam quando e onde vão acontecer, pretendemos expandir as simulações a outras localidades”, disse à Agência Brasil o secretário Nacional da Defesa Civil, coronel Humberto Viana.
O objetivo principal da secretaria é capacitar a comunidade residente para atuar tanto preventivamente, em situações de desastres, como na consolidação de procedimentos e conteúdos “para a criação de um sistema permanente de monitoramento, alerta e alarme”.
De acordo com o coronel Viana, há um grande conjunto de experiências no mundo que ajudaram a formatar a experiência brasileira. “Mas as que mais nos chamaram a atenção foram as experiências japonesas, australianas, canadenses e norte-americanas que, além de terem mais bagagem, trabalham a partir de centros, como será o nosso caso, com o Cenad [Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres]”, explicou.
“Treinar a comunidade é um papel fundamental a ser exercido, e temos de fazer isso usando a educação como ferramenta, já que a cultura brasileira tende a esperar os desastres acontecerem para depois se mobilizar”, disse. “Temos de inverter isso porque não se faz defesa civil somente com ações de operadores e de técnicos. Os três níveis de governo têm de participar, assim como os acadêmicos e a população como um todo”, argumenta.
Tendo por base a experiência em Angra dos Reis, onde pouco mais de 1% da população costuma participar das simulações de acidentes nucleares, o secretário está atento à necessidade de fazer um trabalho de esclarecimento mais eficiente com os cidadãos que residem nessas localidades.
“São necessários muitos treinamentos e muita capacitação. Vamos identificar quem são as lideranças comunitárias para nos ajudar na empreitada. Apesar das dificuldades naturais desse tipo de mobilização, acredito que a comunidade saberá avaliar riscos e nos ajudará”, acrescentou.
Em um primeiro momento da simulação prevista para o dia 28, será emitido um alerta, pelo Cenad, aos órgãos estaduais e municipais de defesa civil, informando da ocorrência de fortes chuvas, com riscos de deslizamentos de terras. Em seguida, as defesas civis locais irão disparar o alarme aos moradores das áreas vulneráveis, via SMS (mensagem de texto para celular), carros de som e líderes comunitários.
O terceiro passo será a evacuação das comunidades, usando rotas de fuga traçadas pelas defesas civis. Os moradores deixarão suas casas em direção a pontos específicos, de onde serão levados, de ônibus, a abrigos. Depois de abrigadas, as pessoas passarão por cadastramento e receberão orientações visando a uma melhor convivência nesses espaços.
“Essas simulações nos darão condições de avaliar o preparo das coordenadorias estaduais e municipais, o grau de envolvimento da população em situações de riscos de desastres e a eficiência dos sistemas de cadastramento”, acrescentou o secretário.
“É claro que o ideal é chegarmos a um índice de óbito zero [nas catástrofes decorrentes de eventos climáticos], mas temos plena clareza de que isso não e possível porque não dá para criar obstáculos para a natureza”, completou.
Viana pretende avançar nos trabalhos até outubro e novembro, “para chegar na época de chuva, em dezembro, com maior capacidade de previsão e em condições de atuar da forma mais eficiente possível”. A ação chegará a cerca de 200 pessoas em cada município.