A lista inclui ainda pedidos para manifestação por escrito do chefe do Ministério Público e a quebra de sigilo telefônico de Cláudiam mulher de Gurgel (Renato Araújo/ABr)
Da Redação
Publicado em 15 de maio de 2012 às 14h56.
Os parlamentares que integram a CPI do Cachoeira farão, nesta terça-feira, uma espécie de força-tarefa para votar em bloco todos os requerimentos de parlamentares que envolvam o Ministério Público. Serão analisados, portanto, os pedidos de convocação do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, e da mulher dele, a subprocuradora Cláudia Sampaio. A lista inclui ainda pedidos para manifestação por escrito do chefe do Ministério Público e a quebra de sigilo telefônico de Cláudia.
A convocação de Gurgel é, na verdade, uma manobra de radicais para comprometer o procurador-geral da República, que defenderá a condenação dos mensaleiros no julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal. O senador Fernando Collor chegou a sugerir, ainda na primeira reunião da CPI, a convocação de Roberto Gurgel. Mas, por decisão do presidente da comissão, senador Vital do Rêgo Filho (PMDB-PB), o requerimento não foi colocado em votação.
O discurso petista ganhou força após o depoimento do delegado da Polícia Federal Raul Alexandre Souza à CPI, há uma semana. Segundo o delegado, as investigações da Operação Vegas, que apurou o esquema de Cachoeira entre 2008 e 2009, foram paralisadas no momento em que se depararam com parlamentares. Eles detêm foro privilegiado e, portanto, só podem ser investigados pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Só que, na ocasião, a subprocuradora-geral da República Cláudia Sampaio, mulher de Gurgel, informou não ter encontrado indícios de envolvimento dos parlamentares para justificar que se levasse adiante as investigações. Com atuação destacada na área criminal, Cláudia foi designada por Gurgel para avaliar os elementos da investigação Vegas.
O procurador-geral da República reagiu. Na seara técnica, disse que não abriu inquérito a fim de permitir a realização da Operação Monte Carlo, que desbaratou o esquema de Cachoeira no início deste ano. No campo político, foi ainda mais incisivo. "O que nós temos são críticas de pessoas que estão morrendo de medo do julgamento do mensalão", afirmou. O discurso foi o mesmo de Cláudia: "Se tivesse arquivado em 2009, a investigação morreria ali e não teria dado em nada", afirmou. "É aquele negócio: aconteceu no momento em que está perto do julgamento do mensalão". Cláudia diz que, se convocada, vai à CPI esclarecer sua participação.
A subprocuradora também disse não estar preocupada com o pedido do senador Sérgio Souza (PMDB-PR) de quebrar seu sigilo telefônico nos últimos três anos. "Ele vai ter uma desagradável surpresa. Nunca conversei com parlamentares no meu telefone. Só falava com meus filhos e meu marido", disse. "Os parlamentares não são burros e sabem que o Ministério Público agiu corretamente", completou.
“Há uma tensão com o MP e eu preciso acabar com isso e retomar a CPI dentro do fato determinado. Vamos inicialmente votar os requerimentos que envolvem o Ministério Público Federal. Quero resolver o problema do MP de forma técnica. Quero acabar com esse tensionamento”, explicou o senador Vital do Rêgo, presidente da comissão.
Ele descartou a hipótese de levar à apreciação hoje pedidos de convocação dos governadores do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), e de Goiás, Marconi Perillo (PSDB). Os nomes do petista e do tucano aparecem nas interceptações telefônicas feitas pela Polícia Federal durante as investigações sobre a amplitude do esquema do contraventor Carlinhos Cachoeira.
A CPI do Cachoeira tentaria ouvir nesta tarde os depoimentos procuradores da República Daniel de Rezende Salgado e Léa Batista de Oliveira, responsáveis pelas investigações da operação Monte Carlo, mas, conforme relato do presidente da comissão, não foi possível agendar a presença dos dois para esta tarde. Eles deverão comparecer à comissão de inquérito na próxima quinta-feira.