Imigrantes caminham no Canal da Mancha: acordo inclui a criação de um centro de comando e controle conjunto na luta contra os traficantes de pessoas (Reuters/ Pascal Rossignol)
Da Redação
Publicado em 20 de agosto de 2015 às 11h03.
França e Grã-Bretanha manifestaram nesta quinta-feira sua determinação comum em lutar contra as redes de passadores que ajudam migrantes e refugiados a cruzar o Canal da Mancha, enquanto toda a União Europeia enfrenta a mais grave crise migratória desde a Segunda Guerra Mundial.
Os ministros do Interior francês e britânico, Bernard Cazeneuve e Theresa May, reunidos em Calais, no norte da França, para onde convergem milhares de refugiados de todas as nacionalidades na esperança de terminar sua longa viagem na Inglaterra, assinaram um acordo para reforçar a sua cooperação.
O acordo inclui a criação de um "centro de comando e controle conjunto" na luta contra os traficantes.
"É preciso que um sinal muito forte seja enviado aqui em Calais de que não se não pode cruzar a fronteira que administramos em comum", declarou Bernard Cazeneuve, que visitou com a sua colega britânica o Eurotúnel, que sofre diariamente com as tentativas de migrantes e refugiados de atravessá-lo.
Apesar de Calais "concentrar apenas uma pequena parte dos fluxos migratórios que chegam na Europa, uma ação vigorosa e coordenada dos nossos dois países é necessária, dada a presença de milhares de pessoas que desejam ganhar o Reino Unido, muitas vezes arriscando a sua vida", indica o acordo.
De nove a 12 pessoas, segundo diversas fontes, morreram nas últimas semanas na região de Calais tentando subir em caminhões ou trens de transporte através do túnel.
Ao mesmo tempo, centenas de migrantes se afogaram no Mediterrâneo ao tentar chegar à costa italiana ou grega.
De acordo com a Frontex, responsável pela organização da cooperação dos países membros, 107.500 migrantes e refugiados chegaram nas fronteiras externas da UE, incluindo 21.000 nas ilhas gregas apenas na semana passada.
A Federação Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho (IFRC) lamentou a "indiferença geral" ante esta crise humanitária e apelou à comunidade internacional a "acordar".
Paris e Londres apelam mais uma vez à União Europeia a abordar a questão da migração de maneira "estrutural e global", distinguindo as pessoas que "fogem da guerra ou que são vítimas de perseguição" e a "imigração econômica ilegal".
Descongestionar Calais
Apesar de as duas situações serem encontradas em Calais, o acordo assinado nesta quinta-feira dá mais ênfase à dissuasão e repressão da imigração ilegal.
O Eurotúnel ganhará um sistema reforçado de vigilância, com a criação de uma "sala de controle integrada" e equipes operando 24 horas por dias para evitar a travessia ilegal.
Em relação à luta contra as redes de tráfico humano, o "centro de comando e controle conjunto", baseado em Calais, "terá como principal tarefa, coletar informações e coordenar as operações no terreno na luta contra as atividades criminosas dos dois lados do Canal da Mancha", afirma o texto do acordo.
No plano humanitário, o acordo prevê "intensificar a vigilância" de migrantes para "identificar as vítimas mais vulneráveis e potenciais vítimas do tráfico", incluindo mulheres e crianças, a fim de proporcionar abrigo e apoio seguro contra "aqueles que procuram explorá-los".
O retorno voluntário para seu país de origem será favorecido, com o estabelecimento de campanhas de informação e programas de ajuda ao regresso.
Quanto às pessoas que pedem asilo (cerca de mil já foram analisados e deixaram Calais, de acordo com o texto), as capacidades de processamento serão aumentadas.
"O governo britânico vai prestar assistência (...) para o estabelecimento de alojamentos localizados a uma distância significativa de Calais", com o objetivo de descongestionar a área onde os migrantes vivem em condições de vida precárias e os traficantes são onipresentes.
A Grã-Bretanha contribuirá com 10 milhões de euros ao longo de dois anos para implementar tais medidas, que dependerão em grande parte da França.
Após a assinatura do acordo, o ministro francês visitará Berlim para se reunir com o seu colega alemão, Thomas de Maizière, que anunciou na quarta-feira que seu país prevê para este ano "até 800.000 requerentes de asilo", um recorde absoluto para este país de 81 milhões de habitantes.