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Da Redação
Publicado em 14 de outubro de 2010 às 14h51.
Em toda a história republicana do Brasil, nunca houve um governo totalmente excluído da mesa diretora da Câmara dos Deputados. O feito inédito coube à gestão de Luiz Inácio Lula da Silva, que chegou a lamentar publicamente na semana passada a eleição de Severino Cavalcanti (PP-PE) e seus colegas, admitindo a inclusão do episódio no rol de grandes erros do governo petista.
Mas, para Rogério Schmitt, analista político da consultoria Tendências, algumas discretas mudanças na articulação política já estão gerando, ainda que lentamente, resultados práticos, especialmente quanto às perspectivas de votação da reforma tributária. "Tudo parece indicar que a paralisia do Legislativo esteja com os seus dias contados."
Schmitt atribui ao trio Aldo Rebelo (ministro da Articulação Política), Paulo Bernardo (Planejamento) e Arlindo Chinaglia (líder do governo na Câmara) essa tênue melhoria na relação com o Congresso, libertando o governo da dependência de medidas provisórias com prazo de tramitação vencido para fazer a Casa trabalhar. A permanência da popularidade de Lula, na casa dos 40% desde setembro do ano passado, também ajuda a arrefecer tensões parlamentares.
Ainda persistem, no entanto, graves problemas. Não há simetria entre as composições partidárias do ministério Lula e da base parlamentar do governo. Ao contrário, solidificou-se um forte desequilíbrio em favor do PT e de partidos satélites como PSB e PC do B. "Essa assimetria deve-se às origens esquerdistas do PT, e não deverá mudar", afirma o cientista político. Ou seja, partidos que também integram a base, como PL, PTB, PMDB e PP permanecem com razões de sobra para insatisfação e eventuais rebeliões.
Somando-se a isso a falta completa de controle sobre a pauta de votações na Câmara dos Deputados e a absoluta falta de coesão no seio dos próprios partidos (o exemplo típico é o PMDB), cedo ou tarde aparecerão situações reais de impasse entre os poderes Executivo e Legislativo.