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Para muitos sírios, a Copa é um breve alívio para a guerra

Depois de 7 anos de guerra, a Copa representa um alívio para as preocupações do acampamento de Ain Issa, próximo a ex-"capital" do EI

O acampamento da cidade de Ain Issa abriga 13 mil pessoas, segundo a ONU (Maxim Shemetov/Reuters)

O acampamento da cidade de Ain Issa abriga 13 mil pessoas, segundo a ONU (Maxim Shemetov/Reuters)

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AFP

Publicado em 19 de junho de 2018 às 10h22.

Em um campo de deslocados no norte da Síria, dezenas de adultos e adolescentes se reúnem para ver as transmissões do Mundial da Rússia em uma grande barraca equipada com projetores.

Desde 14 de junho é o mesmo ritual. Em um acampamento da cidade de Ain Issa, 50 km de Raqa, a ex-"capital" do grupo Estado Islâmico, os torcedores de futebol se reúnem para ver os jogos e fugir do calor.

Depois de sete anos de guerra, o Mundial representa um breve alívio para suas preocupações e o dia a dia no acampamento.

A barraca para as transmissões das partidas foi montada por iniciativa de uma associação de caridade local.

"É uma iniciativa muito boa poder assistir o Mundial em um acampamento. Permite atenuar o mal-estar", afirma Abdullah Fadel al Obeid, um ex-jogador de futebol.

"A gente se diverte acompanhando as partidas. Todo mundo gosta de esporte", acrescenta, o sírio de cerca de 30 anos e que fugiu há mais de um ano de Maskana, subúrbio de Aleppo, quando o regime sírio lançou uma ofensiva contra os jihadistas do EI.

Coisa de infiéis

Abddulah Fadel al Obeid conta como em sua localidade natal os jihadistas prendiam os jogadores alegando que o futebol era uma "tradição própria dos infiéis".

"Graças a Deus, nos livramos disso e podemos ver as partidas em liberdade. Apesar das circunstâncias difíceis, estamos felizes", comenta.

Torcedor da equipe egípcia "Faraós", ele lamenta a derrota do Egito ante o Uruguai (1-0) e a ausência do craque Mohamed Salah, ídolo no mundo árabe. "Eles o estão guardando para a próxima partida", afirma.

O entusiasmo é a única coisa que alegra este acampamento sem decorações esportivas e onde estão abrigados 13.000 deslocados, segundo a ONU.

Na barraca, os filhos se sentam junto aos pais, alguns sobre almofadas, outros em cadeiras improvisadas.

Do lado de fora, Maabad al Mohamad, de 23 anos, comenta que este Mundial acontece em um momento extremamente difícil de sua vida.

O rapaz vive no acampamento há mais de um ano, depois de ter fugido de Raqa, sua cidade natal.

"Sentimos falta de nossos amigos, da animação de vermos as partidas juntos", lamenta.

Maabad se recorda do Mundial do Brasil-2014, que acompanhou em sua cidade. Na ocasião, os membros do EI regularmente faziam batidas nos bares e obrigavam os torcedores de futebol a volta para casa.

"A guerra nos tirou tantas coisas boas, como o esporte", lamenta o torcedor incondicional da seleção brasileira.

Com mais de 350.000 mortos, o conflito sírio começou em 2011 com a repressão de manifestações pacíficas, se tornou cada vez mais complexo com múltiplos atores e potências estrangeiras intervindo militarmente no país.

Milhões de sírios tivem de se exilar.

Tédio total

Abdullah Abdel Baset, 47 anos, é fanático por futebol e está ativamente envolvido na vida esportiva dos jovens do acampamento de deslocados sírios, onde formou várias equipes.

A instalação de um videoprojetor preenche, segundo ele, o vazio e o tédio e permite "esquecer alguns de seus problemas".

Mas o entusiasmo deste ano não é o mesmo dos Mundiais anteriores, lamenta.

"Antes havia um grande entusiasmo, mas agora as pessoas quase não aplaudem, a não ser que se marque um gol", explica.

"A guerra afetou esta geração, privando-a dos esportes por sete anos", acrescenta.

Mas Abdullah conserva um pouco do otimismo para o futuro. "Esperamos ver o próximo Mundial em nossas casas".

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