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Para China, EUA não desativaram 'a bomba da dívida'

Maior detentor de títulos americanos, país reclamou do acordo que impediu o calote

Zhou Xiaochuan, governador do Banco Central chinês (Feng Li/Getty Images)

Zhou Xiaochuan, governador do Banco Central chinês (Feng Li/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 3 de agosto de 2011 às 16h28.

Pequim - A China afirmou nesta quarta-feira que o pacto legislativo aprovado nos Estados Unidos para evitar o default não conseguiu desativar "a bomba da dívida" da maior economia mundial e reiterou sua intenção de reduzir a exposição ao dólar de suas enormes reservas de divisas.

A adoção pelo Congresso americano de um texto que permite evitar um default dos EUA ao menos até 2013 não conseguiu desativar "a bomba da dívida", julgou nesta quarta-feira, duramente, a agência Nova China (Xinhua).

O fracasso em controlar os empréstimos americanos pode afetar "o bem-estar de centenas de milhares de famílias nos Estados Unidos e no exterior", estimou a agência oficial.

Enquanto isso, o governador do Banco Central chinês, Zhou Xiaochuan, anunciou que "as reservas de câmbio na China vão seguir os princípios da diversificação dos investimentos e gestão de riscos", segundo um comunicado publicado pela entidade.

As reservas de divisas da China, as mais importantes do mundo, alcançaram os 3,197 trilhões de dólares no fim de junho, em aumento de 30,3% em um ano, segundo o Banco Central.

A China está preocupada, já que é de longe a principal credora dos Estados Unidos. Em maio, tinha 1,16 trilhão de dólares em bônus do Tesouro americano.

A crise financeira mundial de 2008 reforçou a inquietação da China sobre seus bens e a incentivou a investir mais no euro - por somas não divulgadas, mas julgadas modestas pelos analistas -, em particular na França e na Alemanha.

A margem de ação da China segue, no entanto, limitada, de acordo com especialistas. "Estou convencido de que desejam uma diversificação (de suas reservas), mas isso envolverá apenas as margens", afirmou à AFP Alistair Thornton, analista da IHS Global Insight.

"De fato seria complicado para a China diversificar os custos da compra da dívida americana sem mudar radicalmente todo o seu modelo econômico", explicou.

"Não existe outro mercado com uma liquidez tão importante quanto o dos Estados Unidos", acrescentou para explicar as compras massivas da China da dívida americana.

A China "dispõe de muito poucas opções para investir nos mercados internacionais suas massivas reservas de câmbio", confirmou Yin Zhentao, da Academia de Ciências Sociais.


A declaração muito crítica da Nova China do acordo americano sobre a dívida aparece após comentários muito negativos, na segunda e terça-feira, na imprensa oficial chinesa.

"Mesmo que os Estados Unidos tenham evitado fundamentalmente o default, os problemas de sua dívida soberana não estão resolvidos", havia julgado o Diário do Povo, órgão oficial do Partido Comunista chinês.

A televisão estatal também havia criticado o acordo de última hora entre o presidente Barack Obama e o Congresso. "Trata-se de um espetáculo político que tem mais pompa e circunstância do que substância", considerou.

A agência de classificação financeira chinesa Dagong também rebaixou a nota da dívida soberana americana.

A nota dos EUA passa de "A+" para "A" com perspectiva negativa, indicou a agência, que garantiu ser independente, mas que ainda precisa dar provas de sua credibilidade. Aumentar o teto da dívida pública americana poderá apenas "agravar mais" a crise, estimou a Dagong.

No dia 14 de julho, a Dagong acompanhou de uma perspectiva negativa sua avaliação da dívida soberana dos Estados Unidos, que já havia rebaixado, de "AA" para "A+" no mês de novembro.

A agência de classificação chinesa utiliza uma metodologia diferente das agências anglo-saxãs Moody's, Fitch ou Standard and Poor's.

Diferente destas três agências, que concedem aos Estados Unidos a nota "Aaa", a melhor, a Dagong não havia dado a Washington esta nota máxima.

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