EXAME.com (EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 27 de novembro de 2013 às 14h24.
Washington - Os Estados Unidos, "a terra da abundância", comemoram o Dia de Ação de Graças nesta quinta-feira, mas, para os mais pobres e vulneráveis, haverá menos comida na mesa, depois que o Congresso cortou parte da ajuda governamental para a alimentação.
Enquanto grande parte dos americanos prepara o tradicional peru para o jantar de Ação de Graças, as instituições de caridade se organizam para responder a uma demanda maior, após o corte de cinco bilhões de dólares da maior rede de segurança alimentar do país.
Os parlamentares, que têm por objetivo reduzir o déficit orçamentário, aprovaram cortes na assistência alimentar dirigida aos pobres: o Programa de Assistência Nutricional Suplementar (SNAP, na sigla em inglês), uma iniciativa que ajuda a alimentar cerca de 48 milhões de pessoas, ou um em cada sete americanos.
Determinados a reduzir a enorme dívida do governo e o crônico déficit, democratas e republicanos discutem no Congresso a aplicação de mais cortes na assistência alimentar, de 5 a 40 bilhões de dólares ao longo de 10 anos.
Uma em cada 3 crianças passa fome na capital americana
Em Washington, a capital dos Estados Unidos, uma em cada três crianças luta contra fome. Trata-se da segunda pior taxa do país, ficando atrás apenas do estado do Novo México, de acordo com a Feeding America, uma rede nacional de 200 bancos de alimentos.
A Feeding America informou que o número de pessoas de baixa renda que a instituição alimenta anualmente cresceu 46% desde 2006, de 25 milhões para 37 milhões de pessoas.
Na capital, o centro de uma das regiões mais ricas do país, legiões de desabrigados se enfileiram diariamente na frente dos caminhões que oferecem alimentos.
Essas instituições se veem desafiadas pela necessidade de atender a crescente demanda de pessoas que convivem com a "insegurança alimentar" - termo usado pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, responsável pelo SNAP.
A organização sem fins lucrativos de Washington “Bread for the City” (“Pão para a Cidade”) identificou um aumento de cerca de 10 a 15 por cento no número de pessoas e famílias atendidas por suas duas despensas de alimentos em Washington desde a crise econômica de 2008, afirmou seu executivo-chefe, George Jones.
"Para quem vive na extremidade inferior do espectro socioeconômico, a recessão não acabou", disse Jones, que argumenta que os cortes na assistência alimentar afetam pessoas que já precisam lutar para pagar o aluguel, despesas médicas e custos de transporte.
Em 2012, o Banco Alimentar da Capital (CAFB, na sigla em inglês) distribuiu 20 milhões de quilos de alimentos, ou 37,5 milhões de refeições, ajudando cerca de 500 mil pessoas.
A instituição precisou trocar de sede no ano passado após ser obrigada a devolver milhões de quilos de doações porque a sede antiga, que tinha metade do tamanho da atual, não tinha como armazenar os alimentos.
O diretor de políticas públicas da CAFB, Brian Banks, disse que o volume de suprimentos precisa ser reforçado nos feriados. Mas, com os cortes na assistência alimentar aprovados pelos legisladores, os suprimentos foram reforçados ainda mais porque o desejo era o de “se preparar para o pior”.
Banks explica que o problema não se resume ao desemprego. De acordo com ele, a maioria das pessoas que buscam ajuda, tanto na capital como no resto do país, tem emprego, mas não consegue receber o suficiente para arcar com todas as despesas.
Uma pesquisa publicada esta semana também revela que mais de 20% - ou um quinto - das crianças de Nova York vivem em casas onde não têm o suficiente para comer.
O relatório anual da Coalizão da Cidade de Nova York contra a Fome, que viu um aumento em 10% neste número com relação ao período anterior estudado, é a evidência mais recente a apontar níveis elevados de desigualdade entre os super-ricos da cidade e o resto da população.
A coalizão atribuiu este aumento ao furacão Sandy, que devastou a cidade no ano passado e deixou, até hoje, muitas pessoas sem casa, a cortes incapacitantes no orçamento e à economia americana pós-crise ainda combalida.