Praça de São Pedro, no Vaticano: "A escolha de um papa africano não deveria ser uma surpresa", afirmou o teólogo Liguori. (REUTERS World)
Da Redação
Publicado em 13 de junho de 2013 às 07h48.
Nairóbi - Após a surpreendente renúncia de Bento XVI, a Igreja Católica poderá encontrar seu sucessor na África, onde até três cardeais - um ganês, um nigeriano e um guineano - possuem chances de se transformar no próximo papa.
Bento XVI apresentará sua renúncia oficial ao Pontificado somente no dia 28 de fevereiro e, enquanto se espera para março o Conclave que deve definir o novo Santo Padre, aumentam as especulações sobre o futuro líder dos mais de 1,2 bilhões de católicos no mundo.
"Há um africano com possibilidades reais de ser papa?", indagou o teólogo Guiseppe Liguori em um artigo publicado pelo jornal queniano "Daily Nation" na última terça-feira, um dia depois dessa extraordinária decisão do pontífice alemão vir à tona.
"Em minha opinião, só dois africanos têm chances de ser escolhidos", completou Liguori, em alusão aos cardeais Peter Turkson (Gana) e Francis Arinze (Nigéria), dois purpurados que também se encontram entre os favoritos das casas de apostas britânicas assumir o Pontificado.
Com mais de 150 milhões de católicos, a África já apresentou três papas ao longo da história: San Víctor I (189-199), San Melquíades (311-314) e San Gelasio I (492-496), que procediam do norte do continente.
"No entanto, se o cardeal Francis Arinze ou o cardeal Peter Turkson for escolhido, essa pessoa entrará para história como o primeiro papa negro", descreve o jornal ganês "Daily Guide".
"Se Deus quisesse ver um homem negro como papa, daria graças a Deus", chegou a declarar o próprio Turkson, que possui 64 anos e é encarregado do "Ministério" vaticano para a Justiça e Paz.
O purpurado ganês, talvez o mais preparado dos "papáveis" africanos, foi designado arcebispo de Cape Coast em 1992 pelo papa João Paulo II, quem lhe ordenou cardeal em 2003.
Turkson é um especialista na Bíblia, já que estudou as Sagradas Escrituras no Instituto Pontifício Bíblico de Roma, onde se formou em 1980 e se tornou doutor nessa mesma matéria em 1992.
Além do inglês e da língua nativa fante, o cardeal ganês fala francês, alemão, hebraico e italiano - idioma muito importante, dado que o papa também se torna bispo de Roma. Para completar, Turkson também escreve em latim e grego. Turkson, que em março de 2011 foi designado por Bento XVI como mediador do Vaticano no conflito da Costa do Marfim, também se destaca como um grande diplomático.
Em relação ao uso de preservativo para impedir a propagação da aids - muito presente na África -, o aborto e o homossexualismo, o purpurado ganês segue a linha conservadora do papa Joseph Ratzinger.
"Sua idade é uma de suas principais vantagens. Aos 64 anos, ele ainda tem força e energia, mas já conta com a experiência necessária para ser o líder da Igreja Católica", aponta o teólogo Liguori.
Outro "papável" africano é o cardeal nigeriano Francis Arinze, de 80 anos e prefeito regional emérito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos.
Também visto como um conservador em assuntos como a homossexualidade, Arinze já entrou nas apostas dos "papáveis" no Conclave de 2005, quando Bento XVI foi escolhido como papa.
O clérigo nigeriano, que se converteu ao catolicismo aos nove anos, se formou doutor em Teologia em Roma, foi ordenado sacerdote em 1958 e bispo em 1965, sendo que, em 1985, João Paulo II lhe designou como cardeal.
Arinze, cujos colegas exaltam sua capacidade para cooperar com representantes de outras religiões, acumula uma ampla experiência no Vaticano, onde trabalhou com João Paulo II e Bento XVI. No entanto, sua idade avançada é, sem nenhuma dúvida, sua grande desvantagem em relação aos demais papáveis.
Entre os candidatos africanos para substituir Bento XVI também figura Robert Sarah, cardeal guineano de 67 anos e presidente do Conselho Pontifício Cor Unum, que se ocupa de distribuir a caridade do papa.
Sarah, que é menos mencionado que Turkson e Arinze, começou a chamar atenção em 2010, quando acusou o então líder líbio, Muammar Kadafi, de faltar com respeito ao papa por pedir que o Islã se transformasse na religião oficial da Europa.
"Apesar do Conclave para a escolha do novo pontífice contar com 120 purpurados do mundo todo, a escolha de um papa africano não deveria ser uma surpresa", finalizou o teólogo Liguori.