Papa Francisco: em sua mensagem, o Papa apoia "o desarmamento nuclear e químico", e arremete contra "a globalização da indiferença" (Giampiero Sposito/Reuters)
Da Redação
Publicado em 12 de dezembro de 2013 às 17h15.
O Papa Francisco propôs a fraternidade como uma arma para combater as crises econômicas e as guerras, em sua primeira mensagem para a Jornada Mundial pela Paz, divulgada nesta quinta-feira pelo Vaticano.
"O fato de as crises econômicas se sucederem umas depois das outras deveria nos levar a oportunas revisões dos modelos de desenvolvimento econômico e a uma mudança nos estilos de vida", escreveu o papa argentino.
"A crise atual, com graves consequências para a vida das pessoas, pode ser, no entanto, uma ocasião propícia para recuperar as virtudes da prudência, da temperança, da justiça e da fortaleza", adverte o texto divulgado em italiano e em inglês e que será lido nas igrejas de todo o mundo no próximo 1º de janeiro, dia em que se comemora o Dia Internacional pela Paz.
Com o lema "Fraternidade, fundamento e caminho para a paz", o Papa convoca os chefes de Estado, sobretudo dos países mais ricos e favorecidos, a ajudarem os países menos desenvolvidos.
"Paulo VI afirma que tanto as pessoas como as nações devem ter um espírito de fraternidade (...) Este dever recai primariamente sobre os mais favorecidos", ressaltou o texto.
Fraternidade na economia
O Papa também convocou as pessoas a promoverem o princípio da fraternidade garantindo às pessoas o acesso aos "capitais, aos serviços, aos recursos, à educação, à saúde, à tecnologia", "para que todos (...) possam se desenvolver plenamente como pessoa", insistiu.
"Não devemos esquecer o ensinamento da Igreja sobre a chamada hipoteca social, segundo a qual, é lícito – como diz São Tomás de Aquino –, e mesmo necessário, que o homem tenha a propriedade dos bens, quanto ao uso. Porém, não deve considerar as coisas exteriores que legitimamente possui só como próprias, mas também como comuns, no sentido de que possam beneficiar não só a si, mas também aos outros", explicou.
Em sua mensagem, de seis páginas, Francisco defende novamente que sejam adotadas "políticas que atenuem a desigualdade de renda excessiva".
Ele recorre à história narrada no primeiro livro da Bíblia sobre o assassinato cometido por Caim, enlouquecido pela inveja de seu irmão Abel.
"A narração de Caim e Abel ensina que a Humanidade traz inscrita em si mesma uma vocação à fraternidade, mas também à possibilidade dramática da sua traição. Há um testemunho disso no egoísmo diário, que está na base de muitas guerras e injustiças: na realidade, muitos homens e mulheres morrem pela mão de irmãos e irmãs que não sabem reconhecer-se como tais, isto é, como seres feitos para a reciprocidade, a comunhão e a doação", ressaltou.
Pelo desarmamento nuclear contra a pobreza relativa
Em sua mensagem, o Papa apoia "o desarmamento nuclear e químico", e arremete contra "a globalização da indiferença".
O primeiro chefe da Igreja latino-americano adverte que, embora a pobreza absoluta tenha caído no mundo, "não se pode deixar de reconhecer um grave aumento da pobreza relativa, ou seja, das desigualdades entre pessoas e grupos que convivem em uma determinada região".
"O mundo precisa de fraternidade", clama o Papa em sua mensagem, na qual cita uma frase de seu antecessor, Bento XVI, que renunciou ao trono de Pedro: "A globalização nos aproxima dos demais, mas não nos torna irmãos".
Em um mundo caracterizado pela indiferença, nos "acostumamos aos sofrimentos dos demais, a nos fecharmos em nós mesmos", advertiu.
O pontífice condenou as guerras e fez um firme chamado a todos aqueles que semeiam violência e morte, e defendeu o "diálogo com o outro".
Em sua mensagem, condenou a corrupção, o crime organizado, o narcotráfico, o trágico fenômeno do tráfico de seres humanos e "as guerras menos visíveis, mas não menos cruéis, que são combatidas nos campos econômico e financeiro".
Francisco se pergunta acerca da destruição dos recursos naturais e lembra que a "natureza é um dom em comum" que "estamos convocados a administrar responsavelmente".
O papa argentino, eleito a personalidade do ano de 2013 pela revista americana Time por ter "tirado o papado do palácio para levá-lo às ruas" e se localizado no "centro das discussões mais importantes desta época", repassou em sua primeira mensagem pela paz, escrita com um estilo sóbrio, os assuntos mais tratados em seu pontificado de dez meses.