Mundo

Papa pede prudência com sátiras e paternidade responsável

Papa anunciou que irá visitar a América Latina, além de pedir prudência com sátiras como as do Charlie Hebdo e convidando católicos para paternidade responsável

Papa Francisco é visto à bordo do avião papal: "Tenho o plano de visitar Bolívia, Paraguai e Equador este ano" (Giuseppe Cacace/Pool/Reuters)

Papa Francisco é visto à bordo do avião papal: "Tenho o plano de visitar Bolívia, Paraguai e Equador este ano" (Giuseppe Cacace/Pool/Reuters)

DR

Da Redação

Publicado em 19 de janeiro de 2015 às 20h47.

O papa Francisco anunciou, nesta segunda-feira, durante o voo de volta da Ásia para Roma, que visitará Bolívia, Paraguai e Equador em 2015, confirmando o desejo de querer ir aos países da "periferia" do mundo, além de pedir prudência com sátiras como as do jornal francês Charlie Hebdo e convidar os católicos a exercerem a "paternidade responsável".

Em declarações a jornalistas que o acompanhavam no voo de volta do Sri Lanka e das Filipinas, o papa falou de seus projetos de viagem, tanto para 2015 como para 2016, e comentou sobre anticonceptivos e a "paternidade responsável", após convidar os católicos a evitar reproduzirem-se "como coelhos".

"Tenho o plano de visitar Bolívia, Paraguai e Equador este ano", confirmou o papa argentino, sem divulgar as datas de sua segunda viagem à América Latina, depois da feita ao Brasil, na Jornada Mundial da Juventude, pouco meses após ser eleito sumo pontífice, em março de 2013.

"Em 2016 tenho o plano, mas não é nada certo, de visitar Chile, Argentina e Uruguai", acrescentou o papa aos 70 jornalistas que o acompanharam em seu giro de seis dias a Sri Lanka e Filipinas, onde celebrou, no domingo, a missa com maior número de fiéis da história recente da Igreja.

O papa não excluiu visitar um país como o Peru na ocasião.

Durante a conversa com a imprensa, Francisco contou que este ano tem previsto viajar também aos Estados Unidos e que gostaria de ir ao México.

"Entrar nos Estados Unidos pela fronteira do México seria uma coisa linda, como sinal de irmandade, mas ir ao México sem visitar a Virgem (de Guadalupe) seria um drama... Penso que vou apenas a três cidades americanas", disse, após mencionar Filadélfia, para o encontro com as Famílias, Nova York, para a visita à ONU, e Washington.

"Gostaria de ir à Califórnia para a canonização de Junípero Serra, mas acho que vai ser um problema de tempo, seriam necessários mais dois dias. Eu acho que vou fazer a canonização em Washington: é uma personalidade nacional", explicou.

O papa revelou, ainda, que está organizando sua primeira viagem à África, "no fim do ano", para visitar a República Centro-africana e Uganda.

"Esta viagem está atrasada pelo problema do Ebola. É uma grande responsabilidade organizar grandes reuniões pelo risco de contágio. Mas nestes dois países, não há problema", admitiu.

Com estas viagens, Francisco, que completou 78 anos em dezembro, quer manifestar com gestos concretos sua aproximação e solidariedade com os países menores, que sofreram com a pobreza, o isolamento e a falta de atenção.

Porta aberta para receber o Dalai Lama

Abordando um tema polêmico, Francisco declarou, ainda, manter a porta aberta a um encontro com o Dalai Lama, desmentindo que tenha se recusado a receber o líder espiritual dos tibetanos em dezembro "por temor da China".

"Os hábitos no protocolo da Secretaria de Estado são de não receber os chefes de Estado e as personalidades de alto nível quando estão em Roma para uma reunião internacional", disse aos jornalistas no avião papal.

O Dalai Lama esteve em Roma em dezembro para uma conferência de ganhadores do prêmio Nobel da Paz.

"Quando houve a reunião da FAO (organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação, celebrada em Roma, em novembro), não recebi ninguém", acrescentou.

"Alguns jornais disseram que eu não o recebi por medo da China. Isto não é verdade. Em algum momento ele pediu uma audiência, que foi agendada para uma data (posterior). Mas não por enquanto. Ainda mantemos relações", assegurou.

A respeito dos esforços de aproximação entre a China e o Vaticano, o papa explicou: "os chineses são bem educados e nós também somos educados. Nós fazemos as coisas passo a passo".

Os chineses "sabem que eu estou disposto a ir lá (na China), ou a receber (autoridades chinesas) no Vaticano", insistiu.

"Como coelhos"

Francisco, que costuma falar de forma clara e direta, considerou que os católicos devem cumprir o que chamou de "paternidade responsável", ao ser consultado sobre o tema do controle da natalidade.

"Alguns acreditem, perdoem a expressão, que para ser bom e católico, temos que ser como coelhos", disse Francisco, cujas declarações provavelmente suscitarão uma nova polêmica entre os setores mais conservadores da Igreja.

"Eu penso que o número de três filhos por família, segundo o que dizem os técnicos, é o número importante para manter a população", acrescentou.

"A palavra chave para responder com paternidade responsável é o diálogo. Por isso, na Igreja há grupos de casais para falar disso, temos especialistas nestas questões e há pastores. Eu conheço muitas vias lícitas, que ajudaram nisto", acrescentou.

Francisco contou ter criticado uma mulher que estava no oitavo mês de gravidez e que já tinha feito sete cesarianas.

"Quer deixar seus filhos órfãos? Não se deve tentar a Deus...", disse a ela.

Embora o papa tenha mencionado um tipo de controle da natalidade, sem afirmar qual, ele reiterou, durante sua visita às Filipinas - o terceiro país com o maior número de católicos depois de Brasil e México -, na vigência da encíclica de Paulo VI "Humanae Vitae", de 1968, na qual a Igreja católica se opõe e repudia taxativamente o uso da pílula anticoncepcional.

"A palavra chave para responder a isso é a paternidade responsável e cada pessoa, no diálogo com seu pastor, deve buscar como realizar esta paternidade", assegurou.

O pontífice voltou a falar de liberdade de expressão, após os atentados de Paris contra cartunistas da revista Charlie Hebdo e pediu para usar "a virtude humana da prudência" diante da violência.

"A liberdade de expressão deve tomar em conta a realidade humana e, por isso, deve ser prudente", explicou após a polêmica desatada em suas declarações, nas quais admitiu que se alguém ofende a mãe do outro, deve esperar "um soco".

Acompanhe tudo sobre:Igreja CatólicaPaíses ricosPapa FranciscoPapasReligiãoVaticano

Mais de Mundo

Zelensky quer que guerra contra Rússia acabe em 2025 por 'meios diplomáticos'

Macron espera que Milei se una a 'consenso internacional' antes da reunião de cúpula do G20

Biden e Xi Jinping se reúnem antes do temido retorno de Trump

Incêndio atinge hospital e mata 10 recém-nascidos na Índia