Papa Francisco: "no dia em que me apresentarem uma prova contra o bispo Barros, falarei com vocês. Não há uma única prova contra ele. É calúnia. Está claro?" (Tony Gentile/Reuters)
AFP
Publicado em 22 de janeiro de 2018 às 15h37.
O papa Francisco apresentou nesta segunda-feira um pedido de desculpas às vítimas de abusos sexuais, após o escândalo provocado no Chile por seu apoio a um bispo polêmico por falta de "provas", uma palavra que ele reconheceu ser "dolorosa".
"O caso do (bispo) Barros foi estudado, foi reexaminado e não há provas. É isso que quis dizer. Não tenho provas para condená-lo e, se eu o condenasse sem provas ou sem certeza moral, cometeria um crime de juízo", declarou Francisco, que acredita na inocência do bispo.
"No dia em que me apresentarem uma prova contra o bispo Barros, falarei com vocês. Não há uma única prova contra ele. É calúnia. Está claro?", afirmou o pontífice na quinta-feira a jornalistas chilenos.
Em um país onde o catolicismo perdeu terreno, Francisco chocou ao defender o monsenhor Juan Barros, bispo suspeito de ter mantido silêncio sobre os crimes de um antigo sacerdote pedófilo afastado do sacerdócio pelo Vaticano.
Um ponto essencial "é o que as vítimas de abuso sentem. E devo me desculpar, porque a palavra 'prova' feriu muitas vítimas. Mas tenho que procurar evidências. E peço desculpas", reconheceu no avião de volta ao Vaticano.
"Vocês me dizem que há vítimas, mas eu não as vi, elas não me foram apresentadas", argumentou no Chile, retomando a palavra "calúnia".
Já no avião de volta, Francisco reconheceu que "há muitas pessoas que sofreram abusos que não podem fornecer provas".
"Eu sei o quanto sofrem", afirmou o sumo pontífice, que recebeu no Chile duas vítimas de abusos, com quem "orou e chorou", de acordo com o Vaticano.
"O drama das vítimas de abusos é tremendo. Fiquei comovido ao ouvir, há dois meses, o relato de uma mulher que havia sido abusada há 40 anos. Casada, com três filhos, essa mulher não recebia a comunhão desde aquela época, porque na mão do padre via a mão do agressor. Ela não conseguia se aproximar. E era crente, era católica", disse ele.
No sábado, o cardeal Sean Patrick O'Malley, que dirige uma comissão anti-pedofilia no Vaticano, ressaltou a sinceridade de Francisco, dizendo que defende a tolerância zero para a pedofilia na Igreja.