Mulher reza em uma Igreja Católica: segundo dados do censo, a proporção de católicos no Brasil caiu de 83% para 64,6% entre 1980 e 2010, enquanto que a de evangélicos subiu de 15,4% para 22,2% entre 2000 e 2010. (Danish Ismail/Reuters)
Da Redação
Publicado em 13 de junho de 2013 às 07h48.
Rio de Janeiro - Um dos principais desafios do papa Francisco será deter a sangria de fiéis na América Latina, região que concentra cerca de 40% dos católicos do mundo e onde crescem com força as igrejas evangélicas, afirmaram especialistas nesta quinta-feira à Agência Efe.
Segundo os analistas consultados, a escolha de um papa procedente de um país em desenvolvimento, especificamente de um latino-americano, pôs em evidência o desejo da Igreja de olhar para fora da Europa, rumo ao hemisfério sul e em direção a regiões onde o catolicismo ainda é dominante ou tem potencial de crescimento.
De acordo com uma pesquisa divulgada no mês passado pelo Pew Research Center, a Europa deixou de ser majoritária entre os católicos, posição assumida pela América Latina, enquanto as regiões nas quais esta fé cresce atualmente com maior dinamismo são a África Subsaariana e a Ásia.
"É lógico que esse foi um dos motivos para a escolha do cardeal argentino Jorge Bergoglio. Trata-se de dar ao papa um rosto que o aproxime mais do hemisfério sul, da América Latina e dos pobres", disse à Efe Douglas Cabral Dantas, professor de Cultura Religiosa da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Minas Gerais.
Em sua opinião, com a eleição do jesuíta argentino, a Igreja consegue dar um giro em seu rumo e ao mesmo tempo responder ao desafio de sua perda de força na América Latina, reforçar seu crescimento em países da Ásia e da África, e desviar a atenção sobre a Europa, "principal polo dos escândalos".
"Os cardeais eleitores do papa pensaram em várias coisas quando votaram em um latino-americano, entre elas que a América Latina é a região com a maioria dos católicos no mundo e na necessidade de manter essa maioria", declarou Ildo Bohn, secretário de informação do Centro de Estudos Bíblicos (CEBI) do Brasil.
Para os teólogos, a escolha de um jesuíta também tem o simbolismo de reforçar a evangelização fora da Europa, dada a longa tradição dessa ordem como missionária em lugares remotos.
Segundo Luiz Paulo Horta, membro da Academia Brasileira de Letras e especialista em Vaticano, com um jesuíta argentino a Igreja mostra sua disposição a abrir-se mais ao mundo.
Segundo a pesquisa do Pew Research Center, o número de católicos no mundo saltou de 291 milhões em 1910 até 1,1 bilhões em 2010, mas a participação dos europeus nessa comunidade caiu nesses 100 anos de 65% do total para 24%.
No mesmo período os católicos latino-americanos subiram de 70 milhões para 425,5 milhões de almas, o que significa que sua participação passou de 24% no começo do século 20 para 39% em 2010.
O número de católicos na Ásia e na Oceania era de 130,5 milhões em 2010 (12% do total), e na África e no Oriente Médio era de 177,1 milhões (17%).
Enquanto que há um século França e Itália lideravam a lista de países com maior número de católicos no mundo, essas posições são ocupadas hoje por Brasil (126,7 milhões) e México (96,4 milhões). A Colômbia aparece em sexto na lista com 38,1 milhões e a Argentina em 11º (31 milhões).
A Itália (49,2 milhões) caiu para o quinto lugar porque também foi superada pelas Filipinas e pelos Estados Unidos.
No entanto, apesar da esperança que a América Latina representa para o catolicismo, esta fé vem perdendo espaço na região. Há 100 anos 90% dos latino-americanos se declaravam católicos, porcentagem que caiu para 72% em 2010.
Esse espaço, segundo admitiram os bispos que participaram em 2007 da V Conferência do Conselho Episcopal Latino-Americano e do Caribe (Celam), realizada na cidade de Aparecida com a presença do papa Bento XVI, foi ocupado pelos evangélicos.
Segundo dados do censo, a proporção de católicos no Brasil caiu de 83% para 64,6% entre 1980 e 2010, enquanto que a de evangélicos subiu de 15,4% para 22,2% entre 2000 e 2010.
No México, igualmente segundo o censo local, os católicos representavam 98,2% da população em 1950 e 83,9% em 2010, enquanto os evangélicos passaram no mesmo período de 1,28% a quase 8%.
O Celam diagnosticou em 2007 tanto a fuga como as causas dessa evasão, mas até agora não anunciou nenhuma transformação que possa conter a sangria, segundo os especialistas.
"A fuga de católicos na região obedece à adoção por parte da Igreja de uma posição muito tradicional, totalmente presa ao passado e sem acompanhar a modernidade", comentou Bohn, que disse esperar que o papa Francisco aproxime a Igreja do modelo proposto pelo Concílio Vaticano II.