Papa Francisco: ele pediu para que "todos aqueles que foram vítimas de violência no passado sejam ajudados" (Vincenzo Pinto/AFP)
Da Redação
Publicado em 5 de abril de 2013 às 13h48.
Cidade do Vaticano - O Papa Francisco convocou uma luta "com determinação" contra os padres pedófilos, ao confirmar, nesta sexta-feira, a linha de rigor adotada por seu antecessor, Bento XVI, contra um dos escândalos que mais desacreditaram a Igreja Católica.
O pedido do pontífice latino-americano foi feito ao prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, monsenhor Gerhard Muller, encarregado de tais denúncias.
"O Santo Padre recomendou em particular que se prossiga com a linha de seu antecessor Bento XVI de agir com determinação nos casos de abusos sexuais", informou o Vaticano em um comunicado.
É a primeira vez que o pontífice se pronuncia sobre as milhares de denúncias feitas em todo o mundo contra padres pedófilos e que afetaram gravemente na última década o prestígio da milenar instituição.
O papa Francisco confirmou que preconizará a tolerância zero, como Bento XVI, e convidou a hierarquia da Igreja a promover, "acima de tudo, medidas de proteção dos menores", ressalta a nota divulgada pelo gabinete de imprensa da Santa Sé.
Francisco também pediu para que "todos aqueles que foram vítimas de violência no passado sejam ajudados".
O novo pontífice, eleito no dia 13 de março para substituir Bento XVI após sua renúncia, apelou para que sejam impulsionados "os procedimentos devidos contra os culpados", uma luta que considera importante "para a Igreja e sua credibilidade", sustenta a nota.
Também convidou as conferências episcopais de todos os países a "formularem e cumprirem" as diretrizes estabelecidas e reiterou que "reza de modo particular" pelo sofrimento das vítimas de abusos.
O escândalo dos sacerdotes que abusaram de crianças e adolescentes explodiu primeiro nos Estados Unidos no início dos anos 2000.
Depois afetou as Igrejas de vários países da Europa, sobretudo da Irlanda, onde foram registrados milhares de casos de abusos.
A maior parte dos casos data das últimas décadas, mas outro crime ainda viria se somar ao cometido pelos sacerdotes: o silêncio que cobria os atos. Alguns padres eram transferidos ou protegidos pelos bispos.
A Igreja da América Latina também conheceu uma série de escândalos. O mais famoso foi o do fundador mexicano do movimento conservador dos Legionários de Cristo, Marcial Maciel, também culpado de abusos sexuais.
O papa Bento XVI pediu perdão em várias ocasiões em nome da Igreja às vítimas e impulsionou a tolerância zero, obrigando que os crimes de pedofilia fossem denunciados às autoridades judiciais, o que não é cumprido em todos os países, que preferem muitas vezes ocultá-los com indenizações milionárias.
Em maio de 2011, a Congregação para a Doutrina da Fé deu o prazo de um ano às conferências episcopais do mundo inteiro para que adotassem as diretrizes em matéria de luta contra a pedofilia, que envolvem colaborar com a justiça civil.
O novo promotor de justiça da Congregação para a Doutrina da Fé, Robert Oliver, que tomou posse há poucas semanas do cargo que foi por 10 anos de monsenhor Charles Scicluna, lembrou recentemente que é obrigatório para todas as igrejas se dirigirem às autoridades civis nos casos de abusos sexuais cometidos contra menores por membros do clero, "embora cada país tenha sua própria legislação".
"Vale para todos", disse.
Segundo Oliver, nos últimos 3 anos a congregação do Vaticano recebeu 600 denúncias por ano de abusos sexuais cometidos por religiosos ou sacerdotes contra crianças.
A maior parte dos crimes foram realizados entre 1965 e 1985. Um pico no número de denúncias foi registrado em 2004, com 800 casos.
As denúncias são provenientes "de todas as partes do mundo sem grandes diferenças", ressaltou.
A vontade de limpeza por parte da igreja dos Estados Unidos foi demonstrada pelo cardeal americano Sean O'Malley, fortemente comprometido na luta contra a pedofilia, que considera que os bispos culpados de encobrir os abusos também devem ser penalizados e pediu, antes do conclave para a eleição do Papa, políticas claras a respeito.
Diante da resposta vaticana dada ao fenômeno, a associação americana de vítimas, Snap, manifesta ceticismo.
"Queremos atos, e não palavras", pediram nesta sexta-feira em um comunicado.
"Alguns consideram um progresso que o novo Papa se refira à pedofilia no primeiro mês de seu papado. Não é assim. Debate-se há anos, décadas, sobre o assunto. Precisamos passar à ação e não continuar falando", declarou Barbara Dorris, porta-voz do Snap, que chamou de decepcionantes as medidas de Bento XVI contra os padres pedófilos.
A associação denunciou o Vaticano por "crimes contra a humanidade" perante o Tribunal Penal Internacional e pede para que os nomes dos culpados sejam divulgados na internet e que os bispos que acobertaram casos sejam denunciados perante a polícia.
*Matéria atualizada às 13h48