Papa Francisco: pontífice coordena o primeiro evento do tipo entre 21 e 24 de fevereiro que pretende ser uma resposta concreta ao escândalo da pedofilia dentro da Igreja (Alessandro Bianchi/Reuters)
AFP
Publicado em 23 de novembro de 2018 às 15h52.
O Papa Francisco nomeou uma equipe de religiosos, incluindo os dois maiores especialistas em pedofilia, o arcebispo maltês Charles Scicluna e o jesuíta alemão Hans Zollner, para coordenar a cúpula mundial sobre abuso sexual de menores na Igreja, a ser realizada em fevereiro no Vaticano.
"O papa Francisco quer que os líderes da Igreja entendam completamente o impacto devastador das vítimas de abuso sexual pelo clero", declarou Greg Burke, porta-voz da Santa Sé.
Os chefes das 113 conferências episcopais do mundo foram convocados pelo pontífice argentino para uma cúpula extraordinária que busca evitar o abuso sexual por parte do clero, um escândalo que desacreditou a instituição em todos os continentes.
O evento, o primeiro desse tipo, acontecerá de 21 a 24 de fevereiro e quer ser uma resposta concreta ao escândalo da pedofilia dentro da igreja e a seu acobertamento. "A reunião é, em primeiro lugar, com os bispos, porque eles têm uma grande responsabilidade para lidar com este grave problema. Foram convidados homens e mulheres especialistas no campo do abuso para ajudar a estabelecer o que precisa ser feito para garantir transparência e a responsabilidade", explicou o porta-voz.
Fazem parte do comitê organizador o arcebispo de Scicluna, o padre Hans Zollner, o cardeal americano Blase Cupich e o cardeal indiano Oswald Gracias. O monsenhor Scicluna acaba de ser nomeado para o influente cargo de secretário adjunto da Congregação para a Doutrina da Fé.
O religioso é conhecido por investigar os mais graves escândalos de pedofilia que assolaram a Igreja: o padre chileno Fernando Karadima e o padre mexicano Marcial Maciel, ambos condenados já idosos por abuso sexual cometido contra menores em todo país depois de uma longa trajetória religiosa.
Conhecido por suas posições em nome das vítimas e carrasco implacável dos abusadores, Scicluna estava no comando em 2005 da investigação contra o falecido fundador dos Legionários de Cristo, o mexicano Maciel. Protagonista de um dos maiores escândalos na história recente da Igreja, ele era famoso por seu vício em drogas e por ter uma vida dupla com vários filhos.
No início deste ano, o padre foi convidado por Francisco ao Chile para ouvir as testemunhas que queriam falar sobre o caso do bispo chileno Juan Barros, inicialmente defendido pelo papa e protegido por Karadima. O gesto gerou uma série de críticas e protestos contra o pontífice argentino.
O jesuíta Zollner também é um dos maiores especialistas no assunto de abuso sexual na Igreja e, recentemente, solicitou uma reforma do direito canônico para poder julgar bispos abusivos, como solicitado por leigos, religiosos e vítimas.