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Papa conquista latinos com carinho e humildade

Em cinco dias de uma viagem amplamente transmitida pela mídia brasileira, o papa fortaleceu sua popularidade na América Latina


	"Bento XVI era um intelectual, Francisco é um homem de contato, um contato que a Igreja precisa. É um papa que poderia ser seu vizinho", comemorou João Francisco Pinto
 (Yasuyoshi Chiba/AFP)

"Bento XVI era um intelectual, Francisco é um homem de contato, um contato que a Igreja precisa. É um papa que poderia ser seu vizinho", comemorou João Francisco Pinto (Yasuyoshi Chiba/AFP)

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Da Redação

Publicado em 26 de julho de 2013 às 17h16.

O Papa Francisco conquista os latino-americanos com gestos de carinho e palavras afetuosas para os mais humildes, assim como mensagens sociais e políticas, numa linguagem simples, buscando diminuir a distância entre a Igreja e o continente mais católico do mundo.

Em sua primeira viagem como papa a sua região natal, Jorge Mario Bergoglio voltou aos tempos de arcebispo de Buenos Aires e apostou num estilo direto. Contato com as ruas, as brincadeiras, gestos improvisados e um ouvido atento a quem o cerca, ou ao menos, a quem consegue se aproximar apesar do enorme aparato de segurança.

Em cinco dias de uma viagem amplamente transmitida pela mídia brasileira, o papa fortaleceu sua popularidade na América Latina, onde seus gestos humildes tocam o coração de muitos.

Bento XVI - agora papa emérito - era respeitado, mas as multidões não vibravam em sua presença. Tímido, intelectual, o papa alemão não tinha nem a delicadeza nem o carisma que conquista os latino-americanos. Parecia muito europeu, e foi recriminado por ter dado pouca importância à região com mais católicos no mundo (mais de 40%), que só foi visitada por ele duas vezes em seus quase oito anos de papado.

"Bento XVI era um intelectual, Francisco é um homem de contato, um contato que a Igreja precisa. É um papa que poderia ser seu vizinho", comemorou João Francisco Pinto, um jovem monge franciscano que mora na favela da Rocinha.


Francisco tomou o chimarrão oferecido por um fiel, beijou e abençoou as pessoas enquanto percorria a Avenida Atlântica no papamóvel diante de 1,5 milhão de pessoas. Ao visitar a favela da Varginha, disse que gostaria de "tomar um cafezinho e não um copo de cachaça" com cada um dos brasileiros, e usou frases do dia a dia do país, como "sempre se pode colocar mais água no feijão", quando falou em solidariedade.

O papa Francisco também deu mensagens claras e concretas nos planos social e político: a necessidade de defender a família, "remédio contra a degradação social", a prioridade à educação, a luta legítima contra a corrupção, o direito ao trabalho para uma geração de desempregados.

Denunciou o culto ao dinheiro e as falsas ilusões criadas pelo individualismo desenfreado, o refúgio nos prazeres efêmeros. O Santo Padre também convocou à luta contra o tráfico de drogas, e se opôs à liberalização debatida na América Latina.

Também considerou que a "pacificação" das favelas, tiradas das mãos dos traficantes pelas autoridades policiais, não é duradoura se não houver inclusão social.

Ao mesmo tempo, o Papa evitou dar lições e fazer condenações públicas, e assim ressaltou os progressos realizados pelo Brasil para a redução da pobreza.

Seu apelo por "um olhar positivo sobre a realidade", feito em Aparecida, e a constante insistência na esperança e na amizade de Jesus, voltam a dar valor aos católicos, que achavam a mensagem da Igreja romana muito rígida, legalista e sombria.

Neste sentido, pediu aos cristãos que "sejam alegres" e não usem uma "cara de luto". "Que feio ver um bispo triste! Que feio!", exclamou na noite desta quinta-feira em Copacabana, durante a missa de Acolhida da JMJ.

O papa não convoca uma revolução - ainda que tenha chamado a uma "revolução da fé" - e evitou tomar partido diretamente nas manifestações que sacudiram o Brasil, mas pediu que os jovens não se desanimem pela corrupção.


Teólogos como o brasileiro Leonardo Boff esperam que Jorge Mario Bergoglio, um bispo bem mais conservador, dê um novo fôlego à Teologia da Libertação - denunciada no passado por ter um cunho marxista.

Mas a teologia de Bergoglio é menos política: é uma teologia da Igreja dos pobres.

Muitos sacerdotes e religiosos estão encantados. O porta-voz da Santa Sé, padre Federico Lombardi, contou que em Aparecida "religiosas de um convento de clausura se exaltaram" na sua presença. Segundo Lombardi, elas tiraram fotos, uma por uma, abraçando o papa. E o pontífice não se mostrou impaciente.

O amor de Cristo, explicou o pontífice, se fez "concreto" para São Francisco de Assis - de quem Bergoglio tomou o nome - quanto este "abraçou a um leproso", porque "esse irmão sofredor, excluído, foi mediador da luz" de Deus.

Uma frase como esta já mostra a diferença, para uma Igreja Católica percebida como arrogante e distante para muitos latino-americanos que migraram para igrejas pentecostais.

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