Papa Francisco: "as nossas sociedades são caracterizadas por um crescente individualismo e pelas divisões" (Giampiero Sposito/Reuters)
Da Redação
Publicado em 21 de novembro de 2014 às 13h22.
Cidade do Vaticano - O papa Francisco afirmou nesta quinta-feira (20) que "um dos desafios que se deve enfrentar na sociedade é a falta de solidariedade".
Em um dos discursos mais aguardados da 2ª Conferência Internacional sobre Nutrição da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês), o pontífice ainda afirmou que "as nossas sociedades são caracterizadas por um crescente individualismo e pelas divisões. Isso acaba privando os mais fracos de uma vida digna e causa revolta contra as instituições".
Segundo ele, "quando falta solidariedade em um país, todos sofrem porque a solidariedade é uma proposta que faz com que as pessoas sejam capazes de ir ao encontro do outro e de criar fundamentos recíprocos sobre o sentimento de irmandade, que vai além das diferenças e dos limites e busca atingir o bem comum".
Francisco disse que é "doloroso constatar que a luta contra a fome e a desnutrição tem como obstáculos a "prioridade do mercado" e a "primazia do lucro", que reduziram os alimentos a algo qualquer, sujeito à especulação".
O líder da Igreja Católica fez um forte apelo para a defesa da "Mãe Terra" e usou um ditado argentino para explicar os motivos de sua preocupação, que diz que "Deus perdoa sempre, os homens perdoam às vezes, mas a natureza não perdoa nunca".
Falando aos países, Jorge Bergoglio afirmou que todos devem agir de "comum acordo" e devem ajudar-se mediante as normas e os princípios do direito internacional.
"Uma fonte inesgotável de inspiração é a lei natural, escrita no coração humano, que fala de uma linguagem que todos podem entender: amor, paz, justiça. Que são elementos inseparáveis", ressaltou o papa.
Ele ressaltou que assim como as pessoas devem atender esses valores, os países e as instituições internacionais também precisam cultivar esses ideais. O pontífice destacou que é "dever do Estado" fazer com que todos tenham acesso ao básico e que cada nação deve garantir esse direito fundamental.
"A Igreja Católica busca oferecer também neste campo sua própria contribuição, mediante a uma atenção constante à vida dos mais pobres em cada parte do planeta. Nesta linha, a Santa Sé realiza um movimento em suas organizações internacionais e com seus múltiplos documentos e declarações. Entende-se que, de tal modo, é possível identificar e adotar os critérios que devem ser realizados para o desenvolvimento de um sistema internacional justo", destacou o papa.
Aos representantes da FAO, Bergoglio afirmou que "o trabalho de vocês atinge pessoas, pessoas famintas e, como disse recentemente, essas pessoas não pedem nada além de dignidade. E o trabalho de vocês é garantir que a ajuda chegue para que eles tenham dignidade".
Ele ainda alertou para o problema da falta de água em vários locais do mundo. "A água não é de graça, como tantas vezes pensamos. Isso é um grave problema que pode causar guerras. Agradeço pelo vosso serviço nesta realidade internacional, que busca reduzir a fome crônica e desenvolver setores de alimentação e da agricultura", finalizou o pontífice.
A preocupação com os mais pobres é uma das fortes bandeiras de Jorge Bergoglio desde que assumiu o pontificado.