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'Pandora Papers': governantes ocultaram milhões em paraísos fiscais

A investigação dos chamados "Pandora Papers" se baseia no vazamento de cerca de 11,9 milhões de documentos de 14 empresas de serviços financeiros em todo o mundo

Dólares (iStock/Getty Images)

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AFP

Publicado em 4 de outubro de 2021 às 08h43.

Mais de uma dúzia de chefes de Estado e de Governo, como os da Jordânia, Azerbaijão, Quênia e República Tcheca, usaram paraísos fiscais para ocultar ativos de centenas de milhões de dólares, de acordo com uma nova investigação jornalística internacional divulgada neste domingo (3).

A investigação dos chamados "Pandora Papers" - envolvendo cerca de 600 jornalistas, inclusive do The Washington Post, BBC e The Guardian - se baseia no vazamento de cerca de 11,9 milhões de documentos de 14 empresas de serviços financeiros em todo o mundo.

Cerca de 35 atuais e antigos líderes são citados no mais recente e vasto acervo de documentos analisados pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ), enfrentando alegações que vão desde corrupção até lavagem de dinheiro e evasão fiscal global.

Na maioria dos países, enfatiza o ICIJ, não é ilegal ter ativos offshore ou usar empresas de fachada para fazer negócios além de suas fronteiras nacionais.

Porém, tais revelações não são menos embaraçosas para líderes que podem ter feito publicamente campanha contra a evasão fiscal e a corrupção, ou defendido medidas de austeridade em casa.

De acordo com esses documentos, o rei Abdullah II da Jordânia criou pelo menos 30 empresas offshore em países ou territórios com facilidades tributárias, por meio das quais comprou 14 propriedades de luxo nos Estados Unidos e no Reino Unido, por mais de 106 milhões de dólares.

Os advogados do rei Abdullah II disseram à BBC que todas as propriedades foram compradas com sua fortuna pessoal. Eles argumentaram que é comum entre personalidades importantes comprar propriedades por meio de companhias offshore por motivos de privacidade e segurança.

Parentes e sócios do presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev - há muito acusado de corrupção no país da Ásia Central -, teriam secretamente participado de negócios imobiliários no Reino Unido na casa das centenas de milhões.

Os documentos também mostram como o primeiro-ministro da República Tcheca, Andrej Babis, colocou 22 milhões de dólares em empresas fantasmas que foram usadas para financiar a compra de um castelo no sul da França.

"Nunca fiz nada ilegal ou errado", respondeu Babis em um tweet, que chamou as revelações de uma tentativa de difamação com o objetivo de influenciar a eleição.

Tony Blair e Shakira

Ao todo, o ICIJ encontrou ligações entre quase 1.000 empresas offshore e 336 políticos e funcionários públicos do alto escalão, incluindo mais de uma dúzia de chefes de Estado e Governo, líderes de países, ministros, embaixadores e outros.

Mais de dois terços das empresas foram estabelecidas nas Ilhas Virgens Britânicas.

"Acho que isso demonstra sobretudo que as pessoas que poderiam acabar com o sigilo do offshore, poderiam acabar com o que está acontecendo, estão se beneficiando disso", disse o diretor do ICIJ, Gerard Ryle, em um vídeo que acompanha a investigação. “Estamos falando de trilhões de dólares."

Para Maira Martini, especialista da Transparência Internacional, a nova investigação oferece mais uma vez "evidências claras de como a indústria offshore promove a corrupção e o crime financeiro, enquanto obstrui a justiça". E defendeu: “Este modelo de negócios não pode continuar.”

Outras revelações da investigação do ICIJ:

- O ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair - que tem sido um crítico das brechas fiscais - e sua esposa Cherie teriam evitado legalmente pagar impostos em uma propriedade multimilionária em Londres, ao comprar a companhia offshore que a possuía.

- Pessoas do círculo íntimo do primeiro-ministro do Paquistão, Imran Khan, incluindo ministros e seus familiares, são supostamente proprietários secretos de empresas e fundos fiduciários com milhões de dólares. Em reação via Twitter, Khan prometeu "tomar as medidas apropriadas" caso qualquer delito por cidadãos paquistaneses sejam constadados.

- O presidente da Rússia, Vladimir Putin, não aparece diretamente nos documentos, mas está relacionado a ativos secretos em Mônaco por meio de associados. Entre eles uma casa à beira-mar adquirida por uma mulher russa que é apontada como mãe de um filho com o líder russo, relata o The Washington Post.

- O presidente do Quênia, Uhuru Kenyatta, e seis membros de sua família seriam proprietários de uma rede de empresas em paraísos fiscais.

- Além de políticos, estão entre as figuras públicas expostas a cantora colombiana Shakira, a modelo alemã Claudia Schiffer e a lenda indiana do críquete Sachin Tendulkar. Representantes dos três disseram ao ICIJ que os investimentos eram legítimos e negaram evasão fiscal.

Os "Pandora Papers" são os mais recentes de uma série de vazamentos em massa de documentos financeiros pelo ICIJ. Em 2016, os “Panama Papers” provocaram a renúncia do primeiro-ministro da Islândia e abriram caminho para o líder do Paquistão ser expulso. Eles foram seguidos pelos “Paradise Papers” em 2017 e os arquivos “FinCEN” em 2020.

Os documentos por trás desta última investigação foram extraídos de empresas de serviços financeiros em países como as Ilhas Virgens Britânicas, Panamá, Belize, Chipre, Emirados Árabes Unidos, Cingapura e Suíça.

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