Manifestações populares na Islândia: mais de dez mil pessoas protestaram pela renúncia do primeiro-ministro depois da publicação dos Panama Papers (Reuters)
Gabriela Ruic
Publicado em 6 de abril de 2016 às 09h56.
São Paulo – O escândalo dos Panama Papers, vazamento de documentos que mostrou o envolvimento de centenas de empresas e personalidades políticas, empresariais, artísticas e esportivas com paraísos fiscais, atingiu em cheio a Islândia depois que seu primeiro-ministro Sigmundur David Gunnlaugsson foi ligado a uma empresa offshore que seria a dona de milhares de títulos dos principais bancos do país.
O problema? Essas instituições financeiras faliram durante a crise de 2008, ocasião em que Gunnlaugsson era o protagonista de um grupo que lutava contra resgates financeiros internacionais para a Islândia. Em 2009, se tornou presidente do Partido Progressista e, em 2013, virou o mais jovem primeiro-ministro da história do país.
Dentre as acusações que pairam sobre Gunnlaugsson estão conflitos de interesse, evasão fiscal e ocultação de patrimônio. Momentos depois da publicação da investigação, mais de 10 mil pessoas foram às ruas do país exigindo a sua renúncia no que foi considerada a maior manifestação política já vista na Islândia, que é lar de 300.000 habitantes.
Para o primeiro-ministro, contudo, as revelações dos Panama Papers não trouxeram novidades e ele rejeitou a ideia de que tenha infringido as leis do país. Além disso, a equipe por trás das investigações dos documentos da empresa panamenha Mossack Fonseca deixa claro que não se sabe se a posição social e política de Gunnlaugsson contribuiu para a valorização dos títulos dos bancos falidos.
Mas isso não foi suficiente para acalmar os ânimos da população, dos colegas de partido e de opositores. Como resultado dessa pressão pela renúncia, Gunnlaugsson primeiro pediu ao presidente islandês Ólafur Ragnar Grímsson a dissolução do parlamento, conforme informou o site Iceland Monitor. Ainda na parede, acabou anunciando a sua renúncia depois de se reunir com seu partido.
Panama Papers no mundo
A divulgação dessa que está sendo considerada a maior investigação sobre corrupção global aconteceu no último domingo, 3 de abril. O dia seguinte foi de nervosismo mundo afora, depois que dezenas de bancos, empresas, líderes políticos e empresariais, personalidades do mundo das artes e dos esportes viram seus nomes nos documentos da Mossack Fonseca.
Políticos ainda em exercício, como o primeiro-ministro britânico David Cameron, o presidente russo Vladimir Putin e o presidente chinês Xi Jinping, também estiveram presentes nas denúncias. Cameron se recusou a comentar os dados, Putin os viu como provocação e, na China, o governo trabalha para que a população não tenha acesso à notícias sobre o caso.
*Matéria modificada às 14h00 para atualização sobre a renúncia de Gunnlaugsson.