O médico que "tirou a economia brasileira da UTI", como costumava dizer Lula, caiu em março de 2006 e novamente em 2011 (Fabio Rodrigues Pozzebom/AGÊNCIA BRASIL)
Da Redação
Publicado em 7 de junho de 2011 às 22h16.
Brasília - O pesadelo que Antonio Palocci viveu em março de 2006, quando renunciou ao cargo de ministro da Fazenda por suspeitas de corrupção, se repetiu nesta terça-feira, quando apresentou sua demissão ao governo da presidente Dilma Rousseff por razões similares.
Palocci, que no ano passado foi o principal coordenador da campanha eleitoral que levou Dilma ao poder, renunciou nesta terça-feira ao cargo de chefe da Casa Civil encurralado por denúncias relacionadas a seu patrimônio, que segundo a imprensa se multiplicou por 20 nos últimos quatro anos.
Esse período foi justamente o de "renascimento político" do médico de 50 anos, que começou sua militância no trotskismo e com os anos amenizou suas posições até abraçar e impor a ortodoxia liberal que caracterizou o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, de quem foi ministro da Fazenda entre 2003 e 2006.
Há cinco anos, Palocci era considerado o "homem forte" do governo Lula, sobretudo depois da queda do então chefe da Casa Civil José Dirceu, cuja imagem foi afetada pelo escândalo de pagamento de propinas a parlamentares do PT.
O médico que havia "tirado a economia brasileira da UTI", como costumava dizer Lula, caiu em março de 2006 diante de um escândalo de corrupção que o manteve no olho do furacão durante meses.
Sua reputação de administrador responsável, elogiada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e outros organismos, foi manchada ainda com acusações de corrupção nos tempos em que era prefeito da cidade de Ribeirão Preto, cargo que trocou pelo Ministério da Fazenda em 2006.
Palocci negou cada acusação, mas sua imagem acabou destroçada quando surgiram as denúncias de que havia utilizado seu cargo de ministro para investigar de forma ilegal as contas bancárias do caseiro Francenildo, que afirmou tê-lo visto em festas que eram realizadas em uma mansão de Brasília e nas quais circulavam garotas de programa e lobistas.
Abatido e com sérios problemas familiares, apresentou sua renúncia a Lula e retornou à política meses depois, para ganhar uma cadeira de deputado pelo estado de São Paulo, após a Justiça ter declarado que era inocente do escândalo que custou seu cargo na Fazenda, visto que não foram encontradas provas de que estivesse envolvido em negócios escusos.
Em 2006 também fundou a empresa Projeto, com a qual se dedicou a funções de consultoria em finanças e investimentos, ao mesmo tempo em que exercia as atividades parlamentares.
Com essa empresa, segundo o jornal "Folha de S. Paulo", ganhou apenas no ano passado, quando também foi coordenador da campanha eleitoral de Dilma, cerca de R$ 20 milhões.
Essa fortuna acumulada em apenas 12 meses levantou suspeitas na oposição, que nos últimos 20 dias manteve Palocci sob intenso fogo cruzado. Pela segunda vez, o dirigente do PT não conseguiu ou não pôde resistir.
Desde que explodiu o escândalo, Palocci deu várias explicações, mas não convenceu nem a oposição, nem muitos parlamentares da base governista de que, como consultor, não praticou tráfico de influência.
Em comunicado emitido pouco depois das denúncias serem divulgadas, Palocci atribuiu seu alto preço no mercado de consultorias à experiência que tinha tido como ministro da Fazenda no governo Lula.
Essa experiência, no entanto, não teve o mesmo valor no mercado da política, do qual Palocci pode ter se despedido nesta terça-feira de forma definitiva, transformado no primeiro ministro brasileiro que renuncia duas vezes, em diferentes governos, por conta de assuntos ligados à ética.