O premier de Israel, Benjamin Netanyahu: para o chefe dos negociadores palestinos, Saëb Erakat, Netanyahu "enterrou a solução de dois Estados" (Thomas Coex/AFP)
Da Redação
Publicado em 18 de março de 2015 às 14h41.
Ramallah - Os palestinos não nutriam ilusões quanto às eleições israelenses, mas o triunfo de Benjamin Netanyahu, que afastou qualquer possibilidade de um Estado palestino enquanto ele estiver no poder, só fez aumentar sua determinação em prosseguir com a ofensiva diplomática e legal.
O primeiro-ministro Netanyahu parece estar em posição de inciar um novo mandato. Nas últimas horas de sua campanha ele prometeu impedir a criação de um Estado palestino e visitou simbolicamente os colonos de Jerusalém Oriental para garantir que não deixaria os palestinos estabelecer sua capital e que prosseguiria com a colonização.
Ao eleger Netanyahu, Israel "escolheu o caminho do racismo, da ocupação e da colonização, e não o caminho das negociações e da parceria", declarou à AFP Yasser Abed Rabbo, secretário-geral da Organização de Libertação da Palestina (OLP).
Para o chefe dos negociadores palestinos, Saëb Erakat, Netanyahu "enterrou a solução de dois Estados". "Mais um crime de guerra" que os palestinos vão denunciar junto ao Tribunal Penal Internacional (TPI) a partir de 1º de abril, assegurou.
"Não há parceria possível para a paz em Israel", ressaltou.
Máscaras caídas
Os palestinos deixaram de depositar suas esperanças em novas negociações - as últimas conduzidas com Netanyahu fracassaram em abril de 2014 - para acabar com quase 70 anos de conflito, e lançaram uma intensa campanha internacional para defender sua causa.
Do lado israelense, as palavras eram apaziguadoras nesta quarta-feira. Tzahi Hanegbi, próxima de Netanyahu, assegurou que se a Autoridade Palestina de Mahmud Abbas "mudar de atitude, encontrará a mão estendida do Likud (partido de Netanyahu) para retomar o diálogo".
A este respeito, a presidência palestina respondeu que cooperaria com "qualquer governo que defenda a solução de dois Estados, com Jerusalém Oriental como a capital do Estado da Palestina". Sem isso, "o processo de paz não terá nenhuma chance".
Neste contexto, os palestinos vão "acelerar, prosseguir e intensificar" sua ofensiva diplomática, garante Erakat.
Foi sob o governo de Netanyahu que os palestinos acionaram em 2012 a ONU para buscar o status de Estado observador. E ainda sob seu mandato, propuseram uma resolução em 2014 - que fracassou - ao Conselho de Segurança da ONU para garantir um fim à ocupação israelense.
E é justamente Netanyahu que eles querem denunciar ao TPI, uma iniciativa que lhes valeu um bloqueio por três meses de mais de dois terços das suas receitas próprias, que chegam atualmente a meio bilhão de dólares, pelo governo Netanyahu.
Para Mustapha Barghouthi, uma liderança palestina, "as máscaras caíram" com estas eleições. "Netanyahu matou a solução de dois Estados e Israel é oficialmente um Estado de apartheid", escreveu ele no Twitter.
Terça-feira, em plena eleição, Netanyahu transmitiu um vídeo alarmista: árabes israelenses "estão votando em massa, a direita está em perigo".
Para o porta-voz da OLP, Xavier Abu Eid, esta é a prova de que "Netanyahu conhece Israel melhor do que ninguém: mais assentamentos + discurso de ódio + negar aos palestinos seus direitos = eleição vencida", tuítou.
Mal conhecido
A União Europeia parabenizou Netanyahu, fazendo um apelo para a retomada do processo de paz.
Nas ruas palestinas reina a resignação, particularmente em Gaza, destruída por três ofensivas israelenses em seis anos e onde o Hamas islamita se diz "pronto e forte" em caso de nova guerra.
Os trabalhistas israelenses permitiriam à Israel mostrar sua melhor face à comunidade internacional, dizem os palestinos. Em contrapartida, "quando perguntamos quem eles gostariam que vencesse, a resposta mais frequente é Netanyahu, porque é melhor o mal que conhecemos", nota a escrito palestina Raja Shehadeh.
A direção palestina espera que, ao menos, o próximo governo israelense volte a depositar as taxas que recolhe em seu nome.
A OLP decretou o final da cooperação de segurança com Israel, uma decisão que ainda não foi implementada. "Precisamos aplicar", pede Abed Rabbo.