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Palestinos rejeitam plano bilionário de Trump

O chanceler da Autoridade Palestina afirmou que a proposta dos EUA "não é um plano de paz, e sim condições para uma rendição" da parte palestina

Palestina: primeira parte do acordo prometia investimentos de bilhões de dólares em infraestrutura nos territórios ocupados em troca de concessões em disputas históricas com Israel (Mohammed Salem/Reuters)

Palestina: primeira parte do acordo prometia investimentos de bilhões de dólares em infraestrutura nos territórios ocupados em troca de concessões em disputas históricas com Israel (Mohammed Salem/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 21 de maio de 2019 às 06h34.

Líderes palestinos rejeitaram um plano de paz formulado pelos EUA. A primeira parte do acordo, divulgada na segunda-feira (20), prometia investimentos de bilhões de dólares em infraestrutura nos territórios ocupados em troca de concessões em disputas históricas com Israel.

O presidente dos EUA, Donald Trump, e seu genro, Jared Kushner, anunciaram no domingo que os detalhes serão divulgados numa conferência econômica internacional no Bahrein, no final de junho.

O fórum econômico, que se chamará "Paz para a Prosperidade", será na capital, Manama, nos dias 25 e 26 de junho, segundo comunicado conjunto dos governos de Bahrein e dos EUA, divulgado pela agência oficial BNA.

Segundo o jornal The New York Times, este seria o primeiro passo do plano de Trump e de Kushner, que o presidente americano chama de "acordo do século". A ideia seria garantir compromissos financeiros de países ricos do Golfo Pérsico, principalmente Arábia Saudita e Emirados Árabes, assim como doadores de Europa e Ásia, para induzir os palestinos e seus aliados a fazer concessões políticas para resolver o conflito de décadas com Israel.

A Casa Branca indicou que está buscando dezenas de bilhões de dólares, mas não informou um número preciso. Segundo o NYT, a meta seria chegar a US$ 68 bilhões em ajuda para a região, incluindo também Egito, Líbano e Jordânia.

Trump e Kushner decidiram revelar seu tão esperado plano de paz em estágios, começando com o componente econômico. Somente após "ter um plano de investimentos", o governo americano passaria para os elementos políticos.

Diplomatas e veteranos de negociações anteriores entre israelenses e palestinos expressaram ceticismo com a iniciativa de Trump. As conversações de paz estão estancadas desde 2014. Segundo eles, o principal problema do plano é ignorar as questões mais espinhosas das negociações: a criação de um Estado palestino, as fronteiras e os territórios ocupados na Cisjordânia, Jerusalém como capital e o direito de retorno dos refugiados palestinos.

Aaron David Miller, um ex-negociador de paz no Oriente Médio, em governos republicanos e democratas, disse que a medida é "necessária, mas insuficiente". "Estão colocando o carro na frente dos bois. O que torna um plano atraente é o pacote completo. Como fica a situação de Jerusalém?", questionou Miller. "Eles podem até adiar a discussão sobre questões importantes, mas vão perder poder de barganha, e não ganhar."

O chanceler da Autoridade Palestina, Riyad al-Maliki, afirmou que a proposta dos EUA "não é um plano de paz, e sim condições para uma rendição" da parte palestina. "Não fomos informados por nenhuma parte da reunião anunciada para o Bahrein", disse Saeb Erekat, secretário-geral da Organização para Libertação da Palestina (OLP).

O presidente palestino, Mahmoud Abbas, recusou voltar à mesa de negociação enquanto Israel não cumprir várias condições, entre elas o fim da expansão dos assentamentos nos territórios palestinos ocupados - medida improvável diante das promessas do primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, durante a campanha eleitoral nos últimos meses.

Recentemente, Trump cortou a ajuda dos EUA aos palestinos na Cisjordânia e em Gaza. O plano não pretende mudar este cenário: a maior parte dos fundos viria de outras nações, principalmente de países do Golfo Pérsico.

Até agora, porém, nenhuma nação confirmou participação no encontro nem se comprometeu com investimentos. O plano também não explica quais entidades palestinas receberiam esse dinheiro.

"Os palestinos e muitos países árabes não aceitariam um plano como esse, que não prevê soluções para os problemas fundamentais da crise entre palestinos e israelenses", diz ao jornal O Estado de S. Paulo o cientista político Tamir Sheafer, da Universidade de Jerusalém. "Um plano econômico sem uma solução política de longo prazo seria visto pelos palestinos como uma tentativa de comprar seu silêncio, o que vai inviabilizar qualquer negociação. Não dá para comprar pessoas assim. Nenhuma quantidade de desenvolvimento vai substituir o direito de um povo de ser livre em uma terra própria."

Esta não é a primeira vez que Kushner tenta angariar bilhões de dólares para o desenvolvimento econômico no Oriente Médio. No ano passado, ele e o enviado da Casa Branca para a região, Jason Greenblatt, reuniram ministros das Relações Exteriores e organizações de fomento para uma conferência na Casa Branca sobre a reconstrução de Gaza. No entanto, uma nova crise entre Israel e o Hamas, grupo radical islâmico que controla Gaza, frustrou o projeto.

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