Ativista segura bandeira palestina: nem na rua nem nos gabinetes oficiais é possível encontrar confiança com a chegada do presidente americano (Mohamad Torokman/Reuters)
Da Redação
Publicado em 19 de março de 2013 às 10h32.
Gaza/Ramala - Os dirigentes palestinos mantêm um silêncio oficial sobre as expectativas de que o processo de paz seja reativado com a visita do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, embora de maneira privada reconheçam que não têm esperanças de que isto ocorra.
"Há pequenas mobilizações sociais contra a visita, mas o importante não é que exista gente contra, que existe em qualquer lugar, o problema aqui é que não há ninguém a favor. Ninguém acredita que sua chegada irá servir para nada", disse à Agência Efe uma fonte da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) que pediu para não ser identificada.
Nem na rua nem nos gabinetes oficiais é possível encontrar confiança com a chegada do presidente americano, nem se espera que a visita seja mais do que uma momentânea chamada de atenção para o conflito no Oriente Médio.
Os dirigentes palestinos se limitam a desejar uma clara afirmação de Obama de que os assentamentos israelenses na Palestina são perigosos para a solução de dois Estados, algo que seu governo afirma cada vez que são anunciados novos planos colonizadores.
Na semana passada, Obama admitiu em uma entrevista a uma televisão israelense que acha "difícil atualmente" reiniciar o processo de paz, embora tenha dito que esse continua sendo "o melhor e único caminho".
O chefe negociador palestino, Saeb Erekat, assegurou recentemente que tanto Obama como o mundo "têm que conseguir de Israel somente uma frase: que aceita e está comprometido com o princípio de dois Estados segundo as fronteiras de 1967".
Erekat também afirmou que a OLP mantém suas exigências para voltar à mesa de negociação: o fim do crescimento dos assentamentos, a aceitação de Jerusalém e as fronteiras de 67 como ponto de partida, um marco temporário claro para o começo e fim do diálogo e a libertação dos presos.
Os líderes palestinos se preocupam com o fato da visita de Obama ficar mais centrada em questões como o programa nuclear iraniano ou a guerra civil na Síria, ao invés de impulsionar o fim da ocupação israelense.
"Não podemos esperar milagres desta visita. O mais provável é que não tenha nenhuma influência direta em nossa situação", disse o ex-ministro palestino Gashan al-Khatib. O dirigente, no entanto, espera que a vinda de Obama seja pelo menos "um começo" para que os EUA prestem atenção ao problema e no futuro possam desbloquear o processo de paz.
Wasel Abu Yosef, alto cargo da OLP, denunciou na rádio Voz da Palestina que a administração americana "não é séria ou não tem interesse em pressionar Israel para que interrompa os assentamentos". Além disso, "atende a outros assuntos regionais ao invés da causa palestina", por isso o organismo "não espera muito desta visita".
A Casa Branca assegurou na semana passada a uma delegação liderada por Erekat, que foi para Washington para discutir a visita, que o presidente tratará de "preparar o terreno" para reiniciar o diálogo, embora não possa lançar neste momento uma nova iniciativa de paz, afirmaram à Efe fontes palestinas.
As negociações diretas entre as partes, impulsionadas por Obama em seu primeiro mandato, reiniciaram-se brevemente em setembro de 2010 para serem suspensas três semanas mais tarde pela negativa israelense de deixar de ampliar os assentamentos e a recusa da palestina de conversar nestas condições.
Em Ramala, foram vistos hoje alguns cartazes chamando a atenção de Obama para o sofrimento causado pela ocupação israelense. Mas o sentimento geral na Palestina é de pessimismo e indiferença diante de sua chegada.
Já a posição oficial é de cortesia e tanto a OLP como a ANP (Autoridade Nacional Palestina) deram as boas-vindas ao presidente americano.
"Obama será bem-vindo na Palestina" disse à agência Efe Mahmoud Labadi, porta-voz de Relações Internacionais do partido Fatah, liderado por Mahmoud Abbas.
"Necessitamos buscar a paz através dos grandes esforços dos EUA. Expressamos aos americanos a necessidade de que pressionem Israel para que parem os assentamentos e se reiniciem as negociações", acrescentou.
Já o deputado do Fatah Fayez Saqa se mostrou mais crítico e disse que a visita de Obama é para Israel e que ele apenas se aproximará de Ramala. Para ele, trata-se de "uma visita de cortesia a Israel e de turismo político à Palestina" que não ajudará a região.
"Israel não poderia cometer todas as violações do direito internacional e dos direitos do povo palestino que comete se não tivesse o claro apoio das instituições dos EUA", afirmou Saqa.
Alguns, no entanto, não perdem a esperança, como o analista político Khalil Shahin, convencido de que a presença de Obama "pode colocar a escada que ajude ambas as partes a descer da árvore" e significará "retornar a algum tipo de negociação, ainda que seja para explorar oportunidades para negociar os termos da negociação".