Cristal de paládio (Wikimedia Commons/Exame)
Em momentos de tensão internacional, os investidores acabam procurando os famosos "bens refúgios" para se proteger, como o ouro ou títulos do tesouro dos Estados Unidos. Entretanto, existe um bem refúgio que nos últimos anos se valorizou muito mais do que o ouro: o paládio.
Descoberto em 1803 pelo químico inglês William Wollaston, a cotação do paládio teve uma valorização de mais de 675% entre 2016 e 2021, passando de cerca de US$ 400 para quase US$ 2,7 mil.
Uma valorização muito maior do que a do ouro, que no mesmo período subiu "apenas" 230%, passando de US$ 800 para US$ 1,9 mil.
Somente entre outubro 2021 até abril de 2022, o paládio subiu mais de 50%.
Essa valorização está ligada não apenas a escassez do elemento, muito raro em natureza e ligado à platina, mas também ao fato que a Rússia, grande exportadora do mineral, vai interromper as vendas no exterior por causa das sanções impostas após a invasão da Ucrânia.
A Rússia produz cerca de 40% do paládio do mundo , que é usado principalmente em conversores catalíticos automotivos.
A alta das cotações aumentou nos últimos dias depois que duas plantas estatais russas de produção de paládio, a JSC Krastsvermet e a Usina Prioksky, foram suspensas pelas Bolsas de Valores de Londres e Chicago, aumentando as preocupações sobre interrupções no fornecimento.
Também a Bolsa de Valores de Osaka, no Japão, está considerando bloquear empresas russas produtoras de paládio. Se isso ocorrer, os analistas esperam que a liquidez dos contratos futuros do mineral diminuam por um bom tempo.
Mas mesmo antes da guerra na Ucrânia, o fornecimento de paládio já estava sob pressão significativa, por causa da forte demanda do setor de veículos e preocupações de estoque.
A crescente atenção às questões climáticas por parte da opinião pública internacional já tinha elevado o preço do mineral.
Isso pois os motores que têm conversores que utilizam o paládio são menos poluentes.
Além disso, o mundo está cada vez menos comprando motores a diesel, mais poluentes,cujos conversores usam platina. E isso eleva ainda mais a cotação do paládio.
Não por acaso, mesmo com essa alta nos preços do paládio, os preços da platina continuam estagnantes há anos.
Além de ser raro, o paládio é excepcionalmente versátil.
Por isso sua procura é elevada, pois seu uso varia do setor de jóias até aplicações industriais.
Quase um destino já escrito para um metal que ganhou o nome da versátil deusa grega Pallas Athena, símbolo da inteligência e dos estudos, e padroeira da capital grega Atenas.
A produção global atualmente é de cerca de 200 toneladas por ano. Insuficiente para fazer frente a demanda mundial, muito mais alta.
Por isso, os preços não param de subir. E muitos fundos já estão se posicionando para tentar interceptar essa alta das cotações.
Não existem muitas alternativas válidas ao paládio na indústria. E qualquer material que consiga ter as mesmas características físicas e de eficiência vai demorar anos para ser desenvolvido.
Por isso, tudo indica que essa “onda do paládio” vai continuar no futuro.