Armas nucleares: "Não aceitamos o argumento de que o Irã tem o direito de reduzir o cumprimento do acordo", informaram os países (Denis Balibouse/Reuters)
Reuters
Publicado em 14 de janeiro de 2020 às 09h26.
Paris/Londres — Reino Unido, França e Alemanha acionaram o mecanismo de resolução de disputas do acordo nuclear de 2015 com o Irã devido a violações cometidas por Teerã, mas disseram que não vão se juntar à campanha dos Estados Unidos de exercer máxima pressão sobre a República Islâmica.
"Não aceitamos o argumento de que o Irã tem o direito de reduzir o cumprimento do JCPoA (sigla em inglês do acordo)", disseram os três países em comunicado conjunto, dizendo que não tinham escolha a não ser ativar o processo que poderia levar a sanções da ONU.
"Em vez de reverter o curso, o Irã optou por reduzir ainda mais a conformidade", acrescentaram.
Os aliados europeus dos Estados Unidos tentam impedir o fracasso do acordo nuclear desde que o presidente Donald Trump retirou o país do pacto em 2018. Segundo o acordo, sanções internacionais contra o Irã foram suspensas em troca de Teerã aceitar limites ao seu programa nuclear.
Mas Washington reativou suas sanções, privando o Irã da maioria dos benefícios econômicos. O regime reagiu violando gradualmente os limites do acordo, e neste mês disse que descartará os limites à produção de urânio enriquecido, uma medida que os europeus disseram que provavelmente os forçará a reagir.
Em um dos clamores mais fortes da Europa por um novo acordo que substitua o pacto de 2015 abandonado por Washington, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, disse que a maneira de avançar é aprovar um novo "acordo de Trump".
Conforme o mecanismo de resolução de disputas delineado no acordo, a seguir a UE informará as outras partes do pacto -- Rússia, China e o próprio Irã. Depois haverá 15 dias para resolver as diferenças, um prazo que pode ser prorrogado por consenso.
O processo pode acabar levando a um "ricochete" -- a reativação de sanções adotadas em resoluções anteriores da Organização das Nações Unidas (ONU).
"Em algum momento temos que mostra nossa credibilidade", disse um diplomata europeus. Um segundo diplomata disse: "Nossa intenção não é reativar sanções, mas resolver nossas diferenças por meio do mesmo mecanismo que foi criado no acordo".
A saída norte-americana do acordo nuclear, e os transtornos econômicos graves causados pelas sanções que vieram a seguir, estimularam uma das maiores escaladas nas hostilidades entre Teerã e Washington desde a Revolução Islâmica de 1979.
A tensão se agravou seriamente desde 3 de janeiro, quando os EUA mataram o comandante militar mais poderoso do Irã, Qassem Soleimani, em um ataque de drone em Bagdá. O Irã respondeu lançando mísseis contra bases no Iraque que abrigam tropas norte-americanas.