Omar Paganini (à esq.), chanceler do Uruguai, cumprimenta Mauro Vieira, ministro das Relações Exteriores do Brasil, durante cúpula do Mercosul em Montevidéu (Federico Gutiérrez/EFE)
Repórter de macroeconomia
Publicado em 5 de dezembro de 2024 às 15h15.
Última atualização em 5 de dezembro de 2024 às 15h16.
Os países que integram o Mercosul chegaram a um consenso em favor do acordo com a União Europeia, e agora esperam a reunião dos presidentes para selar o tratado, na sexta-feira, 6, disse Omar Paganini, chanceler do Uruguai.
"De manhã, houve uma reunião do Conselho de Mercado Comum com os chanceleres. Se repassaram todos os temas do semestre, e destaco que todos os países se pronunciaram a favor do acordo com a União Europeia, em respeito ao texto para o acordo de livre comércio", disse Paganini, em entrevista coletiva, após o fim do encontro, em Montevidéu.
Ele disse ainda que o acordo será confirmado na sexta-feira, 6, durante a reunião dos presidentes do bloco, que vão encerrar o processo de negociação. O ministro uruguaio disse que os temas que ficaram pendentes após a assinatura inicial do acordo, em 2019, "estão agora no texto e foram fechados".
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, viajou a Montevidéu, o que foi visto como um forte sinal de que a assinatura do acordo será feita durante esta edição da Cúpula de Líderes do Mercosul, que ocorre nesta quinta, 5, e na sexta, 6.
"A linha de chegada do acordo UE-Mercosul está à vista. Trabalhemos, vamos cruzá-la. Temos a oportunidade de criar um mercado de 700 milhões de pessoas, a maior associação de comércio e investimentos que o mundo já viu. Ambas as regiões serão beneficiadas", escreveu Leyen sua conta na rede social X.
O acordo entre a União Europeia e o Mercosul prevê adotar o livre-comércio entre os dois blocos, envolvendo mercadorias como produtos agrícolas, alimentos e aeronáutica. Cada item terá cotas de importação e exportação.
O termo foi firmado em 2019, após duas décadas de negociações, mas depende de uma aprovação final dos países para entrar em vigor. Depois daquela aprovação, países europeus pediram para adicionar um anexo no qual exige mais garantias dos países latino-americanos de que cumprirão o Acordo de Paris e a legislação trabalhista internacional, o que reabriu as negociações.
A assinatura do acordo por Von der Leyen não significa que ele entrará em vigor automaticamente. Após a assinatura, o tratado terá de ser votado pelo Conselho Europeu (grupo que reúne os chefes de estado), pelo Parlamento Europeu (congresso formado pelos eurodeputados, que são eleitos para representar seus países na União Europeia) e pelos Legislativos de todos os países da UE e do Mercosul. Não há prazo final previsto para essas etapas.
França e Polônia se posicionam contra o acordo e poderiam barrá-lo. Nesta quinta, o presidente francês Emmanuel Macron voltou a dizer que é contra o acordo "como está hoje".
Uma saída para desviar da oposição francesa é separar a parte comercial da parte política. Assim, essa parte comercial poderia se aprovada por maioria simples dos votos no Parlamento Europeu.
Para derrubar o acordo no Parlamento Europeu, a França teria de obter apoio de ao menos outros quatro países, que somem ao menos 35% da população do continente, um apoio ainda incerto. Se países de peso, como Áustria ou Itália, aderirem à França, este percentual poderia ser atingido.
O acordo é defendido na Europa pela Alemanha e pela Espanha, que querem ampliar suas exportações de produtos industriais, como carros. Já a França é contra porque teme que seus agricultores poderão ter perdas ao competirem com produtos vindos da América do Sul.
Um estudo feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgado em fevereiro, aponta que o acordo deve aumentar o PIB brasileiro em média em 0,46% ao ano, o equivalente a US$ 9,3 bilhões anuais, de 2024 a 2040. O ganho se deverá não só ao aumento de exportações, mas também de novas parcerias e acesso dos brasileiros a insumos europeus e novas tecnologias.
Para o agro, o crescimento da produção a ser gerado pelo acordo deverá ser de 2%, ou US$ 11 bilhões anuais. A maior parte deste ganho (75%) se dará em quatro setores: carne de suínos e de aves, pescado e preparos alimentares, óleos vegetais e gado vivo.
"Apenas as carnes de suíno e aves estão entre os [produtos] que iriam se beneficiar com aumento de cotas de exportação. Nos demais, como carne bovina, açúcar e arroz processado, as cotas adicionais não se reverteriam em grande aumento de produção. Isso porque as exportações para a União Europeia não representam uma fração elevada da exportação total ou da produção doméstica", aponta o estudo do Ipea.
O Brasil aumentará suas exportações totais em cerca de 3%. O avanço será gradual, partindo de 0,9% em 2025 até atingir o valor máximo, de 3,4%, em 2034. Depois, se estabilizaria na faixa de 3% nos anos seguintes, prevê o Ipea.
Com EFE.