Genebra/Freetown - Duas nações do oeste da África e uma instituição médica de caridade que combatem a pior epidemia de ebola da história criticaram a Organização Mundial da Saúde (OMS) nesta sexta-feira por sua reação lenta, dizendo que é preciso agir mais para salvar as vítimas ameaçadas pela doença e pela fome.
Com o saldo de mortes em mais de mil pessoas e aumentando, a agência da Organização das Nações Unidas (ONU) está sendo questionada sobre o tempo que levou para declarar o surto, que já dura meses, como “emergência de saúde pública internacional”, o que fez no dia 8 de agosto.
Os Médicos Sem Fronteiras (MSF), um dos grupos mais ativos no combate ao ebola, afirmou que sua disseminação criou uma “situação de guerra” nos países mais afetados – Serra Leoa, Libéria e Guiné. A Nigéria também enfrenta um surto menor e separado.
O presidente de Serra Leoa, Ernest Bai Koroma, disse que os dois únicos centros de tratamento de seu país estão “esgotados”.
Na vizinha Libéria, o ministro da Informação, Lewis Brown, afirmou que as áres rurais atingidas pelo ebola sob quarentena de tropas sofrem com a carência de alimentos e que comunicou essa mensagem à OMS, que coordena os esforços internacionais para tentar controlar a doença.
A entidade informou nesta sexta-feira que o saldo de mortes pela epidemia, revelada em março na Guiné, subiu para 1.145, já que 76 novas mortes foram relatadas em dois dias até 13 de agosto nas quatro nações afetadas até o momento.
O temor do vírus, que causa febre, vômitos e, em sua forma avançada, hemorrogia intensa e falência de órgãos, está prejudicando os negócios na África e ameaça manchar a imagem do continente como força econômica ascendente.
Brown disse que a Libéria, que assim como Serra Leoa e Guinéa mobilizou tropas para isolar uma zona fronteiriça comum aos três países que concentra a maior parte dos casos de ebola, também precisa de mais ajuda e de funcionários de saúde.
Na quinta-feira, a OMS disse que seus funcionários viram provas de que o número de casos relatados e de mortes subestimaram imensamente a escala do contágio e que irá coordenar “uma escalada de grande porte da reação internacional”.
Reação
A presidente do MSF, Joanne Liu, comparou o atual surto de ebola a uma situação “de tempos de guerra”. “É como um fronte de batalha, está se movendo, avançando, mas não fazemos ideia de como irá se espalhar”.
Ela ainda afirmou que a OMS precisa “mostrar liderança” e que mais especialistas são necessários com urgência nos locais afetados. “Acho que acordaram tarde demais”, declarou Liu.
A Libéria solicitou ajuda alimentar de emergência de doadores. Agências internacionais estão estudando a entrega de alimentos a pessoas na Libéria e em Serra Leoa isoladas do mundo, relatou uma autoridade do Banco Mundial.
Serra Leoa declarou o ebola uma emergência nacional, assim como a Libéria, que espera que dois de seus médicos diagnosticados com a doença possam iniciar o tratamento com o suprimento limitado da droga experimental ZMapp. A OMS afirmou ter saudado a decisão do governo canadense de doar várias centenas de doses de uma vacina experimental para ajudar na reação ao surto.
A empresa farmacêutica canadense Tekmira Pharmaceuticals Corp também estuda fabricar mais doses de seu tratamento experimental do ebola, informou seu executivo-chefe, Mark Murray.
-
1. O que é ebola?
zoom_out_map
1/13 (Tommy Trenchard/Reuters)
São Paulo -
Ebola é uma
doença viral aguda que causa febre hemorrágica. É causada por três das cinco espécies dentro do gênero. Duas espécies são capazes de infectar seres humanos, mas não parecem causar a doença. Os outros três podem causar graus variáveis de doença. O vírus Ebola Zaire é a estirpe mais mortal, e tem sido identificada como a causa do surto atual. Em epidemias anteriores, esta estirpe teve uma taxa de mortalidade de 90%.
-
2. A origem
zoom_out_map
2/13 (Frederick Murphy/CDC/Handout via Reuters)
A origem do vírus é incerta. Mas alguns especialistas acreditam que os morcegos podem abrigar o vírus em seu trato intestinal. Os primeiros seres humanos infectados e que espalharam a doença provavelmente caçaram e comeram um animal infectado.
-
3. A epidemia atual
zoom_out_map
3/13 (Tommy Trenchard/Reuters)
Este já é considerado o maior surto desde que o vírus ebola foi descoberto há quase 40 anos. O surto foi declarado em março, na Guiné. Desde então, a doença se espalhou para a Libéria, Serra Leoa e Nigéria e matou 60% dos infectados. São 1323 pessoas infectadas e 887 mortes, segundo o último balanço da Organização Mundial da Saúde (OMS). Cerca de 60 mortes foram de trabalhadores de saúde que procuravam controlar a doença.
-
4. Os sintomas
zoom_out_map
4/13 (AFP)
Após o contágio, o paciente pode demorar até 21 dias antes de manifestar a doença. Os sinais são semelhantes aos da gripe, incluindo dores abdominais, febre, vômitos e diarreia. O quadro se agrava com a desidratação, insuficiência do fígado e dos rins, e hemorragia.
-
5. Transmissão
zoom_out_map
5/13 (Ahmed Jallanzo/Agência Lusa/Agência Brasil)
O vírus é transmitido diretamente pelo contato direto com sangue ou fluidos corporais dos infectados, inclusive dos mortos. O contágio é maior quando os pacientes já estão em estágios terminais, com hemorragia interna e externa, vômitos e diarreia, que contêm altas concentrações do vírus.
-
6. O tratamento
zoom_out_map
6/13 (Cellou Binani/AFP)
Não há um remédio específico para a doença. Os sintomas costumam ser tratados separadamente. Por exemplo, o soro intravenoso pode evitar a desidratação, enquanto um antitérmico diminui a febre. Já os analgésicos podem diminuir as dores. Aqueles que têm a doença identificada e recebem tratamento mais cedo têm mais chances de sobreviver à infecção. Infelizmente, como os sintomas são genéricos e parecidos com de outras doenças, o diagnóstico pode demorar.
-
7. Como se proteger
zoom_out_map
7/13 (AFP)
A melhor forma de se proteger da doença é evitar os locais onde há surto de ebola. Entre as recomendações do ministro da Saúde, Arthur Chioro, para quem tiver de viajar para estes países estão, por exemplo, seguir recomendações que serão dadas pelas autoridades sanitárias locais. Chioro aconselha os viajantes a não entrar em contato com secreções, vômitos e sangue das pessoas que são vítimas das doenças, que devem estar em isolamento e tratamento médico.
-
8. Epidemia global
zoom_out_map
8/13 (Tommy Trenchard / Reuters)
O risco de o vírus ser disseminado da África para a Europa, Ásia ou para as Américas é extremamente baixo, de acordo com especialistas em doenças infecciosas. O professor belga Peter Piot, um dos descobridores do vírus ebola, descartou uma epidemia fora do continente africano, em entrevista à AFP. Mesmo que um portador do ebola viaje até Europa, Estados Unidos ou outra região da África, o cientista não acredita que isto possa causar uma epidemia importante, pois a infecção requer um contato muito próximo. Mas Piot pediu que as vacinas e os tratamentos, promissores nos animais, sejam testados em humanos.
-
9. Vacina experimental
zoom_out_map
9/13 (sxc.hu)
Pesquisadores americanos planejam testar, em breve, uma vacina experimental contra o ebola. Se bem sucedida, poderá imunizar até 2015 trabalhadores de saúde, que estão na linha de fogo da epidemia. No próximo mês, os Institutos Nacionais da Saúde dos Estados Unidos começarão os testes em humanos da vacina, que já é promissora nas experiências em macacos.
-
10. Fronteiras fechadas
zoom_out_map
10/13 (Gary Cameron/Reuters)
Guiné, Libéria e Serra Leoa anunciaram na sexta-feira (2) que vão colocar em quarentena a região fronteiriça comum, onde surgiu o último surto do vírus ebola. O anúncio foi feito durante uma reunião de emergência para discutir a epidemia e depois de a Organização Mundial de Saúde (OMS) alertar que o ebola pode provocar uma perda catastrófica de vidas e prejuízos econômicos, caso a epidemia não seja controlada.
-
11. Não há mercado para a vacina
zoom_out_map
11/13 (AFP)
Segundo a AFP, até agora não se conseguiu convencer as companhias farmacêuticas a investir em uma vacina contra o ebola. Andrea Marzi e Heinz Feldmann, do instituto de virologia NIAID, disseram em artigo publicado em abril que, com surtos esporádicos que costumam afetar um pequeno número de pessoas na África, não existe um mercado comercial para uma vacina contra a doença.
-
12. Medicação
zoom_out_map
12/13 (Samaritans Purse/Divulgação via Reuters)
Herve Raoul, especialista em patógenos e pesquisador do Instituto Médico Francês de Saúde, disse à AFP que o ideal é desenvolver um antiviral que ajude os doentes a superar a fase mais aguda da doença. No entanto, essa medicação não existe hoje. Atualmente, os especialistas só podem aconselhar medidas preventivas, como isolar os infectados, tomar precauções para evitar o contato com fluidos corporais e enterrar os mortos com rapidez.
-
13. Agora veja 10 países onde respirar faz mal à saúde
zoom_out_map
13/13 (Reuters)