Oscar Pistorius: promotor acusou o atleta de matar intencionalmente a sua namorada, uma conhecida modelo de 29 anos (Siphiwe Sibeko/Reuters)
Da Redação
Publicado em 3 de março de 2014 às 13h59.
Pretória - O julgamento do campeão paralímpico sul-africano Oscar Pistorius, acusado de assassinar a namorada Reeva Steenkamp em fevereiro de 2013, começou nesta segunda-feira em Pretória com o testemunho de uma vizinha, que disse ter ouvido uma mulher dar "gritos de gelar o sangue" no momento do crime.
No início do julgamento, que durará cerca de três semanas e que será transmitido pela televisão, o promotor Gerri Nel acusou o atleta de matar intencionalmente a sua namorada, uma conhecida modelo de 29 anos, no Dia dos Namorados (São Valentim) do ano passado.
Em resposta, Pistorius, de 27 anos, se declarou perante o juiz "não culpado" do assassinato do qual é acusado. Também se declarou "não culpado" de outras acusações contra ele, como posse e uso de armas ilegais.
Se for considerado culpado de assassinato, o atleta, famoso por ter sido o primeiro amputado das duas pernas a competir em Jogos Olímpicos, em Londres em 2012, pode ser condenado a 25 anos de prisão.
A primeira testemunha a comparecer perante o tribunal, Michelle Burger, uma professora universitária cujo quarto se localiza a 177 metros do de Pistorius, contou o que ouviu na madrugada do crime.
"Logo depois das três da manhã, acordei com os gritos terríveis de uma mulher (...) Estava pedindo ajuda", disse Burger.
"Depois ouvi outros gritos, piores que os anteriores. A mulher estava muito assustada (...) Soube que aconteceria algo terrível".
A testemunha garante ter ouvido posteriormente quatro tiros, o que corresponde aos tiros que Pistorius disparou contra a namorada, que estava dentro do banheiro de seu quarto. Após os tiros, Burger disse que ouviu um homem pedindo ajuda.
O advogado Barry Roux, contratado pelo atleta, submeteu posteriormente a testemunha a um intenso contra-interrogatório, perguntando insistentemente como ela estava tão segura de ter ouvido quatro tiros, quando seu marido, que irá testemunhar posteriormente, teria ouvido quatro, cinco ou até seis.
"Os acontecimentos daquela noite foram extremamente traumatizantes para mim. O medo que havia na voz desta mulher é difícil de descrever perante o Tribunal (...) Ouvi o terror na voz desta mulher", insistiu Michelle Burger, que falou de "gritos de gelar o sangue".
Oscar Pistorius declarou novamente ter disparado contra a porta do banheiro de seu quarto acreditando que havia um ladrão, e não sua namorada.
O incidente ocorreu sem testemunhas na luxuosa residência de Pistorius, em um complexo de alta segurança de Pretória cercado por muros e vigiado por guardas.
"Acredito que a acusação não tem nenhuma base para acreditar que eu quis matar Reeva", afirmou o atleta em uma declaração lida por seu advogado, Kenny Oldwage.
"Embora eu admita os tiros fatais contra Reeva, foi um acidente (...) Acreditava que Reeva ainda estava na cama", acrescentou, mantendo sua posição.
O advogado Oldwage acrescentou que a investigação policial começou mal, porque, segundo ele, o local do crime foi contaminado e manipulado pelos agentes, que não tomaram precauções suficientes.
Já o promotor Gerrie Nel, também firme em sua posição, afirmou que o crime foi premeditado.
"O acusado disparou contra a vítima com a intenção de matar", declarou.
Centenas de jornalistas sul-africanos e estrangeiros estão em Pretória para cobrir as audiências, que, em sua maior parte, poderão ser transmitidas ao vivo por televisão e rádio. Para o processo foi criada inclusive uma rede especial.
Até o fim do processo, no dia 20 de março, os especialistas - em balística, forenses e científicos - terão um papel muito importante e precisarão esclarecer, entre outras coisas, o ângulo de tiro de Pistorius, além de revelar o conteúdo dos telefones celulares dos dois protagonistas.