O presidente francês, Nicolas Sarkozy, é exaltado como herói pelos rebeldes da Líbia (John Moore/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 12 de abril de 2011 às 12h00.
Trípoli - A França e a Grã-Bretanha, primeiras a lançar ataques aéreos contra a Líbia em coalizão com os Estados Unidos, disseram nesta terça-feira que a Otan precisa intensificar os bombardeios ao armamento pesado de Muammar Kadafi para proteger os civis.
A Otan assumiu as operações no dia 31 de março, mas o intenso bombardeio governamental sobre a cidade sitiada de Misrata, no oeste líbio, prosseguiu, e relatos dão conta de centenas de civis mortos.
A crítica de Londres e Paris se seguiu a um novo bombardeio em Misrata na segunda-feira e ao fracasso de uma iniciativa de paz da União Africana.
Ecoando queixas dos rebeldes, o ministro francês das Relações Exteriores, Allain Juppé, declarou à rádio France Info sobre os ataques da Otan: "Não é o bastante".
Ele afirmou que a Otan deve impedir Kadafi de bombardear civis e eliminar o armamento pesado usado contra Misrata.
William Hague, o ministro britânico das Relações Exteriores, também disse que a Otan precisa intensificar os ataques, pedindo que outros países da aliança igualem o poder de fogo aéreo de Londres na Líbia.
A Otan, que aumentou no fim de semana os ataques aéreos -- que realiza com aval da ONU para proteger civis -- no entorno de Misrata e da cidade de Ajdabiyah, front de batalha no leste, rejeitou as críticas.
"A Otan está conduzindo suas operações militares na Líbia com vigor dentro do mandato atual. O ritmo das operações é determinado pela necessidade de proteger a população", declarou.
A televisão estatal líbia disse nesta terça-feira que um ataque da Otan à cidade de Kikla, ao sul de Trípoli, matou civis e membros da força policial, sem dar detalhes.
A desavença dentro da aliança aconteceu depois do forte bombardeio e dos combates de rua na cidade costeira de Misrata na segunda-feira, onde a entidade Human Rights Watch afirma que pelo menos 250 pessoas, a maioria civis, foram mortas.
Os rebeldes líbios rejeitaram um plano de paz da União Africana na segunda-feira porque não incluía a remoção de Kadafi, a quem acusam de ataques indiscriminados contra seu próprio povo.
Papel pleno
O presidente francês, Nicolas Sarkozy, exaltado como herói pelos rebeldes, liderou a iniciativa de intervenção militar na Líbia e seus aviões de guerra foram os primeiros a atacar as forças de Kadafi.
Em um comentário contundente sobre o comando da Otan, Juppé acrescentou: "A Otan precisa desempenhar seu papel plenamente. Ela queria assumir as operações, aceitamos isso".
A Otan é impopular entre muitos insurgentes, tanto por estes acreditarem que a entidade reagiu inicialmente com lentidão aos ataques do governo quanto por ter matado quase 20 rebeldes em dois bombardeios equivocados.
Embora tenham elogiado a aliança recentemente por seus ataques terem ajudado a frustrar um grande ataque governamental contra Ajdabiyah, muitos dos rebeldes em campo ainda saúdam Sarkozy.
Os insurgentes assumiram posições cerca de 40 quilômetros a oeste de Ajdabiyah na terça-feira depois de embates na segunda que mataram pelo menos três de seus combatentes em um ataque com foguete.
Não havia sinais de luta nesta terça-feira entre Ajdabiyah e o pólo petrolífero de Brega, fronte leste onde os dois lados avançaram e recuaram durante semanas.
A Cruz Vermelha disse que enviará uma equipe a Misrata para ajudar os civis aprisionados pelos combates.
O líder rebelde Mustafa Abdel Jalil disse, após as conversas com a missão de paz africana no encrave insurgente de Benghazi:
"A iniciativa da União Africana não inclui a saída de Kadafi e seus filhos do cenário político líbio, portanto está ultrapassada."
A União Africana declarou em um comunicado que prosseguirá com a missão.