Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrãnia, que irá à reunião da Otan e pressiona para que seu paíse entre no bloco (Wojtek Radwanski/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 9 de julho de 2024 às 06h00.
A cúpula do 75º aniversário da Otan em Washington deveria mostrar o triunfo de uma aliança maior e mais forte, mas será marcada pela incerteza a respeito da guerra na Ucrânia e pela sombra de Donald Trump, candidato à presidência dos Estados Unidos.
O anfitrião será o presidente americano, o democrata Joe Biden, que luta pela sua sobrevivência política depois de um debate desastroso contra o republicano, um cético da Otan.
Biden receberá os líderes da aliança transatlântica de 32 nações durante três dias a partir de terça-feira. Ele convidou também os líderes da Austrália, do Japão, da Nova Zelândia e da Coreia do Sul, um sinal do papel crescente da Otan na Ásia face a uma China em ascensão.
Mas a estrela da cúpula será o presidente ucraniano, Volodymy Zelensky, cujo país não é membro da aliança.
A Otan, fundada em 1949 para fornecer defesa coletiva contra a União Soviética, retornou à sua missão original quando os aliados se uniram em defesa da Ucrânia após esta ter sido invadida pela Rússia em 2022.
A Ucrânia contou com a ajuda da maior parte do Ocidente e esperava derrotar a Rússia em pouco tempo. Mas as tropas russas continuaram avançando no leste do país.
Um líder europeu reconheceu que a atmosfera antes da cúpula da Otan tornou-se "sombria".
"Esta cúpula será muito diferente dos planos iniciais porque ocorre em um momento crítico para a segurança europeia", disse a fonte, que pediu anonimato. "A Rússia está hoje em uma situação muito confortável. Eles acham que podem apenas esperar", afirmou.
Max Bergmann, diretor do programa Europa, Rússia e Eurásia do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, estima que a cúpula ocorre "no melhor e no pior dos momentos".
"O melhor dos momentos, no sentido de que a Aliança sabe o que está em causa: dissuadir a Rússia. Os membros da Aliança estão gastando mais", disse ele.
"Mas também estamos no pior dos momentos – obviamente por causa da guerra na Ucrânia, dos desafios do aumento dos gastos europeus com a defesa, das preocupações com a confiabilidade dos Estados Unidos", explicou.
Trump, que no passado manifestou admiração pelo presidente russo, Vladimir Putin, critica há muito tempo a Otan por considerá-la um fardo injusto para os Estados Unidos, que gastam muito mais do que qualquer outro aliado com a entidade.
O republicano, que tem uma pequena vantagem ante Biden nas pesquisas, garante que pode parar a guerra, e os seus assessores levantaram a possibilidade de condicionar a futura ajuda dos EUA à entrada da Ucrânia em negociações para ceder território.
A França, onde o presidente Emmanuel Macron considerou enviar tropas para a Ucrânia, tem agora o seu próprio cenário político para resolver, com difíceis discussões entre os partidos para nomear um novo governo, depois de a esquerda ter arrancado inesperadamente a vitória da extrema direita nas eleições legislativas, que terminaram sem maioria absoluta.
O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, visitou Putin dias depois de o seu país assumir a presidência rotativa da UE e pouco antes da cúpula da Otan.
Esta cúpula marcará também a estreia diplomática do primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, após a esmagadora vitória eleitoral do Partido Trabalhista.
O secretário-geral em fim de mandato da Otan, Jens Stoltenberg, liderou esforços para colocar a própria aliança, e não os Estados Unidos, à frente da coordenação da ajuda militar à Ucrânia.
Stoltenberg também quer que os aliados se comprometam a fornecer pelo menos 40 bilhões de euros (236 bilhões de reais) por ano em ajuda militar à Ucrânia para travar a guerra contra a Rússia.
Os diplomatas acreditam que se trata de uma antecipação de uma possível vitória eleitoral de Trump, mas também estão cientes de que o apoio à Ucrânia dificilmente durará sem os Estados Unidos, que sob o governo Biden aprovaram 175 bilhões de dólares (961 bilhões de reais) para Kiev em ajuda militar e de outro tipo.
A reunião de cúpula acontece após a incorporação de dois países à Otan: Finlândia e Suécia.
Segundo fontes diplomáticas, os Estados Unidos querem uma cúpula sem drama e buscam evitar as recriminações da reunião realizada no ano passado na Lituânia, onde Zelensky não conseguiu convencer os membros sobre a adesão de seu país à aliança.
As autoridades ucranianas reconhecem que não há hipótese de Washington mudar de ideia. Biden e o chanceler alemão Olaf Scholz opõem-se porque acreditam que admitir um país que está em guerra equivale a que a própria Otan enfrente uma Rússia com armas nucleares.