Combatentes curdos na fronteira entre Síria e Turquia: "o terrorismo sob todas as suas formas não pode de jeito nenhum ser tolerado ou justificado", explicou o secretário-geral da Otan (Bulent Kilic/AFP)
Da Redação
Publicado em 28 de julho de 2015 às 10h27.
A Aliança Atlântica, reunida nesta terça-feira, em Bruxelas, a pedido da Turquia, deu seu apoio ao governo de Ancara em sua dupla ofensiva, contra os rebeldes curdos e o grupo Estado Islâmico.
"A Otan segue de perto o desenvolvimento da situação e asseguramos ao nosso aliado turco nossa forte solidariedade", disse o secretário-geral da Otan, o norueguês Jens Stoltenberg, ao abrir a reunião de embaixadores dos 28 países membros da Aliança.
"O terrorismo sob todas as suas formas não pode de jeito nenhum ser tolerado ou justificado", explicou Stoltenberg, citando a "instabilidade às portas da Turquia e nas fronteiras da Otan".
O governo islamita-conservador turco, acusado durante anos de conivência com as organizações radicais que lutam contra o regime sírio, mudou de estratégia na semana passada, após o atentado em Suruc (sul), atribuído ao EI, e a morte de um de seus soldados em um ataque jihadista na fronteira síria.
O presidente Recep Tayyip Erdogan reafirmou nesta terça-feira que não cederá à ameaça terrorista e que continuará com determinação sua luta contra os jihadistas do Estado Islâmico (EI) e os rebeldes do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).
"De forma alguma vamos voltar atrás. É um processo longo e este processo seguirá com a mesma determinação", disse Erdogan.
Zona de segurança
Desde sexta-feira, o exército turco está realizando ataques aéreos contra alvos jihadistas na Síria. O governo também deu sua autorização, esperada há tempos, para que os aviões americanos que bombardeiam o EI na Síria e no Iraque possam usar a base de Incirlik, no sul do país.
Estados Unidos e Turquia decidiram na segunda-feira reforçar sua cooperação militar para erradicar o EI da zona que ocupa no norte da Síria, ao longo da fronteira turca.
"A limpeza destas regiões e a criação de uma zona de segurança permitirá o retorno para suas casas" de 1,8 milhão de refugiados sírios instalados na Turquia, segundo Erdogan.
A cooperação entre Ancara e Washington tem o objetivo de estabelecer "uma zona livre do EI e melhorar a segurança e a estabilidade ao longo da fronteira na Turquia e na Síria", explicou à AFP um responsável militar americano durante a visita à Etiópia do presidente americano Barack Obama.
No entanto, ainda devem ser definidos os detalhes do acordo. Segundo este responsável, os turcos apoiariam os sócios de Estados Unidos na Síria, ou seja, os grupos de oposição moderados. Mas não está sobre a mesa a zona de exclusão aérea pedida por Ancara.
Processo de paz em perigo
Em paralelo a sua ofensiva contra o EI, a Turquia quer prosseguir com seus ataques iniciados na sexta-feira contra os rebeldes curdos do PKK no norte do Iraque até que deponham as armas.
Esta campanha coloca em risco o frágil processo de paz que começou em 2012 para colocar fim à rebelião curda, que desde 1984 deixou 40.000 mortos.
"É impossível seguir (com o processo de paz) com os que atacam nossa unidade nacional e nossa fraternidade", disse Erdogan em referência ao PKK.
No entanto, nem todos os sócios da Turquia na Otan aplaudem a ofensiva contra os curdos. "É preciso ter cuidado com confundir os alvos", disse na segunda-feira o presidente francês, François Hollande, após conversar por telefone com Erdogan.
"A autodefesa tem que ser proporcional", afirmou o secretário-geral da Otan no domingo, ressaltando os avanços no processo de paz.
A dupla ofensiva turca gera suspeitas sobre qual é o alvo real de Ancara, o EI ou os curdos. A Turquia está preocupada com a possível criação de uma zona autônoma curda no norte da Síria.