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Oswaldo Payá: um opositor ao comunismo de Cuba

Payá ganhou notoriedade em 2002, quando entregou 11.020 assinaturas ao Parlamento cubano em apoio a uma iniciativa para mudanças políticas, chamada "Projeto Varela"

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 23 de julho de 2012 às 18h08.

Havana - Oswaldo Payá, o dissidente cubano e católico fervoroso que morreu neste domingo em um acidente de carro, dedicou grande parte de seus 60 anos a contestar o regime comunista de Fidel e Raúl Castro.

Payá ganhou notoriedade em 2002, quando entregou 11.020 assinaturas ao Parlamento cubano em apoio a uma iniciativa para mudanças políticas, chamada "Projeto Varela".

Na ocasião, o então presidente americano Jimmy Carter (1977-1981) mencionou o projeto em seu discurso proferido na Universidade de Havana e Payá foi indicado ao Prêmio Nobel pelo tcheco Vaclav Havel. A invasão da Tchecoslováquia pelas tropas soviéticas, em 1968, havia motivado a dissidência de Payá em Cuba.

O Projeto Varela baseava-se no artigo da Constituição cubana que prevê a realização de um referendo, caso a petição fosse assinada por pelo menos 10.000 pessoas. Mas o Parlamento cubano argumentou que não cumpria todos os requisitos.

"O Projeto Varela não é uma alternativa simplesmente política, mas é uma mudança de vida desejada pelos cubanos, é a chave para uma mudança pacífica", disse à AFP em 2008, quando foi novamente indicado ao Nobel.

Em 1999, recebeu o Prêmio Homo Homini da República Tcheca; em 2002, o Prêmio Democracia do Partido Democrata dos Estados Unidos e o Prêmio Sakharov, do Parlamento Europeu.

Católico devoto, casado com Ofélia Acevedo, com quem teve três filhos, Payá mantinha certa distância de outras figuras da oposição cubana, como Martha Beatriz Roque e o moderado Manuel Cuesta. Raramente esteve envolvido em agendas coletivas.

Vários dos 75 dissidentes presos em 2003 eram seus seguidores no Movimento Cristão de Libertação, fundado por Payá em 1988, mas ao contrário de outros opositores, nunca foi detido, apenas passou por breves detenções.


Em 2005, apresentou à imprensa a sua "Base Comum, caminho de esperança para Cuba", uma agenda política para marcar o caminho "cívico e pacífico" da mudança, e há um ano lançou um "diálogo nacional" para uma transição política.

Nascido em fevereiro de 1952 em uma família de classe média e com sete irmãos, o dissidente afirmava que sua verdadeira vocação era o ensino, ao qual se dedicou por dez anos antes de se graduar como engenheiro.

Mas, em 1984 foi proibido de dar aulas de Física por causa de seu histórico religioso e político. Pelo mesmo motivo, foi submetido a três anos de trabalho forçado em seu período de serviço militar, entre 1969 e 1972, contou à AFP.

Foi um dos poucos líderes da dissidência com emprego em uma empresa estatal, a de reparação de equipamentos elétricos. "Acho que permitem que eu trabalhe porque é uma maneira de me manter sob controle", disse certa vez.

Sempre esteve determinado a viver em Cuba, embora ele e sua família estivessem "sob constantes ameaças e intimidações". Também se opôs ao embargo dos Estados Unidos imposto a Cuba há quase meio século, alegando que "não tem funcionado".

Entre dezembro de 2002 e fevereiro de 2003 fez uma viagem por dez países, incluindo Espanha, França, Estados Unidos, República Tcheca e Vaticano. Encontrou-se com o Papa João Paulo II e o então secretário de Estado dos Estados Unidos, Colin Powell.

Payá reconheceu "atritos com a hierarquia" católica e criticou nos últimos meses os esforços de mediação do cardeal Jaime Ortega com o governo de Raúl Castro. Em maio passado acusou os intelectuais próximos do cardeal de serem excludentes e agirem como "comissários políticos".

A direção da revista católica Espacio Lacal disse que estava "consternada" com a morte de Payá, "apesar das diferenças em relação aos objetivos e metodologias sobre o futuro da nação".

"Desejamos ressaltar que sempre o consideramos uma pessoa honesta, um pai de família exemplar, um católico íntegro, um bom cubano e um político que sempre agiu de acordo com sua consciência e soube preservar a sua autonomia", acrescentou a revista.

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