Egípcia pronta para votar (Mahmud Hams/AFP)
Da Redação
Publicado em 23 de maio de 2012 às 13h12.
Cairo - Dois ex-dirigentes do extinto regime de Hosni Mubarak e dois islamitas, um da Irmandade Muçulmana e outro independente, são os candidatos, entre os 12 na disputa no primeiro turno, com mais chances de vencer a eleição presidencial egípcia que começa nesta quarta-feira.
O ex-ministro das Relações Exteriores de Mubarak entre 1991 e 2001, Amr Musa, que depois se tornou secretário-geral da Liga Árabe, apresentou-se durante a campanha como a garantia de um Egito de várias religiões e aberto à modernidade.
Diante do impulso da Irmandade Muçulmana e dos fundamentalistas salafistas, que controlam o novo Parlamento, Musa, de 75 anos, alertou para o risco de o país servir como um "campo de testes" do islamismo político.
Sua experiência política é vista como uma faca de dois gumes, já que muitos o veem como um "vestígio" do regime de Mubarak, forçado a renunciar em fevereiro de 2011, atingido por uma revolta popular.
"Quando você mesmo é parte do problema, não pode fornecer a solução", disse um de seus principais rivais, o islamita independente Abdel Moneim Abul Futuh, em um debate na televisão.
Abul Futuh, um ex-membro da Irmandade Muçulmana, é apresentado como o candidato de consenso, apoiado por salafistas e liberais, uma amplitude que poderia se tornar uma fraqueza na hora de cumprir promessas tão variadas.
Médico e com 61 anos, afirma ser o candidato da revolução que derrubou Mubarak, e insiste que tanto Amr Musa quanto o último primeiro-ministro do ex-presidente, Ahmed Shafiq, também candidato, devem ser deixados de fora.
Muitos jovens laicos que participaram da revolução veem nele a síntese de suas idéias de democracia e islã moderado. O cibermilitante Wael Ghonim, um dos símbolos da revolta, o apoiou dizendo que "será o presidente de todos os egípcios, que vai nos unir, e não dividir".
"Quando as pessoas ouvem a Sharia (lei corânica), logo pensam que as mulheres serão obrigadas a usar o véu, que o turismo vai ser proibido (...) mas não não pensam nos aspectos formidáveis da sharia, como a insistência na liberdade pessoal, justiça e desenvolvimento", disse durante a campanha.
Abdel Moneim Abul Futuh fez campanha sobre o direito à cobertura de saúde e educação, e foi excluído da Irmandade Muçulmana no ano passado, depois de mostrar suas ambições presidenciais em um momento em que o partido dizia que não aspirava o cargo mais alto.
Desde então, a Irmandade Muçulmana retificou e lançou a candidatura de Mohamed Mursi, apelidado de "o estepe" por ter substituído o candidato inicial do partido, Khairat al Shater, impugnado por uma condenação antiga.
Pouco impressionado por esse apelido tão pouco lisonjeiro, Mursi lidera o Partido da Justiça e Liberdade, gabinete político da Irmandade Muçulmana e partido mais poderoso do país, com quase metade dos assentos no novo Parlamento.
Uma posição que provoca alerta em seus adversários, temerosos de que os islamitas controlem os poderes Executivo e Legislativo.
Formado em engenharia em uma universidade dos Estados Unidos, Mursi, de 60 anos, é apresentado como o "único candidato com um programa islâmico" em favor de um "projeto de renascimento" com base nos princípios do Islã.
Na campanha, disse esperar relações "mais equilibradas" com Washington e ameaçou rever o tratado de paz com Israel caso os Estados Unidos bloqueiem sua ajuda ao Egito.
O quarto principal candidato é o último chefe de governo de Mubarak, Ahmad Shafiq, que, como este, é um produto do sistema político-militar que dominou o país nas últimas décadas.
Shafiq, de 70 anos, foi nomeado chefe do governo nos últimos dias de poder de Mubarak para tentar acalmar a revolta popular que acabou forçando a renúncia do chefe de Estado, em 11 de fevereiro de 2011.
Ex-chefe do Estado-Maior da Força Aérea, acredita que a sua formação militar será uma vantagem neste período de transição.
Mas precisamente este pode ser o seu maior problema entre os eleitores que querem uma separação clara entre o chefe de Estado e o exército, uma instituição que desde a queda de Mubarak lidera o Egito.
Para aqueles que o acusam de ser uma relíquia do regime deposto, Shafiq responde que foi apenas "um dos nomeados para postos críticos", e que foi mais útil trabalhando do que renegando os cargos confiados.
Shafiq fez da segurança e da luta contra o crime sua frente de batalha. Se eleito, disse que está disposto a nomear um vice-presidente islamita.