Estátua do presidente da Venezuela Hugo Chavez: estudo afirmou que a morte em março do comandante deixou a Venezuela imersa em uma "transição incerta" (Gaston Brito/Reuters)
Da Redação
Publicado em 10 de janeiro de 2014 às 16h38.
Paris - A morte de Hugo Chávez e os protestos no Brasil foram os dois eventos mais determinantes para o continente latino-americano em 2013, segundo o último relatório do Observatório político da América latina e Caribe (OPALC), publicado nesta sexta-feira.
O estudo afirmou que a morte em março do comandante deixou a Venezuela imersa em uma "transição incerta" que se traduziu em "instabilidade política e econômica", e que agora "começa a ter efeito" no plano regional.
Sem o ex-líder venezuelano, o continente perdeu "energia e sentido da provocação", fatores que permitiam avançar "em matéria de regionalismo", considerou o observatório da universidade parisiense Sciences Po publicado hoje.
Na década de 2000 o Brasil se viu obrigado muitas vezes a se opor e moderar o ativismo chavista, o que se traduziu na "criação, desenvolvimento e pragmatismo da União de Nações Sul-americanas (Unasul)", considerou a OPALC.
"Sem Chávez e com uma agenda de política interna complicada, o Brasil pode considerar sua hegemonia conquistada", acrescentou.
Os autores do relatório também destacaram as "grandes dificuldades" enfrentadas por Nicolás Maduro, sucessor designado por Chávez e vencedor das eleições presidenciais em abril do ano passado, para "preservar" a unidade em seu próprio partido e interromper a perda de simpatizantes.
"Se (Maduro) não obtém resultados tangíveis na luta contra a insegurança, a inflação e as penúrias alimentícias", a Venezuela enfrentará um aumento das tensões sociais e das mobilizações, alertou o relatório.
No Brasil, a alta na tarifa do transporte público em São Paulo em junho motivou uma série de manifestações em que a repressão violenta pelas autoridades provocou a "radicalização e disseminação delas por todo o país.
A onda de protestos fez com que a presidente, Dilma Rouseff, anunciasse "uma reforma política considerada pouco crível" pela população, de acordo com a OPALC.
Os brasileiros acrescentaram ao mal-estar "os casos de corrupção e o encarecimento do custo de vida da classe média", lembrou o observatório no estudo, que relaciona o descontentamento social com a falta de vantagens reais entre os cidadãos apesar do progresso vivido pelo país.
A OPALC também foca os protestos, menos intensos, que aconteceram no Peru e no Chile, países que "experimentaram as mais altas taxas de crescimento do continente nos últimos anos".
Da Colômbia, o relatório destaca a "importância" das negociações entre a guerrilha das Farc e o governo, que criaram mais expectativas que nunca, mas sugere prudência já que nos últimos 30 anos houveram seis tentativas fracassadas de chegar à paz.
2013 na América Latina também foi marcado "pelo fim do "boom" na exportação de matérias-primas", substituídas como motor do crescimento econômico da região pelo consumo interno.
Por último, a OPALC adverte do risco de a América Latina ficar presa "de forma duradoura" em um modelo econômico que não a permita competir com os produtos de baixo custo dos países mais pobres nem com os de "alto valor tecnológico" dos ricos.