Mosul: a cidade histórica foi devastada por quase nove meses de combates (Thaier Al-Sudani/Reuters)
AFP
Publicado em 11 de julho de 2017 às 14h57.
Última atualização em 11 de julho de 2017 às 15h53.
Após derrotar os extremistas do grupo Estado Islâmico (EI) em Mosul, as forças iraquianas enfrentam o grande desafio de reconstruir e assegurar o retorno em segurança dos habitantes da segunda maior cidade do país, devastada por quase nove meses de combates.
A zona oeste de Mosul e seu centro histórico foram as áreas que mais sofreram danos, em razão dos combates de proximidade, dos ataques aéreos e atentados suicidas cometidos pelos extremistas.
Nesta terça-feira, as tropas iraquianas vasculhavam uma pequena área na Cidade Antiga de Mosul, onde ainda poderiam estar escondidos os últimos combatentes do EI, que ocupou por três anos esta cidade do norte do país de 2 milhões de habitantes em 2014.
Enquanto centenas de milhares de civis se viram presos na cidade em razão dos combates, a Anistia Internacional (AI) acusou as forças iraquianas e a coalizão internacional de recorrer a uma força não adaptada nas zonas densamente povoadas.
As organizações humanitárias ressaltam que a grave crise na cidade está longe de terminar, mesmo após o anúncio do governo de sua maior vitória sobre o EI.
Na Cidade Antiga, vários edifícios parcialmente destruídos desabaram. Outras estruturas foram reduzidas a ruínas, incendiadas ou crivadas de buracos.
A Cidade Antiga de Mosul é um dos seis setores da zona oeste de Mosul "quase completamente destruído" na batalha, segundo a ONU.
Outras regiões sofreram menos danos. A ONU estima em mais de 700 milhões de dólares o montante inicial para a reabilitação dos serviços básicos, de educação e segurança, e reconstrução.
Com este nível de devastação é muito improvável que as centenas de milhares de famílias deslocadas voltem para casa num futuro próximo, ressalta Arnaud Quemin, diretor interino do Mercy Corp's para o Iraque.
o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados também estima que "milhares de pessoas terão que permanecer deslocadas por meses. Uma vez que muitas perderam suas casas".
Em nove meses da ofensiva, quase um milhão de pessoas fugiram de suas casas e apenas uma fração conseguiu retornar, principalmente para o leste da cidade, segundo a ONU.
Além dos desafios de reconstrução e regresso dos deslocados, o governo iraquiano também deve lidar com as causas de anos de violência e insegurança no país.
"Temos de abordar as causas da violência e do conflito em sua raiz, discutindo as violações dos direitos humanos sofridas por todas as comunidades no país durante décadas. É a única maneira de assegurar bases sólidas para uma paz duradoura", considerou o comissário da ONU para os direitos Humanos, Zeid Ra'ad Al Hussein.
O descontentamento da minoria sunita no Iraque ante sua marginalização pelo poder dominado pelos xiitas e as operações realizadas de forma impune pelas forças de segurança nessas regiões contribuíram para o crescimento do grupo extremistas sunita.
Os grupos jihadistas aproveitaram a insegurança e instabilidade política no Iraque após a invasão americana do país em 2003, que levou à queda do ditador Saddam Hussein, um sunita, que havia marginalizado a maioria xiita durante as décadas que permaneceu no poder.
Nos últimos anos, os esforços de reconciliação falharam.
Por enquanto, os iraquianos desfrutam sua vitória, mesmo obtida à custa de milhares de vítimas, civis e militares, de uma enorme crise humanitária e destruição colossal.
De acordo com a Anistia Internacional, a última fase da batalha de Mosul foi lançada e ganhada "a qualquer preço", com civis pagando um preço elevado.
Segundo esta organização, o EI é culpado de "crimes de guerra" por utilizar civis como "escudos humanos" e "assassinar sumariamente centenas, se não milhares, de homens, mulheres e crianças que tentaram escapar da cidade".
Por seu lado, "as forças iraquianas e da coalizão não conseguiram adaptar suas táticas para a realidade, e utilizaram armas explosivas imprecisas" em áreas civis, aponta a Anistia.
Mosul tinha uma grande valor simbólico para o EI: seu líder, Abu Bakr al-Baghdadi, havia feito em julho de 2014 sua única aparição pública após a proclamação de um "califado" nos territórios conquistados no Iraque e na Síria, agora em farrapos.
Segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), uma ONG com sede na Grã-Bretanha e muitas fontes em toda a Síria, fontes do Estado Islâmico confirmaram nesta terça-feira a morte do líder do grupo extremista.
"Autoridades do EI presentes na província (síria) de Deir Ezor confirmaram ao OSDH a morte de Abu Bakr al-Bagdadi, emir do EI", declarou à AFP o diretor da ONG, Rami Abdel Rahman.
"Nós tomamos conhecimento hoje, mas não sabemos quando e como ele morreu".