Michael Andrew: atleta se negou publicamente a ser vacinado (Tom Pennington/Getty Images)
Carolina Riveira
Publicado em 30 de julho de 2021 às 19h50.
Última atualização em 30 de julho de 2021 às 20h11.
Em um cenário em que só 24% da população mundial recebeu uma dose da vacina contra o coronavírus, os organizadores não poderiam exigir que os atletas estivessem vacinados para competir nas Olimpíadas de Tóquio.
Mas mesmo alguns atletas de países desenvolvidos, onde a vacinação já avançou, foram aos Jogos sem se vacinar — mostrando o tamanho do desafio para avançar com a imunização em massa no mundo.
O caso mais emblemático entre os países ricos é o da delegação dos Estados Unidos.
Segundo divulgado pelo comitê olímpico americano, 103 dos 709 representantes do país nos Jogos (incluindo alguns reservas) não foram vacinados. A informação vem de um questionário preenchido pela delegação antes de embarcar para Tóquio.
O comitê não divulgou nominalmente os nomes desse grupo, mas alguns atletas já publicaram que não estavam vacinados.
O nome que mais chamou atenção foi o do nadador Michael Andrew, de 22 anos. Além de publicamente afirmar que não se vacinou antes da competição, Andrew se recusou nesta semana a usar máscara ao dar entrevistas na chamada zona mista, área onde ficam atletas e jornalistas após as provas.
O episódio pode levar os EUA a serem punidos por descumprimento do protocolo da Olimpíada.
Andrew foi quinto colocado nos 200m medley e quarto nos 100m peito, e disputa ainda os 50m livre no fim desta sexta-feira.
Dentre outros americanos sabidamente não vacinados, estão o arqueiro Brady Ellison (que compete às 23h desta sexta-feira no tiro com arco) e a também arqueira Mackenzie Brown (que perdeu a disputa do bronze na madrugada de hoje).
Ambos disseram que não iriam a Tóquio se a vacinação fosse obrigatória.
Entre os atletas de todos os países, os não vacinados são minoria: o Comitê Olímpico Internacional (COI) estima que mais de 85% dos atletas já se vacinaram com ao menos uma dose.
O presidente do COI, Thomas Bach, também afirmou antes dos Jogos que não defendia que atletas "furassem a fila" da vacinação em países onde não havia doses para todos.
Mas os EUA ficam atrás de outros países desenvolvidos. O jornal americano The Wall Street Journal procurou as 25 maiores delegações das Olimpíadas, e das 17 que responderam, dez afirmaram que a taxa de vacinação de seus atletas superava 94%.
Do ranking de 17 países, os EUA ficaram somente em 14º lugar em vacinados, só à frente de Rússia, República Tcheca e Polônia.
Apesar de colocada em xeque nas Olimpíadas, a taxa de vacinados na delegação americana é ainda muito maior do que a média do próprio país.
Embora haja doses para todos os maiores de 12 anos que queiram se vacinar, os EUA têm tido dificuldade em ampliar a fatia de imunizados devido à desconfiança da população.
Já na delegação dos EUA, além dos 86% com a primeira dose, a projeção é que mais de 80% estejam já totalmente vacinados, com as duas doses ou uma dose da Janssen.
Os EUA estão atrás também do Brasil em atletas vacinados com uma dose.
O Comitê Olímpico Brasileiro (COB) divulgou antes das Olimpíadas que 90% dos atletas haviam recebido ao menos a primeira dose, 271 de um grupo de 301 inscritos. Do grupo, 75% já estava completamente imunizado.
Parte dos atletas brasileiros se vacinou em outros países, e o COB também teve um plano de vacinação próprio. Alguns não vacinados não conseguiram disponibilidade de doses em tempo, mas, também nos times brasileiros, houve atletas que não se vacinaram por vontade própria.
"Tivemos sim atletas que preferiram não se vacinar, mas vamos preservar a restrição desses nomes por questão de ordem pessoal”, disse o sub-chefe da delegação, Jorge Bichara, à rede de televisão CNN.
Sem a obrigatoriedade da vacinação, a organização das Olimpíadas tem reforçado protocolos com testes e máscaras, mas o risco segue.
O COI afirmou que, até esta sexta-feira, 30 de julho, foram ao menos 222 casos de covid-19 ligados às Olimpíadas, metade de prestadores de serviços de terceiros e a maioria de profissionais japoneses.
A variante Delta é a principal preocupação, e mais da metade da população japonesa não queria que os Jogos acontecessem. As Olimpíadas envolvem mais de 12.000 atletas e milhares de prestadores de serviços e membros da comissão técnica e organização das delegações.
Em Tóquio, cidade onde ocorre a maior parte dos eventos olímpicos, a média móvel de casos já crescia antes dos Jogos, e está acima de 2.000 novos registros diários.
O Japão teve número baixo de mortes por covid-19 devido a medidas elogiadas de contenção da pandemia, mas a vacinação só engrenou nos últimos dois meses.