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Os 30 anos do genocídio contra tutsis em Ruanda são marcados por críticas à inação internacional

Como todos os anos, no dia 7 de abril, no qual as milícias hutus iniciaram os massacres, uma chama foi acesa no Memorial Gisozi, na capital Kigali, onde se acredita que cerca de 250 mil pessoas estejam enterradas

Pessoas se reúnem no estádio Arena em Kigali, em 7 de abril de 2024, nos 30 anos do genocídio dos tutsis em Ruanda (AFP Photo/AFP Photo)

Pessoas se reúnem no estádio Arena em Kigali, em 7 de abril de 2024, nos 30 anos do genocídio dos tutsis em Ruanda (AFP Photo/AFP Photo)

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Agência de notícias

Publicado em 7 de abril de 2024 às 15h45.

A comunidade internacional "nos abandonou" durante o genocídio perpetrado por extremistas hutus contra os tutsi, declarou o presidente de Ruanda neste domingo (7), em virtude dos 30 anos do massacre que deixou 800 mil mortos em 100 dias, um dos piores do século XX.

Como todos os anos, no dia 7 de abril, no qual as milícias hutus iniciaram os massacres, uma chama foi acesa no Memorial Gisozi, na capital Kigali, onde se acredita que cerca de 250 mil pessoas estejam enterradas.

O presidente Paul Kagame, fundador da Frente Patriótica Ruandesa (RPF), grupo rebelde que assumiu o poder e pôs fim ao genocídio em julho de 1994 e que governa o país desde então, liderou a cerimônia.

"Foi a comunidade internacional que nos abandonou, por desdém ou covardia", declarou o presidente, em um discurso perante milhares de pessoas na BK Arena, um salão ultramoderno da capital.

A comemoração terá participarão de líderes e dignitários estrangeiros, incluindo o ex-presidente dos EUA Bill Clinton, então chefe de governo em 1994 e que descreveu a falta de ação face a estes massacres como o maior fracasso de sua gestão.

O presidente da Comissão da União Africana (UA), Moussa Faki Mahamat, declarou por sua vez que "ninguém, nem mesmo a UA, pode deixar de pedir desculpa pela sua inação face à crônica de um genocídio anunciado. Que tenhamos coragem para reconhecê-lo e assumir a nossa responsabilidade".

A França enviou, por sua vez, o Ministro das Relações Exteriores, Stéphane Séjourné, e o Secretário de Estado do Mar, Hervé Berville, nascido no Ruanda e que saiu do país nos primeiros dias do genocídio.

Durante sete dias, não será permitido reproduzir música em locais públicos ou no rádio. Também não será autorizada a transmissão televisiva de eventos esportivos e filmes, a menos que estejam associados ao ocorrido.

Os massacres começaram um dia após o ataque que matou o presidente Juvénal Habyarimana, de etnia hutu, depois de meses de uma virulenta campanha de propaganda contra os tutsis.

Por três meses, o Exército, as milícias Interahamwe, mas também cidadãos comuns massacraram — com armas, facões ou porretes — os tutsis, a quem chamavam com o adjetivo "inyenzi" ("baratas" em Kinyarwanda), e os opositores hutus.

Inação internacional

O massacre teve fim quando os rebeldes tutsis da RPF tomaram Kigali em 4 de julho, causando a fuga de centenas de milhares de hutus para o Zaire (atual República Democrática do Congo).
Trinta anos depois, Ruanda, uma ex-colônia belga e alemã, continua desenterrando valas comuns.

A comunidade internacional foi duramente criticada pela sua inação antes e durante o genocídio.

A França, que mantinha relações estreitas com o regime hutu quando o genocídio começou, foi por muito tempo acusada de "cumplicidade" pelo governo ruandês.

Em um vídeo divulgado neste domingo, o presidente francês, Emmanuel Macron, ressaltou que "a França assume tudo e exatamente nos termos em que eu o fiz" em 2021.

Depois de décadas de tensões, que levaram ao rompimento das relações diplomáticas entre os dois países entre 2006 e 2009, houve uma reaproximação após Macron ter criado uma comissão que concluiu em 2021 que a França tinha uma "grande responsabilidade", mas descartou que houvesse cumplicidade.

Há 30 anos, Ruanda realiza um trabalho de reconciliação, sobretudo com a criação de tribunais comunitários em 2002, os "gacaca", no qual as vítimas podem ouvir as "confissões" de seus algozes.

A Justiça também desempenhou um papel importante, mas segundo o governo ruandês, centenas de pessoas suspeitas de terem participado no genocídio continuam em liberdade, especialmente em países vizinhos como a República Democrática do Congo e o Uganda.

Ao todo, 28 fugitivos foram extraditados do exterior, incluindo seis pessoas dos Estados Unidos. A França, que é o principal país para onde se fugiram os ruandeses fugitivos, não extraditou ninguém, mas condenou 12 pessoas por seu papel no massacre.

Organizações de direitos humanos, incluindo a Anistia Internacional e a Human Rights Watch (HRW), fazem um apelo ao rápido julgamentos dos responsáveis pelo genocídio.

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