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Os dez dias que abalaram os mercados no Peru

Para economistas, tudo vai depender do gabinete ministerial a ser montado por Castillo. O professor de esquerda está virtualmente eleito no Peru, embora falte a oficialização do resultado

Pedro Castillo: sua equipe econômica tem se reunido com empresários (Sebastian Castaneda/Reuters)

Pedro Castillo: sua equipe econômica tem se reunido com empresários (Sebastian Castaneda/Reuters)

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AFP

Publicado em 16 de junho de 2021 às 18h17.

Última atualização em 16 de junho de 2021 às 18h48.

Os mercados peruanos, que estão em expectativa depois de dez dias sem saber o vencedor das eleições, refletem a incerteza que assolou o país em meio à crise econômica e de saúde provocada pela pandemia.

Enquanto aguardava o Júri Eleitoral Nacional (JNE) resolver a situação da contestação sobre os votos e proclamar o vencedor, a indefinição e os temores de uma vitória do esquerdista Pedro Castillo causaram volatilidade no mercado de câmbio e tumulto na bolsa.

O dólar, que estava sendo negociado a 3,62 sóis peruanos em dezembro, atingiu o recorde de 3,94 na moeda local no dia seguinte da votação de 6 de junho, e então caiu ligeiramente.

Na Bolsa de Valores de Lima, o Índice Geral acumula queda de 11,7% desde o fechamento anterior à votação, com queda de 7,7% no dia seguinte às sugestões de que Castillo poderia ser o vencedor.

"Depende do gabinete ministerial"

Para acalmar os temores do setor privado, o principal assessor econômico de Castillo, Pedro Francke, anunciou que seu programa "nada tem a ver com a proposta da Venezuela".

"Não faremos desapropriações, não faremos nacionalizações, não faremos controle generalizado de preços, não faremos controle cambial que impossibilite vocês de comprar e vender dólares e tirar os dólares do país", prometeu em entrevista à AFP na sexta-feira.

Para o economista Jorge González Izquierdo — ex-ministro do Trabalho do presidente Alberto Fujimori, pai da candidata de direita Keiko Fujimori — "não é necessariamente verdade que se Castillo ganhar tudo desmorona, porque vai depender muito do gabinete ministerial nomeado por ele".

Por isso, aconselha-se ao vencedor a anunciar o quanto antes um chefe de Gabinete, um Ministro da Economia, um presidente do Banco Central e um ministro de Minas e Energia.

"Se forem nomeados personagens que despertem a confiança nos mercados, as coisas vão se acalmar muito, porque a mensagem enviada por Castillo será um governo de centro reformista e não de extrema esquerda", explicou González Izquierdo à AFP.

"Declínio"

O economista Elmer Cuba, membro do conselho de administração do Banco Central e sócio da empresa Macroconsult, afirma que "os mercados monetário e de capitais já reagiram com declínio [frente à incerteza], em particular na taxa de câmbio, no valor de empresas que não do setor da mineração e nos custos de financiamento".

No entanto, Cuba destaca em artigo de opinião, o prolongado processo eleitoral tem servido para que "os porta-vozes econômicos de Castillo comentem o que não fariam no que se refere à política econômica".

Desde a semana passada, Francke e outros economistas de sua equipe têm se reunido com o setor financeiro, que segue cauteloso quanto ao futuro da economia peruana, que antes da pandemia era atraente para investidores estrangeiros.

"Não acredito que os empresários vão pensar em projetos de investimento até que isso [o processo eleitoral] seja resolvido", contou à AFP o analista e ex-embaixador Hugo Otero.

"São dez dias que estremeceram o Peru, assim como o livro de John Reed", acrescenta Otero, parafraseando os Dez dias que abalaram o mundo, obra do jornalista americano que testemunhou a revolução russa de 1917.

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