Imigração: empresa de administração penitenciária estão entre as empresas que lucram com crise imigratória (Andres Martinez Casares/Reuters)
EFE
Publicado em 8 de maio de 2019 às 12h24.
Phoenix — Traficantes de pessoas, policiais corruptos, prisões particulares, companhias aéreas e albergues, todos parecem tirar proveito financeiro da chegada de imigrantes à fronteira do México com os Estados Unidos, onde até o governo do presidente americano, Donald Trump, quer agora cobrar uma taxa aos solicitantes de asilo.
Uma rede completa de empresas e organizações conseguem lucros milionários da crise migratória provocada pelo grande fluxo de pessoas que cruzam diariamente a fronteira sul do território americano.
Umas das grandes beneficiadas são, sem dúvida, as empresas que gerenciam os centros de detenção onde o Estado mantém milhares de imigrantes irregulares enquanto o processo migratório ou a deportação avançam.
No primeiro trimestre do ano, a empresa de administração penitenciária Geo Group lucrou US$ 40 milhões, frente aos US$ 35 milhões do mesmo período do ano passado, enquanto a outra gigante do setor, a Corecivic, fechou o último trimestre de 2018 com US$ 41 milhões.
"É um sistema para prender os imigrantes e deportá-los, mas nesse processo não dão condições básicas. Só querem fazer muito dinheiro e não garantem atendimento médico adequado e tratamento digno", afirmou à Agência Efe Daniel Rodríguez, advogado que trabalha com a questão migratória.
Outro que se beneficiou foi o setor do transporte, tanto as empresas que levam os imigrantes da fronteira até os centros de detenção quanto as companhias aéreas contratadas para executar a deportação.
Desde 2018, a agência americana de Imigração e Alfândega dos Estados Unidos (ICE) tem um acordo com a Classic Air Charter (CAC), responsável por organizar a maior parte dos voos da ICE Air em troca de US$ 722 milhões, de acordo com dados do Escritório de Contabilidade do Congresso (GAO).
Igrejas e abrigos que acolhem temporariamente imigrantes, agora que as autoridades não podem mais fazer isso por conta da falta de espaço, também recebem verba pública.
"Existe uma enorme necessidade de transparência na contabilidade do dinheiro que as igrejas e os albergues recebem. O que acontece com esse montante? Gostaria de saber o que estão oferecendo e explicassem o uso", disse à Efe Roberto Reveles, fundador do grupo Somos América, do Arizona.
Para ele, que já foi presidente da União Americana de Liberdades Civis (ACLU), também no Arizona, "infelizmente existem pessoas ganhando com a tragédia" tanto no sistema do governo quanto empresas privadas e abrigos.
Cecilia García, fundadora e diretora-executiva do One Hundred Angels, organização que fornece ajuda médica a albergues, tem a mesma opinião. Para ela, o fato de as doações irem diretamente para as igrejas torna a assistência que eles oferecem aos imigrantes muito limitada.
"Atendemos quase nove mil imigrantes, trabalhamos com 50 médicos e voluntários, damos assistência médica e dental. Gastamos, em média, US$ 10 por pessoa e os fundos não chegam para a gente. Tudo vai para as igrejas e delas não recebemos nada", disse.
Elizabeth Torres decidiu abandonar o voluntariado que fazia em albergues e igrejas depois de ver como as entidades se beneficiam da crise humanitária nas fronteiras.
"Muitas doações são feitas em dinheiro e de forma anônima por pessoas. Esse valor não é declarado. E não é só dinheiro. As pessoas doam alimentos, roupas e todos os que ajudam são voluntários. Para onde essas doações, que às vezes são enormes, vão?", questionou.
Além de tudo isso, Trump determinou recentemente a promoção de novas normas para cobrar os imigrantes que queiram apresentar pedidos de refúgio nos Estados Unidos e também para solicitar permissões temporárias de trabalho para o período em que o caso é analisado.
"Em poucas palavras, este governo está forçando as pessoas a lutar contra algo extremamente difícil, pois dificilmente elas irão obter o asilo na entrevista de 'temor fundado ', e só perderão dinheiro", disse o advogado Daniel Rodríguez.
Outros que não perdem a chance de embolsar um bom dinheiro são as empresas que se oferecem para quitar as fianças dos imigrantes em troca do uso de algemas eletrônicas, que pode ter um custo mensal de, aproximadamente, US$ 400.
Por tudo isso, Elizabeth gostaria que o ICE desse informações em espanhol aos imigrantes sobre os seus direitos e as instruções a seguir depois que deixam os centros de detenção.
"Para que saibam o que podem fazer sozinhos e para que estejam cientes de tudo o que precisam pagar, como fianças, algemas, viagens. O pior é que quase não têm chances de ganhar os casos. O que estão querendo é 'fazer caixinha' com eles", criticou.
Os problemas, no entanto, começam antes da chegada aos Estados Unidos. Frequentemente, eles têm que pagar a um "guia" uma quantia de até US$ 5 mil e depois ainda enfrentar policiais corruptos.
Eduardo, um imigrante de El Salvador que chegou a um albergue do Arizona, explicou à Efe que no México existem agentes que apreendem os veículos nos quais eles viajam e "vasculham tudo".
"Eles nos deixam sem nada", contou.