Opositores do governo em Kiev: opositores prometeram, em sinal de boa vontade, desbloquear "em parte" a rua Gruchevski, onde estão localizados o governo e o Parlamento (AFP)
Da Redação
Publicado em 14 de fevereiro de 2014 às 18h38.
As autoridades ucranianas anunciaram nesta sexta-feira a libertação de todos os 234 manifestantes detidos em dois meses de protestos, mas sem abandonar as acusações contra eles, enquanto a oposição convocou uma nova mobilização para domingo.
O procurador-geral ucraniano, Viktor Pchonka, fez esse anúncio em um comunicado.
"Duzentas e trinta e quatro pessoas foram detidas entre 26 de dezembro e 2 de fevereiro. Hoje, mais nenhum deles está em detenção", declarou o procurador, acrescentando que as acusações, que podem valer aos opositores duras penas de prisão, serão abandonadas no próximo mês se as condições estabelecidas pela lei de anistia forem cumpridas.
"Nós temos meios para colocar qualquer um em seu lugar, mas não queremos que inocentes sofram (...) Não quero a guerra. Quero proteger o Estado e retomar um desenvolvimento estável", declarou na noite desta sexta-feira o presidente Viktor Yanukovitch, em uma entrevista televisionada.
"Nós nos dirigimos à oposição para que ela também aceite fazer concessões (...) Os apelos por uma luta sem tréguas, para pegar em armas, são perigosos", acrescentou, referindo-se a declarações de grupos radicais opositores.
No centro de Kiev, na Praça da Independência -a Maidan-, ocupada desde novembro e cercada de barricadas, o "conselho" improvisado do movimento de contestação ressaltou que, no momento, as pessoas liberadas são mantidas em prisão domiciliar e ameaçadas de nova detenção.
Uma lei de anistia tinha sido votada em janeiro, tendo como condição a retirada em duas semanas dos manifestantes que ocupavam locais públicos e prédios oficiais, incluindo a Prefeitura da capital. Esse prazo expira na segunda-feira.
Já a oposição exigia a liberação sem condições de todas as pessoas encarceradas, e a retirada das acusações.
Manifestação no domingo
Os opositores prometeram, em sinal de boa vontade, desbloquear "em parte" a rua Gruchevski, onde estão localizados o governo e o Parlamento, palco de violentos confrontos no final de janeiro, para permitir a circulação de automóveis no local.
"Isso não quer dizer que vamos esvaziar os locais (ocupados) onde barricadas foram erguidas", ressaltou um representante dos manifestantes, Andrei Dzyndzia.
Pela décima primeira vez desde o início da onda de contestação, no fim de novembro, os manifestantes se reunirão ao meio-dia (08h00 de Brasília) de um domingo na Maidan.
O movimento nasceu depois de o governo ucraniano ter desistido de assinar um acordo de associação com a União Europeia, optando por se aproximar da Rússia.
O partido da opositora presa Yulia Timoshenko pediu que os opositores protestem.
O último ato desse tipo, no dia 9 de fevereiro, reuniu cerca de 70.000 pessoas.
O movimento de contestação se transformou no decorrer das semanas em uma rejeição ao regime do presidente Viktor Yanukovitch, e nem a demissão do governo nem as negociações realizadas depois dos confrontos que deixaram quatro mortos e mais de 500 feridos, no fim de janeiro, apaziguaram os ânimos.
Após a renúncia do primeiro-ministro Mykola Azarov, um sucessor ainda não foi designado, com os aliados do presidente, em maioria no Parlamento, deixando claro que não apoiarão um candidato opositor.
Um dos líderes da oposição, Arseni Yatseniuk, que recebeu uma proposta para ser premier, ressaltou que poderia aceitar o convite apenas se a oposição obtivesse postos-chave no governo, e após uma reforma constitucional reduzindo os poderes presidenciais em benefício do governo e do Parlamento.
Os debates em torno dessa reforma não avançaram.
Determinação intacta
Enquanto isso, os manifestantes não baixam a guarda.
"Tudo está em calma no momento, mas se a polícia vier, vamos nos defender e a expulsaremos!", disse Anna Lazarenko, de 20 anos, integrante de uma unidade de autodefesa na Maidan.
A jovem encapuzada usa um capacete e está equipada com colete de proteção.
Na Prefeitura de Kiev ocupada, Ruslan Andreiko, de 27 anos, tem a mesma determinação. Ele é o "comandante" no local.
"A única condição para deixarmos os locais é a renúncia do presidente (Viktor) Yanukovitch, seguida de uma eleição presidencial antecipada", disse.
A crise estava no centro das discussões nesta sexta-feira em Moscou entre os ministros russo e alemão das Relações Exteriores.
O russo Serguei Lavrov acusou a União Europeia de tentar estender sua zona de "influência" à Ucrânia apoiando a oposição.
O ministro alemão, Frank-Walter Steinmeier, respondeu que a crise na Ucrânia não é "um jogo de xadrez geopolítico" e ressaltou que "ninguém tem interesse no envenenamento da situação" na Ucrânia.
A chanceler alemã, Angela Merkel, receberá na segunda-feira em Berlim os líderes da oposição Vitali Klitschko e Arseni Yatseniuk, anunciou um porta-voz do governo alemão.