Soldados retiram manifestantes do prédio do canal estatal PTV em Islamabad (Aamir Qureshi/AFP)
Da Redação
Publicado em 1 de setembro de 2014 às 16h47.
Islamabad - Centenas de manifestantes que exigem a queda do governo do Paquistão ocuparam por alguns instantes nesta segunda-feira a sede da televisão pública em Islamabad, intensificando a crise política no país.
A programação do canal de notícias PTV, o principal do país, foi suspensa durante 30 minutos após a invasão dos manifestantes, armados com pedaços de pau.
"Manifestantes entraram no prédio da PTV e estão desconectando cabos. Estamos em estado de sítio, estão pirateando nossa transmissão", afirmou um apresentador da emissora no momento da invasão. Poucos minutos depois, o canal saiu do ar.
Nas imagens exibidas, alguns manifestantes atacavam e cuspiam em uma foto do primeiro-ministro paquistanês, Nawaz Sharif.
Mas 30 minutos depois, o exército retirou os manifestantes do prédio.
No domingo à noite, o exército defendeu uma solução pacífica para a crise política, que fragilizou o governo de Sharif com protestos que começaram em meados de agosto e que ressuscitaram o fantasma de uma intervenção militar, em um país marcado por golpes de Estado.
Os opositores querem a renúncia de Sharif e alegam que ele venceu as eleições legislativas de maio de 2013 com fraudes, apesar do processo eleitoral ter sido elogiado pela comunidade internacional.
Os confrontos do fim de semana terminaram com três mortos e quase 500 feridos.
Os primeiros atos de violência foram registrados no sábado à noite, quando os partidários do líder opositor Imran Khan e do clérigo Tahir ul-Qadri tentaram invadira a residência oficial de Sharif.
Os dois líderes pediram aos partidários para que não recorressem à violência.
Na manhã desta segunda-feira, mais de 3.000 manifestantes tentaram entrar novamente no edifício.
Os manifestantes atiraram pedras contra os policiais, que tentaram usar gás lacrimogêneo, mas a chuva intensa impediu o efeito da substância.
Após a retirada dos manifestantes do prédio da televisão, Khan e Ul-Qadri tentaram distanciar-se do incidente, alegando que seus seguidores não estavam envolvidos.
O primeiro-ministro Sharif se reuniu nesta segunda-feira com o comandente do exército, o general Raheel Sharif, com o qual não possui nenhum parentesco.
"O comandante do exército pediu a Nawaz Sharif que renuncie. O exército deseja a formação de um governo de unidade nacional que inclua membros do PML-N", declarou Fawad Chaudhry, analista favorável ao exército, mas fontes do governo e o porta-voz do exército negara categoricamente os boatos.
"Apesar de tudo, não há quase nenhum cenário provável no qual o primeiro-ministro possa sobreviver à crise atual", disse Mosharraf Zaidi, outro analista político.
Para os comentaristas, o exército critica Nawaz Sharif por ter esperado muito até iniciar, em junho, uma operação militar contra os redutos talibãs no Waziristão do Norte, assim como sua tentativa de aproximação com a rival Índia e o processo por "alta traição" contra o general Pervez Musharraf, algo inédito na história paquistanesa.
Advertência do exército
Após uma reunião de emergência dos principais generais no domingo, o exército expressou apoio à democracia.
"Além de reafirmar o apoio à democracia, a reunião examinou com grande preocupação a crise política existente", afirma um comunicado.
"A situação deve ser resolvida politicamente sem o uso de meios violentos", completa a nota.
"O exército continua disposto a desempenhar seu papel como fiador da segurança do Estado e não poupará esforços no momento de cumprir as aspirações nacionais", destaca o comunicado em modo modo de advertência.
O apoio ao governo e a advertência no comunicado refletem, segundo uma fonte do Executivo, diferentes pontos de vista na cúpula do exército.
"As instituições são muito mais fortes agora, desde o fim em 2008 do último governo militar no Paquistão", afirmou a fonte, que pediu anonimato.
"Espero e rezo pela sobrevivência do sistema. Algumas perdas acontecerão, mas vai se recuperar", completou, em referência às importantes concessões que o governo terá que fazer ao exército, segundo os analistas políticos.