Manifestante durante confronto com as forças de segurança, após um protesto contra o governo de Nicolás Maduro, em Caracas (Carlos Garcia Rawlins/Reuters)
Da Redação
Publicado em 9 de maio de 2014 às 18h05.
Caracas - Opositores do governo do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, prometeram nesta sexta-feira que as manifestações vão ganhar força, um dia depois que militares expulsaram 247 jovens que acampavam nas ruas e praças de Caracas, numa ação que terminou com a morte de um policial baleado durante enfrentamentos com manifestantes.
"A manifestação não deve e não vai parar até que haja liberdade, democracia e soberania na Venezuela", disse Miguel Barreto, um executivo que faltou ao trabalho para levantar uma barricada com lixo e pedaços de pau em uma rua de uma região abastada de Caracas.
Junto a ele, uma dezena de vizinhos ainda de pijama se unia a um protesto que crescia depois de ter minguado nas últimas semanas, enquanto estudantes universitários voltavam a marchar nas principais cidades e preparavam mobilizações para o sábado e a segunda, quando se completam três meses da morte de três pessoas nas primeiras manifestações.
A algumas quadras dali, alguns mais acostumados juravam que voltariam a levantar os acampamentos arrasados pela Guarda Nacional Bolivariana (GNB) na madrugada de quinta-feira, que eram considerados pelo governo como "focos de delinquência" e onde se planejava uma "insurreição".
Desde princípios de fevereiro, milhares de venezuelanos saíram às ruas para protestar contra Maduro, que apontam como culpado pela alta inflação, a escassez de bens essenciais e a criminalidade em alta, que converteu a Venezuela, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), no segundo país mais violento do mundo.
As manifestações, que têm se caracterizado por bloqueios de ruas, passeatas e enfrentamentos entre jovens armados com pedras e coquetéis molotov e batalhões de choque, deixaram 42 mortos e centenas de feridos e presos.
Embora o herdeiro de Hugo Chávez tenha dito que querem depô-lo, a onda de manifestações --a pior em mais de uma década no país-- não parece ameaçar a governabilidade do maior exportador de petróleo da América do Sul.
Entretanto, deteriorou a popularidade do chefe de Estado, cuja aprovação, segundo uma pesquisa recente, caiu para cerca de 37 por cento, seu pior nível desde que assumiu a Presidência em meados de abril de 2013 após a morte de Chávez por câncer.
Os problemas que levaram os venezuelanos a protestar continuam latentes desde então, razão pela qual analistas não veem uma solução para resolver logo o conflito.
A ONU criticou nesta sexta-feira o "uso excessivo da força" por parte do governo da Venezuela para desbaratar os "protestos pacíficos" em Caracas, e afirmou ter recebido denúncias sobre a falta de informação do paradeiro de manifestantes detidos.
"Condenamos de maneira inequívoca toda violência, de todas as partes, na Venezuela, mas estamos particularmente preocupados com os relatos sobre o uso excessivo da força pelas autoridades em resposta às manifestações", disse em Genebra um porta-voz do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos.
A ONU reiterou seu pedido ao governo para que "garanta que as pessoas não serão penalizadas por exercer seu direito de se reunir de forma pacífica e à liberdade de expressão". A condenação da ONU se soma às da Anistia Internacional e da Human Rights Watch.
Apesar de haver admitido "excessos" policiais na repressão aos violentos protestos, o governo negou veementemente que na Venezuela se violem os direitos humanos.