Nicolás Maduro, presidente da Venezuela (Gabriela Oraa/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 27 de março de 2024 às 17h49.
Última atualização em 27 de março de 2024 às 18h06.
Abrigados desde segunda-feira na embaixada da Argentina em Caracas, os seis opositores do governo de Nicolás Maduro agradeceram publicamente nesta quarta-feira a gestão de Javier Milei por tê-los recebido. Na terça, a administração argentina denunciou um corte no fornecimento de energia à embaixada – incidente que alimentou a tensão já crescente entre a Venezuela e o governo de Milei.
“Nossa gratidão ao governo da Argentina e suas instituições por sua proteção e solidariedade democrática nestas horas de perseguição na Venezuela”, escreveu Pedro Urruchurtu Noselli, um dos refugiados na sede diplomática, no X (antigo Twitter). Aos 33 anos, Noselli é o responsável pelas relações internacionais do partido Vem Venezuela, impedido até ontem de participar das eleições do próximo dia 28 de julho, nas quais Maduro buscará sua reeleição.
Segundo a imprensa argentina, citando fontes da Chancelaria e da Casa Rosada, os dirigentes oposicionistas Magallí Meda, Claudia Macero, Humberto Villalobos, Pedro Urruchurtu e Omar González estão na representação diplomática do país (um sexto nome permanece sem identificação). Todos têm contra si ordens de prisão por “ações violentas”, “terrorismo” e “desestabilização” do país.
Em comunicado emitido nesta terça, o governo de Milei afirma que o corte ocorreu na segunda-feira, sem qualquer aviso prévio ou explicação, e “alerta o governo da Venezuela contra qualquer ação deliberada que ponha em perigo a segurança do pessoal diplomático argentino e dos cidadãos venezuelanos sob proteção”. Fontes do Ministério das Relações Exteriores da Argentina afirmaram que eles permanecem sem luz nem água, e que os fusíveis de eletricidade também desapareceram.
O governo argentino continua acompanhando a situação dos refugiados, e já negocia um salvo-conduto, conforme previsto pela Convenção de Viena, para que os líderes possam chegar ao país no menor tempo possível. Maduro ainda não comentou o caso, embora fontes próximas ao chavismo insinuem que o presidente venezuelano atenderá ao pedido e permitirá que os asilados na embaixada saiam do país.
"Maduro não quer mais problemas. Se quiserem ir, que o façam. Eles estão fazendo teatro porque sabem que, com qualquer candidato, perdem as eleições", disseram fontes próximas ao governo venezuelano.
Quanto às reações oficiais, a chanceler argentina Diana Mondino publicou nesta terça-feira que “esta Argentina estará sempre ao lado de todos aqueles que desejarem trabalhar e viver em liberdade”. E em sua coletiva de imprensa diária, o porta-voz Manuel Adorni pediu “eleições democráticas e limpas” na Venezuela, ao mesmo tempo que defendeu uma “solução rápida” para a situação dos asilados.
Maduro classificou nesta terça-feira o partido Vem Venezuela, da líder da oposição, María Corina Machado, como “terrorista”. Favorita nas pesquisas para as eleições do próximo dia 28 de julho, ela foi impedida de concorrer por uma ação judicial. A professora universitária Corina Yoris, que iria substituir a candidatura da líder, também teve sua inscrição vetada pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE).
Na segunda-feira, o presidente venezuelano disse que dois homens armados que planejavam assassiná-lo foram detidos durante o evento de inscrição de sua candidatura em Caracas. O procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, afirmou que os suspeitos eram supostos apoiadores do partido de María Corina e que eles serão acusados de tentativa de homicídio contra Nicolás Maduro.
"Estão me perseguindo para tentar atentar contra minha vida, como foi demonstrado ontem com a captura dos indivíduos do movimento terrorista chamado Vem Venezuela", disse Maduro numa transmissão na televisão estatal. "Será Vem Terrorista", continuou ele.
O partido da oposição negou as acusações e declarou que elas eram “infundadas”. A sigla afirmou que a ação era “claramente uma nova investida empreendida pelo regime para justificar mais perseguições e detenções contra aqueles que assumiram o direito de exigir as mudanças democráticas que a maioria dos cidadãos pede para o país”.