Ahmad Jarba, chefe do Conselho Nacional Sírio: o chefe da Coalizão Nacional Síria (oposição), Ahmad Jarba, elogiou oficialmente a resolução da ONU, com algumas reservas (Ozan Kose/AFP)
Da Redação
Publicado em 28 de setembro de 2013 às 14h21.
Beirute - A oposição síria perdeu sua margem de manobra no contexto das negociações de paz com o governo em Genebra, após as desavençsa entre os principais grupos rebeldes e uma resolução da ONU abaixo de suas expectativas.
O Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou na noite de sexta-feira, por unanimidade, uma resolução que prevê a destruição do arsenal químico do regime sírio de Bashar al-Assad.
Essa é a primeira resolução adotada pelo máximo órgão da ONU sobre a Síria desde o início do conflito naquele país, em março de 2011, após os vetos de Rússia e China a três projetos precedentes.
Quase de forma simultânea, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, anunciou uma nova conferência de paz sobre a Síria, denominada "Genebra 2", que será realizada em meados de novembro com o objetivo de tentar organizar uma transição política no país mergulhado em uma sangrenta guerra civil.
A resolução do Conselho de Segurança foi aprovada por seus 15 membros, entre eles os cinco permanentes com direito a veto: Estados Unidos, Rússia, China, França e Grã-Bretanha.
Apesar da resolução que tentará dar início a uma transição política na Síria, devastada por 30 meses de conflito, a oposição no exílio sente-se abandonada por seus aliados ocidentais.
Se o chefe da Coalizão Nacional Síria (oposição), Ahmad Jarba, elogiou oficialmente a resolução da ONU, com algumas reservas, muitos de seus membros estão insatisfeitos.
"A resolução do Conselho de Segurança é muito decepcionante", considerou Samir Nachar, opositor histórico ao regime de Bashar al-Assad. "Ela serve aos interesses dos poderes mais regionais e internacionais, incluindo ao regime sírio. Mas, de maneira nenhuma, serve ao povo e à revolução".
Após difíceis negociações russo-americanas, o Conselho de Segurança aprovou a resolução 2118 que obriga o regime a destruir suas armas químicas, mas sem estipular sanções automáticas em caso de descumprimento do texto.
A oposição esperava uma resolução combinada com ameaças de sanções diretas, mas, sobretudo, desejava que os Estados Unidos cumprissem com suas ameaças de ataques contra o regime, suspensas após o acordo russo-americano de 14 de setembro sobre a destruição do arsenal químico de Damasco.
Para Agnes Levallois, especialista em Oriente Médio, "a resolução da ONU veio em detrimento da oposição, que é a grande perdedora. Com essa história de armas químicas, Bashar al-Assad voltou a ser o interlocutor sírio para a comunidade internacional, portanto conseguiu reverter a situação".
A ameaça de ataque americano surgiu em resposta a um ataque com armas químicas em 21 de agosto contra um reduto rebelde perto de Damasco. A oposição esperava que os ataques enfraquecessem Assad.
"A Coalizão não nos representa"
Para Peter Harling, especialista em Síria, a oposição "será ainda mais enfraquecida pelo processo de Genebra, caso sirva para os Estados Unidos e a Rússia pavimentarem o seu acordo político sobre as armas químicas, cujo único objetivo é o de evitar uma guerra que ninguém quer".
Além disso, a oposição, que não foi capaz de obter dos ocidentais apoio material e financeiro para os rebeldes no terreno, foi repudiado por 13 grupos rebeldes, incluindo os jihadistas, que anunciaram esta semana que a Coalizão "não os representam".
Para muitos críticos, a Coalizão está desconectada do sofrimento da população e não apoia o suficiente os rebeldes.
"A Coalizão se afastou do povo sírio, de sua realidade e suas ambições", disse à AFP via Skype Allush Islam, porta-voz do grupo rebelde Liwa al-Islam.
Em um vídeo gravado durante uma reunião da oposição na Jordânia e postado na internet, um comandante rebelde, furioso, acusa os dissidentes que vivem no exterior de abandonar os sírios.
"Quem, dentre vocês, veio nos ajudar? Quem dentre vós, os opositores no exterior, já nos contatou e perguntou o que precisamos? Ninguém! Ninguém!", gritou Yasser Abboud, em Deraa (sul da Síria).
Dado o poder de fogo do regime, os rebeldes não têm armas suficientes e as pessoas que vivem nas áreas libertadas sofrem com a falta de alimentos, devido ao cerco do exército.
Para Agnes Levallois, "há um divórcio entre os sírios de dentro e os de fora. E isso impossibilita qualquer margem de manobra para a oposição" para futuras negociações de paz.
E em caso de negociações, as decisões da oposição "não vão ser aceitas e reconhecidas pela oposição interna, e não terá realidade no terreno. Isto é dramático para a oposição", acrescenta.
O coordenador político do Exército Sírio Livre (ESL), Louai Moqdad, disse à AFP entender o ressentimento dos rebeldes.
"Desde o início, avisamos que abandonar as pessoas que sofrem nas mãos de Assad, enquanto a comunidade internacional olha para o outro lado, levaria as pessoas ao desespero", declarou. "Se a comunidade internacional tivesse cumprido as suas funções, não estaríamos aqui".