Foto divulgada pela oposição mostra rebelde ao lado de tanque do regime destruído em Homs (AFP)
Da Redação
Publicado em 5 de fevereiro de 2012 às 17h36.
Cairo - A oposição da Síria acusou neste sábado o regime de Bashar al-Assad de bombardear a cidade de Homs, onde se denuncia o maior massacre desde o início da repressão, pouco antes de uma importante reunião no Conselho de Segurança da ONU sobre o assunto.
O número de mortes em Homs pela ofensiva militar deste sábado à noite varia segundo as fontes, entre as 147 mencionadas pela Comissão Geral da Revolução Síria até as 260 anunciadas pelo Conselho Nacional Sírio (CNS), quase todas elas no bairro de Khalidiya.
Ativistas na zona relataram à Agência Efe imagens dantescas, como corpos de crianças decapitadas e restos humanos entre os escombros.
Duas testemunhas do incidente, identificados como Abul Ward al-Masri e Abu Bilal al-Homsi, explicaram por telefone que a cidade foi palco de 'uma catástrofe em todo o sentido da palavra' e que ainda buscam resgatar pessoas sob os escombros.
Segundo Homsi, as forças governamentais utilizaram armamento pesado como disparos de morteiro, que procediam de três lugares: a sede dos serviços de inteligência em Homs; o bairro Karam Chemchem, habitado por uma maioria alauíta; e um posto de controle militar estabelecido nos arredores da cidade.
No entanto, o governo sírio desmentiu o massacre e atribuiu essas informações ao interesse da oposição síria em fazer pressão antes da reunião do Conselho de Segurança da ONU, que discute neste sábado um projeto de resolução de condenação à Síria, já vetado, no entanto, por Rússia e China.
A agência oficial de notícias síria 'Sana' negou neste sábado 'o divulgado por algumas emissoras de televisão' sobre o bombardeio em Homs e assinalou que a denúncia faz parte da 'escalada dos grupos armados e do conselho de Istambul (em referência ao CNS) em suas tribunas midiáticas para instrumentalizá-la no Conselho de Segurança'.
Uma fonte oficial anônima citada pela 'Sana' explicou que os corpos mostrados pelas imagens das emissoras árabes como 'Al Jazeera' e 'Al Arabiya' são de homens sequestrados pelos 'grupos terroristas armados', que foram assassinados e posteriormente fotografados como vítimas do suposto bombardeio.
As informações de um lado e de outro, que apresentam enormes contrastes, não puderam ser checadas de maneira independente até o momento, devido ao bloqueio imposto aos jornalistas pelo regime de Damasco.
Este recrudescimento da violência ocorreu horas antes da reunião do Conselho de Segurança em Nova York. Rússia e China vetaram agora há pouco o projeto de resolução. Em declarações feitas em Munique, o ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, exigiu que a resolução do Conselho condenasse também a violência dos combatentes rebeldes.
'A proposta de resolução condena a violência do Exército sírio, mas deve condenar também a violência dos militares rebeldes', declarou Lavrov, que se mostrou crítico com a atuação do Exército Livre Sírio (ELS) - grupo armado insurgente, formado por desertores.
Em declarações à Agência Efe, justamente o 'número 2' do ELS, Malik Kurdi, ameaçou neste sábado atacar interesses russos em território sírio caso Moscou 'continue protegendo o regime de Bashar al-Assad'.
'A ameaça da Rússia de utilizar seu veto no Conselho de Segurança contra qualquer resolução que condene a Síria deu a legitimidade às autoridades sírias para cometer este ato, como se Moscou tivesse dito ao regime: 'Faça o que quiser, damos nosso apoio'', criticou o coronel desertor.
As informações sobre os bombardeios a Homs levaram centenas de sírios às ruas de diversas capitais internacionais, onde expressaram suas críticas ante as embaixadas de seu país.
No Cairo, cerca de 100 pessoas invadiram o prédio da legação diplomática síria, segundo um ativista presente. Os manifestantes incendiaram o térreo do edifício.
O ativista opositor, que se identificou como Abu Ahmed Tartusi, afirmou à Efe que os serviços de segurança egípcios intervieram e prenderam 13 dos invasores, entre eles uma mulher, que foram apresentados ao tribunal de Abdin, no centro do Cairo.
A agência de notícias 'Sana' informou em nota que os manifestantes destruíram materiais da legação durante a invasão, e queimaram e sabotaram os dois primeiros andares do prédio.
Em Londres, cinco homens foram detidos em Londres após invadirem a embaixada síria, onde cerca de 150 manifestantes se congregaram para protestar contra a repressão do regime de Damasco sobre Homs.
Protestos similares foram registrados em outras capitais ocidentais, como Washington e Berlim.