Mundo

Oposição no Egito é desigual; ElBaradei surge como símbolo

Manifestação contra Mubarak incluí líderes de esquerda, jovens e a Irmandade Muçulmana; Nobel da Paz tenta unificar a oposição

Mohamed ElBaradei chega ao Cairo para participar dos protestos da oposição ao governo (Peter Macdiarmid/Getty Images)

Mohamed ElBaradei chega ao Cairo para participar dos protestos da oposição ao governo (Peter Macdiarmid/Getty Images)

DR

Da Redação

Publicado em 31 de janeiro de 2011 às 17h17.

Cairo - O prêmio Nobel da Paz Mohamed El Baradei surge como figura emblemática da revolta contra o presidente egípcio Hosni Mubarak, mas se apoia numa coalizão díspar que vai da oposição leiga à Irmandade Muçulmana, contando também com uma legião de internautas.

O ex-diplomata fez uma aparição notável, mas um pouco confusa, na noite de domingo no centro do Cairo, ante centenas de manifestantes que se amontoavam para ouvir o discurso dirigido, desta vez, a leigos e islâmicos.

O movimento de contestação sem precedentes contra o regime do presidente Hosni Mubarak, formado por antigos esquerdistas e militantes pró-democracia, reúne perfis diversos da sociedade egípcia, com uma forte presença da Irmandade Muçulmana.

"Eles organizam tudo, preparam comida para os manifestantes, distribuem água, limpam o bairro", elogiou Said Khalil.

"Aqui, você verá extremistas, moderados, cristãos, muçulmanos, todo o tipo de gente. É a primeira vez que todos nós estamos unidos desde a revolução de Saad Zaghloul", declarou Naguib, um outro manifestante, referindo-se ao líder da contestação de 1919 contra o poder colonial britânico.

"Na televisão americana, eles não param de dizer que se Mubarak deixar o poder será a Irmandade Muçulmana que vai assumir o controle. Mas, se não for o caso, o povo vai se unir por seus direitos", acrescentou Tamer, um manifestante anglo-egípcio.

Para Tewfik Aclimandos, especialista em Egito no Collège de France, El Baradei "não tem liderança própria, isto pode ser às vezes seu ponto forte ou seu ponto fraco. Ele não é refém de ninguém, mas também não pode inverter uma relação de poder sozinho".

Ainda, "não possui nenhum compromisso com o regime que integra", acrescentou.

Em meio ao levante popular na Tunísia, o Movimento Juvenil 6 de abril, um fórum de internautas que reivindica há quase três anos reformas democráticas, lançou na semana passada um apelo à manifestações no site de relacionamentos Facebook.

Mohamed El Baradei, ex-chefe da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e prêmio Nobel em 2005, construiu laços estreitos com esses jovens militantes, operando como eles na web, a fim de conseguir apoio para a causa.

Por não fazer parte de nenhum partido de oposição reconhecido, ele se aproximou também da Irmandade Muçulmana, primeira força de oposição, banida, mas tolerada, que reivindica mudança de regime e garante que respeitará a democracia.

A irmandade e outros grupos de oposição intimaram neste fim de semana Mohamed El Baradei a "negociar com o poder" com a finalidade de encontrar uma saída para a crise no Egito, confirmando o papel-chave deste ex-diplomata, de 68 anos, nas próximas semanas.

"Como na Tunísia, os manifestantes parecem representar um vasto movimento sem liderança, sem cronograma claro e nenhuma solução para a tomada do poder. Até o presente, a contestação se apoia firmemente na classe média", notou Jon Alterman, do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), em Washington.

"É possível que o radicalismo leve ao caos ou que grupos radicais incluídos em uma coalizão assumam o controle do governo", completou, precisando que as decisões importantes seriam tomadas ao longo dos "próximos seis a doze meses", se diferentes grupos tentarem "se aproveitar das oportunidades criadas pelas mudanças".

Acompanhe tudo sobre:ÁfricaEgitoPolíticaPolítica no BrasilProtestos

Mais de Mundo

Argentina registra décimo mês consecutivo de superávit primário em outubro

Biden e Xi participam da cúpula da Apec em meio à expectativa pela nova era Trump

Scholz fala com Putin após 2 anos e pede que negocie para acabar com a guerra

Zelensky diz que a guerra na Ucrânia 'terminará mais cedo' com Trump na Presidência dos EUA