Mundo

Oposição na Venezuela faz série de protestos para tentar impedir posse de Maduro

Governo também convocou manifestações e acusa rivais políticos de serem terroristas

Protestos contra Nicolás Maduro em Caracas, nesta quinta, 9 (Federico Parra/AFP)

Protestos contra Nicolás Maduro em Caracas, nesta quinta, 9 (Federico Parra/AFP)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 9 de janeiro de 2025 às 12h36.

Última atualização em 9 de janeiro de 2025 às 14h38.

A oposição volta às ruas da Venezuela nesta quinta-feira, 9, para marchar contra a posse do presidente Nicolás Maduro, em um dia de grande tensão. O governo também convocou manifestações em defesa de Maduro, e diversos opositores foram levados ou desapareceram nos últimos dias.

Os atos nas ruas começaram por volta das 10h na hora local (11h em Brasília). Postagens em redes sociais e reportagens de meios venezuelanos registram manifestações em Caracas, Barinos e Puerto Ordaz.

Há quatro pontos de encontro na capital e o chavismo instalou palanques em pelo menos duas delas para sua manifestação, segundo a AFP.

Por questões de segurança, María Corina Machado, líder da oposição, não revelou de qual delas sairá. "Eu não perderia esse dia histórico por nada no mundo", disse ela, em entrevista coletiva.

Os protestos da oposição desafiam o medo que se instalou em julho após uma repressão brutal às manifestações que eclodiram depois do anúncio da posse do líder esquerdista, deixando 28 mortos, quase 200 feridos e mais de 2,4 mil presos.

O chavismo também montou plataformas em diversas avenidas da capital para reunir seus militantes, que responderam ao chamado em defesa de Maduro, que também contará com cerca de 1.200 representantes de 100 países que participarão do 'Grande Congresso Internacional Antifascista', segundo fontes oficiais ouvidas pela agência EFE.

Entre terça e quarta-feira foi montado um acampamento que reuniu 10.500 pescadores, agricultores e líderes comunitários que chegaram de todo o país, também em apoio ao presidente, antes da posse, segundo afirmou à emissora “VTV” o ministro de Agricultura e Terras, Menry Fernandez.

A convocação para a marcha chavista foi anunciada um dia depois de a líder opositora María Corina Machado ter pedido que "todos" saíssem às ruas da Venezuela e do mundo nesta quinta-feira para reivindicar o que ela afirma ser a vitória nas eleições presidenciais do líder opositor Edmundo González Urrutia, que promete retornar ao país apesar de ser alvo de um mandado de prisão.

Para o dia 10 de janeiro, o chavismo também convocou uma série de marchas e outras atividades para “encher” uma dezena de avenidas em Caracas e nos estados de Zulia, Táchira, Apure e Amazonas, todos na fronteira com a Colômbia, assim como na região insular de Nueva Esparta.

Posse de Maduro

Maduro tomará posse de seu terceiro mandato na sexta-feira, 10. Ele teve sua vitória contestada dentro e fora do país, pois o Conselho Nacional Eleitoral não apresentou os resultados detalhados de votação por sessão. Disse apenas que Maduro teve 51,2% dos votos, ante 44,2% de Edmundo González.

A oposição cobrou a liberação das atas de cada sessão eleitoral e fez um esforço para reunir os documentos. Conseguiu obter os registros de 79% das urnas do país, que foram depois analisadas pela agência americana Associated Press, especializada em dados eleitorais dos Estados Unidos. A agência apontou que González teria obtido 6,4 milhões de votos, ante 5,3 milhões de Maduro. O governo diz que esses dados são falsos e processou o candidato da oposição.

A cerimônia de posse presidencial está marcada para sexta-feira, 10 de janeiro, ao meio-dia (13h em Brasília), no Parlamento, controlado pelo chavismo. González, que pediu asilo na Espanha em 8 de setembro após uma ordem de prisão, disse que quer retornar à Venezuela para assumir o poder.

Ele está em uma viagem que o levou à Argentina, Uruguai e Estados Unidos, onde se encontrou com o presidente Joe Biden e representantes de seu futuro sucessor, Donald Trump. Depois, foi ao Panamá, onde entregou à polícia as atas emitidas pelas urnas para comprovar a vitória da oposição, que o chavismo considera falsas.

Analistas apontam que as chances de González conseguir tomar posse são pequenas, pois Maduro possui forte apoio dos militares. A oposição tem tentado convencer os soldados e policiais a aderirem, mas os principais comandantes das Forças Armadas repetiram que seguem leais ao atual presidente

Funcionário do FBI preso

Maduro, no poder desde 2013, anunciou um "plano de defesa" com o envio maciço de forças militares e policiais. O centro de Caracas, onde estão localizados o palácio presidencial e a maioria das sedes do poder público, está ocupado desde a semana passada por centenas de agentes de segurança fortemente armados.

O governo, que frequentemente denuncia os planos dos Estados Unidos e da Colômbia de derrubar Maduro, anunciou a prisão de sete "mercenários", incluindo dois americanos: "um funcionário de alto escalão do FBI" e "uma autoridade militar". "Eles vieram para realizar ações terroristas contra a paz", disse o presidente em ato oficial.

Uma onda de relatos de prisões foi registrada desde terça-feira à noite, com pelo menos dez prisões.

Entre os detidos estão Carlos Correa, conhecido ativista dedicado à defesa da liberdade de expressão, e Enrique Márquez, candidato da oposição minoritária nas eleições presidenciais que contestou sem sucesso perante o tribunal superior a certificação da reeleição de Maduro.

Antes, foi levado genro de González Urrutia, Rafael Tudares, que estava com os filhos quando foi preso por homens encapuzados.

O ministro do Interior, Diosdado Cabello, vinculou Márquez e Tudares ao suposto agente do FBI e a um plano de golpe de Estado.

"Rafael não está direta ou indiretamente vinculado a atos políticos", disse sua esposa, Mariana González, filha de González Urrutia, em um comunicado nesta quinta-feira.  "É uma medida de retaliação política contra meu pai".

O papa Francisco mencionou a "grave crise política" na Venezuela e pediu "negociações de boa fé".

González na República Dominicana

González está em uma viagem que o levou à Argentina, Uruguai e Estados Unidos, onde se encontrou com o presidente Joe Biden e representantes de seu sucessor, Donald Trump. Depois, foi ao Panamá, onde entregou à polícia as atas emitidas pelas urnas para comprovar a vitória da oposição, que o chavismo considera falsas.

"Essas atas são minha verdadeira bandeira tricolor presidencial", disse o candidato da oposição na Cidade do Panamá.

A última parada é a República Dominicana, onde ele planeja se encontrar com o presidente Luis Abinader, antes de avaliar a possibilidade de um voo de uma hora para Caracas. Segundo Cabello, González poderia tentar tomar posse em uma embaixada venezuelana no exterior.

As autoridades venezuelanas — que oferecem US$ 100 mil (R$ 613 mil) por sua prisão — já alertaram que, se ele chegar ao país, "será preso imediatamente" e seus companheiros internacionais serão tratados como "invasores".

Com AFP e EFE.

Acompanhe tudo sobre:VenezuelaNicolás Maduro

Mais de Mundo

Primeira privatização de Milei: IMPSA é vendida para empresa dos EUA por R$ 164 milhões

Novo foco de incêndio na Califórnia se aproxima de letreiro de Hollywood

Advogados do ex-presidente sul-coreano voltam a pedir anulação do mandado de prisão

“Estou morrendo”, diz Mujica ao anunciar que não tratará mais o câncer