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Oposição húngara faz mobilização sem precedentes contra Orban

Partidos de esquerda e ecológicos, assim como por movimentos da sociedade civil, protestam contra a nova Constituição húngara, que, segundo eles, viola a democracia

Manifestante protesta contra o governo do "ditador Viktor Orban", conforme afirma sua faixa (Attila Kisbenedek/AFP)

Manifestante protesta contra o governo do "ditador Viktor Orban", conforme afirma sua faixa (Attila Kisbenedek/AFP)

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Da Redação

Publicado em 3 de janeiro de 2012 às 19h10.

Budapeste - Milhares de pessoas - 100 mil segundo os organizadores, 70.000 segundo os observadores - manifestaram na noite de segunda-feira, em Budapeste, contra o primeiro-ministro conservador, Viktor Orban, em uma mobilização sem precedentes convocada por partidos de esquerda e ecológicos, assim como por movimentos da sociedade civil.

Até agora, os chamados para manifestações contra o governo só havia atraído algumas centenas de pessoas, mas, desta vez, milhares de cidadãos saíram às ruas para protestar contra a nova Constituição húngara, que, segundo eles, viola a democracia.

Num momento em que Orban e seus seguidores celebravam a nova Constituição na Ópera de Budapeste, os manifestantes se reuniram junto ao prédio para protestar.

"Viktor Orban e seus seguidores fizeram a Hungria passar de um lugar promissor ao lugar mais sombrio da Europa", comentou, no começo da manifestação, o deputado socialista Tibor Szanyi, que pediu à população para "se livrar da ditadura de Orban".

A nova Constituição, adotada em abril com a maioria de dois terços que o partido Fidesz de Orban tem no Parlamento, despertou críticas da União Europeia e dos Estados Unidos, assim como da Anistia Internacional e inúmeras outras organizações não-governamentais.

Para os detratores do texto, a nova Carta Magna limita os poderes da Corte Constitucional, ameaça o pluralismo da imprensa e põe fim à independência da justiça.

Na nova Carta, o termo "República da Hungria" desaparece para mencionar, apenas, "Hungria" e faz, pela primeira vez, uma referência religiosa explícita: "Deus abençoe os húngaros".


Guy Vergofstadt, ex-primeiro-ministro belga e presidente dos Liberais, no Parlamento Europeu, considerou a nova Constituição o "cavalo de Troia de um sistema político mais autoritário fundamentado na perpetuação do poder de um único partido.

A isto se soma à nomeação, para todos os postos de responsabilidade do aparato de Estado, de pessoas próximas a Orban, vários com mandatos de nove a 12 anos.

Qualquer futuro governo de outra orientação política terá, em consequência, que enfrentar um Estado hostil, nas mãos do partido Fidesz.

No âmbito político, a Constituição torna "retroativos os crimes cometidos até 1989, na era comunista", envolvendo dirigentes do atual Partido Socialista (ex-Comunista).

Nos aspectos religiosos, a Constituição reduz de aproximadamente 300 a apenas 14 as comunidades que vão se beneficiar de subvenções públicas.

Outro ponto polêmico é o que decreta o embrião como ser humano desde a concepção, tornando a luta pela legalização do aborto muito mais difícil.

A Constituição também estipula que o matrimônio só pode ser interpretado como a união entre o homem e a mulher, excluindo qualquer possibilidade de reconhecimento de casamentos homossexuais.

A nova Carta Magna prevê, ainda, a aposentadoria de jornalistas que se mostrarem muito críticos, apesar de uma greve de fome de vários profissionais, em protesto. A única rádio opositora, Klubradio, perdeu a frequência, ficando fora do ar.

Tudo isto acontece num contexto de política econômica "não ortodoxa" que fez desabar a moeda húngara, o florim, em mais de 20% em relação ao euro nos últimos três meses.

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