Macron: decisão de ataque foi questionada tanto por partidos de direita quanto de esquerda (Etienne Laurent/Reuters)
EFE
Publicado em 16 de abril de 2018 às 16h23.
Última atualização em 16 de abril de 2018 às 18h41.
A oposição da França, desde a extrema-esquerda até a centro-direita, criticou nesta segunda-feira no parlamento o presidente do país, Emmanuel Macron, por ter agido sem o aval da ONU durante os bombardeios seletivos contra instalações químicas na Síria.
Em um debate no Legislativo francês, no qual não houve votação, o governo do país e seus aliados defenderam a intervenção da França na madrugada de sábado, quando atacaram posições sírias junto com Estados Unidos e Reino Unido.
Os centro-direitistas dos Republicanos, o principal partido opositor, avisaram Macron que ele "ultrapassou uma linha vermelha" ao agir sem o aval do Conselho de Segurança da ONU, onde a Rússia de Vladimir Putin apresentou vários vetos para evitar represálias contra a Síria de Bashar al Assad, aliada de Moscou.
"Alinhando-nos às posições americanas, renunciamos à singularidade da França (...). Ao decidir sem o mandato da ONU por uma intervenção na Síria, (Emmanuel Macron) ultrapassou uma linha vermelha", reprovou o deputado centro-direitista Christian Jacob.
O político lembrou que a França se posicionou contra os ataques ao Iraque em 2003 sob o mandato do centro-direitista Jacques Chirac e frisou que "sem a Rússia" não haverá uma solução duradoura na Síria.
"Acabar com um ditador (Bashar al Assad) não quer dizer que será formada uma democracia (...). Em 2003, no Iraque, a não intervenção representou uma expressão de independência de nosso país", afirmou Jacob, que lamentou que não houvesse um debate na Assembleia anterior ao ataque, pois Macron optou por aprovar o bombardeio amparado no artigo 35º da Constituição francesa.
Enquanto as forças majoritárias na Assembleia - o partido de Macron, A Republica Em Marcha! (LREM, na sigla em francês), e o seu principal sócio de coalizão, o centrista Movimento Democrático (MoDem) - justificaram a atuação do exército francês, a esquerda se mostrou dividida na intensidade das críticas contra Macron.
O grupo da Nova Esquerda, que agrupa os deputados do Partido Socialista (PS), lamentou que o ataque da França fosse realizado sem o sinal verde dos outros países da UE e condicionaram seu apoio à operação a que a França propusesse uma mudança do sistema de veto na ONU quando forem discutidas situações de crimes contra a humanidade como os supostamente cometidos por Assad.
O líder do França Insubmissa, o esquerdista Jean-Luc Mélenchon, foi mais incisivo que os socialistas e garantiu que o ataque no "vespeiro" sírio foi precipitado, pois ainda não está comprovado o uso de armas químicas por parte do regime sírio.
"Atacamos enquanto a Organização para a Proibição de Armas Químicas estava investigando. Além disso, o fizemos sem o mandato da ONU (...) e sem aliados na UE", reprovou Mélenchon, que insinuou que os interesses econômicos estão por trás da operação.
Já no grupo do Partido Comunista Francês (PCF), o deputado Jean-Paul Lecoq também condenou o que considera "uma guerra preventiva" que evoca "as piores aventuras militares no Iraque e na Líbia".
O grande ausente deste debate foi o partido de extrema-direita Frente Nacional (FN), de Marine Le Pen, que não teve direito a debater pois, nesta sessão, apenas os grupos parlamentares poderiam fazê-lo, e para isso são necessários 15 legisladores no mínimo, mas a FN tem apenas oito deputados e não conseguiu fazer alianças com outras legendas.
No entanto, Marine Le Pen já tinha deixado clara a sua oposição ao ataque francês à Síria em um vídeo exibido na sexta-feira, pouco antes do bombardeio.
De parte do governo francês, o primeiro-ministro, Édouard Philippe, seguiu na mesma linha de Macron e esclareceu que os bombardeios de sexta-feira "não são o prelúdio de uma guerra".
"Não entramos em guerra contra a Síria ou contra o regime de Bashar al Assad (...), mas nenhuma solução política será alcançada se o uso de armas químicas ficar impune", condenou Philippe, que defendeu que "os ataques seletivos" da madrugada de sábado foram desenvolvidos para evitar "uma escalada" de violência.