Alain Juppé: "se todas as precauções fossem tomadas, a tragédia não teria acontecido", disse o ex-primeiro-ministro (Martin Bureau/AFP)
Da Redação
Publicado em 15 de julho de 2016 às 21h48.
"O espírito de 11 de janeiro" de 2015, que viu a classe política francesa se unir após os primeiros atentados extremistas, teve uma reviravolta: imediatamente após o ataque mortal em Nice, a oposição de direita acusa o governo socialista de ineficácia na luta antiterrorista.
Em janeiro de 2015, uma primeira série de ataques ao longo de três dias, com 17 mortos no total, levou a uma certa união da classe política, tão atordoada quanto o resto da sociedade por esses ataques extremistas cometidos por jovens franceses contra o semanário Charlie Hebdo, um policial e clientes de um supermercado kosher (de produtos judaicos).
Dez meses mais tarde, as primeiras críticas da oposição de direita vieram à tona após os ataques de 13 de novembro em Paris contra cafés, a casa de shows Bataclan e o Stade de France (130 mortos), questionando o governo sobre o que foi feito de concreto desde o primeiro ataque contra o país.
Após o ataque em Nice contra famílias e turistas, no feriado nacional francês, que deixou pelo menos 84 mortos, as críticas vieram rápido, poucas horas depois.
"Não estou tentando acusar ninguém" mas "se todas as precauções fossem tomadas, a tragédia não teria acontecido", disse o ex-Primeiro-ministro e antigo ministro da defesa e relações exteriores, Alain Juppé, na liderança das pesquisas para representar a oposição de direta nas eleições presidenciais de 2017.
"Claro que para fazer mais, fazer melhor. Principalmente no que concerne nosso serviço de inteligência", acrescentou.
"Quando estamos em guerra, protegemos o território nacional", disse um de seus rivais no partido de direita Les Républicains, François Fillon, também ex-Primeiro-ministro.
"Uma campanha presidencial não vale para dividir um país", respondeu nessa sexta-feira à noite o Primeiro-ministro socialista Manuel Valls, criticando "aqueles que buscam bodes expiatórios".
As dúvidas aumentam cada vez mais sobre a ineficácia do estado de emergência decretado em novembro, prorrogado por três meses pelo presidente socialista François Hollande após o tragédia desta quinta-feira.
O estado de exceção facilita principalmente as operações de buscas e revista das forças de ordem nas residências.
'Certezas' e 'excessos'
Enfrentando as críticas, o presidente François Hollande, que luta com o alto nível de impopularidade na França e ainda não disse se vai ou não ser candidato na eleição de 2017, pediu "unidade" e "coesão".
"É meu papel, é minha responsabilidade não me afastar da responsabilidade que assumi em nome dos franceses de protegê-los, de não me rebaixar para qualquer excesso, quando é preciso responder, e responder somente aos desafios com o qual fomos confrontados e usando todos os meios necessários", declarou o presidente, que visitou feridos em Nice.
Ignorando as medidas tomadas há 18 meses, como reforço do efetivo policial e da inteligência, maiores poderes de investigação para a polícia e a abertura em breve de um centro de 'desradicalização' jihadista, vários políticos de direita criticaram a "impotência" do executivo.
"Temos um executivo que se sustenta sobre certezas que não existem, que não veem uma outra realidade", criticou o deputado Georges Fenech, presidente da comissão parlamentar de investigação sobre os atentados de 2015.
Do lado da extrema-direita, terceira grande força política do país, a presidente do partido Frente Nacional, Marine Le Pen, tida como ganhadora do primeiro turno da próxima eleição presidencial, também se levantou contra a política seguida pelo governo.
"A guerra contra o flagelo do fundamentalismo islâmico ainda não foi lançada, e é urgente que agora seja declarada", disse Le Pen.
Agir sim, mas não se sabe como. Muitos, como o centrista François Bayrou, apoiam a ideia da comissão de investigação sobre os atentados de criar um estrutura única e uma melhor coordenação dos sistemas de inteligência.