Manifestação contra o Reagrupamento Nacional em Nantes em 10 de junho de 2024 (AFP/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 14 de junho de 2024 às 09h53.
Última atualização em 14 de junho de 2024 às 10h02.
A oposição de esquerda na França apresentou, nesta sexta-feira, 14, o "programa de governo" e de "ruptura" da Nova Frente Popular, com a qual espera frustrar uma vitória da extrema direita em uma posição de força nas eleições legislativas antecipadas.
A esquerda francesa promete uma "ruptura total com as políticas de Emmanuel Macron" se vencer as eleições, disse o deputado de esquerda Manuel Bompard nesta sexta-feira. "Será a extrema direita ou seremos nós", acrescentou a ambientalista Marine Tondolier.
Socialistas, ambientalistas, comunistas e A França Insubmissa (LFI, esquerda radical) chegaram ao pacto final na noite de quinta-feira para concorrer juntos, com outros pequenos partidos como o Praça Pública, liderado pela nova estrela social-democrata Raphaël Glucksmann.
O novo programa de 100 medidas compromete-se a aumentar o salário mínimo, a revogar as controversas reformas previdenciária e migratória do presidente centrista, denuncia a "guerra de agressão" da Rússia na Ucrânia e os "massacres terroristas" do Hamas em Israel, entre outros.
Tecer um acordo não parecia fácil, principalmente quando a última coalizão nas eleições legislativas de 2022, chamada Nupes, acabou por se desfazer devido a divergências entre os social-democratas e a ala mais radical, liderada pelo líder esquerdista Jean-Luc Mélenchon.
Mas o medo de ver o partido de extrema direita Reagrupamento Nacional (RN) chegar ao poder forçou-os a superar as suas diferenças, apesar da pressão do partido no poder, que criticou o acordo dos social-democratas com o LFI, um partido que Macron descreveu como "antissemita".
"A única coisa que me importa é que o RN não ganhe as eleições legislativas e não governe este país", disse Glucksmann à rádio France Inter, para quem a "única forma" de consegui-lo é "uma união da esquerda" nas eleições de 30 de junho e 7 de julho.
A coalizão assume assim o nome de outra aliança formada na França em 1936, cuja vitória nas eleições levou o socialista Léon Blum a liderar o governo francês em um contexto na Europa de ascensão da Alemanha nazista de Adolf Hitler.
Sobre quem poderá ser o futuro primeiro-ministro da coalizão, o social-democrata descartou Mélenchon – apelidado de "Chávez francês" pelo ministro da Economia, Bruno Le Maire – já que deverá ser uma figura de "consenso" para todos.
O ex-presidente socialista François Hollande, uma das vozes mais críticas da última coalizão de esquerda, também se disse "favorável" à Nova Frente Popular, e lamentou que a antecipação das eleições ocorra "no pior momento e nas piores circunstâncias".
No que diz respeito à Nupes, o resultado das eleições europeias, em que os socialistas ultrapassaram a LFI nos votos, significou também um reequilíbrio de forças dentro da aliança, pelo que a esquerda radical cedeu uma centena de círculos eleitorais aos seus aliados.
Macron, que continuará como presidente até 2027, desencadeou um terremoto político na França com a inesperada antecipação das eleições legislativas, portanto poderá ter que compartilhar o poder com um governo de outra ideologia política em uma "coabitação".
Uma pesquisa recente da Elabe coloca o RN na liderança com 31% das intenções de voto, seguido pela frente de esquerdas com 28% e a aliança centrista de Macron com 18%, confirmando um reequilíbrio dos três blocos que emergiram das eleições legislativas de 2022.